POV Elisa
— O que lhe pareceu isso senhorita Sommer? _ Observei enquanto o professor Muller passava os olhos uma e outra vez pelas anotações que eu tinha feito as pressas sobre a primeira sessão do Noah Collins antes de sair de casa. Na verdade não tinha sobrado muito tempo para repassar tudo o que tinha acontecido. Não que o que tinha acontecido fosse grande coisa tendo em conta o fiasco que havia sido esse primeiro dia. Obviamente eu não tinha mencionado nada disso no relatório.
Não mesmo.
Segui jogando com a tampa da caneta enquanto o senhor Muller franzia a testa antes de iniciar cada frase do meu desastroso relato. Não tinha a menor idéia de como eu tinha conseguido escrever duas páginas sobre aquela fracassada primeira sessão. Pra mim estava bastante claro que não havia conteúdo algum naquelas duas folhas de papel, e pelo visto o professor Muller pensava a mesma coisa.
Quando Muller finalmente decidiu começar a rabiscar minhas anotações sinalizando aqui e ali com sua caneta vermelha os pontos onde eu deveria obviamente trabalhar mais, me permiti pensar naquela manhã e no que tinha acontecido. Obviamente Noah estava preso em um estágio de negação. Pelo histórico que eu tinha lido e pelo relato da família, Noah tinha um vínculo tão forte com a namorada que eles não conseguiam imaginar como seria agora que a tinha perdido.
Fiquei pensando se eu realmente era a pessoa indicada para esse caso. Quer dizer, eu nunca acreditei nesse tipo de conexão. Me preocupava que eu pudesse chegar a pensar um dia que eu sou a metade de outra pessoa, que não estou completa, que poderia passar a vida toda sendo uma parte de alguém que talvez nunca aparecesse.
Quer dizer, eu tinha um namorado. Marcos e eu estávamos juntos há 3 anos, mas éramos tão independentes um do outro, com nossas coisas e nossas vidas, que nunca parei pra pensar o que faria se algum dia ele não estivesse do meu lado.
Me sobressaltei quando o professor Muller colocou as folhas na mesa à minha frente e pigarreou, como sempre fazia quando se sentia incômodo.
— Senhorita Sommer, eu realmente acho que não expliquei direito meu objetivo quando te dei esse caso. _ Os olhos dele se estreitaram enquanto ele apontava frases aleatórias na primeira folha a minha frente. — Eu não te dei esse caso porque achei que fosse fácil senhorita Sommer, eu te dei esse caso porque sei que você pode lidar com isso. _ Aguardei em silêncio. Não era novidade o fato de eu ser uma das melhores alunas da turma, mas me surpreendia um pouco a convicção que via nos olhos dele. — Te espero na próxima semana no mesmo horário. _ Se levantou guardando seus livros, cadernos e canetas na pastinha de couro que levava sempre pendurada em um dos ombros. —E dessa vez _ Disse parando na porta ainda sustentando meu olhar.— Eu esperaria que você realmente tentasse.
Já estava escuro quando deixei a faculdade depois de tirar algumas xérox e saí na noite de inverno de LA. Liguei o rádio enquanto saia do estacionamento buzinando uma e outra vez para estudantes despistados que aparentemente não tinham mais nada pra fazer além de ficar de papo no meio do meu caminho. Something i need do One Republic tocava enquanto eu me acomodava em um transito estranhamente livre. Achei bastante irônico que justo nesse momento Noah Collins tenha tomado conta dos meus pensamentos.
O que o professor Muller queria dizer sobre eu realmente tentar?
Parei na entrada de casa dando-me conta rapidamente que o carro do Marcos estava estacionando do outro lado da rua. Me sentia tão exausta que o simples fato de bancar a namorada atenciosa por mais de 10 minutos me aborrecia. Entrei forçando meu melhor sorriso e fingi estar em êxtase pela comida japonesa que ele havia comprado para jantar comigo e com a mamãe.
— Olá preciosa. _ Forcei um sorriso ainda mais amplo, deixando ele me dar um selinho enquanto eu tentava escapar dos arranhões do senhor Dino na minha canela. — Eu e a sua mãe estávamos conversando justamente sobre como você anda ocupada esses dias.
Limitei-me a manter o sorriso enquanto me afastava e me sentava no sofá. O bom de estar com Marcos era que eu não precisava me preocupar em fazer esse teatro por muito tempo. Não demorou muito pra que ele se desse conta do meu estado de ânimo e eu agradecia infinitamente por ele respeitar isso. Jantamos conversando sobre o restaurante da mamãe e seus clientes mais excêntricos e quando terminamos me despedi, agradecida por finalmente poder tomar um banho e dormir.
Deitada na minha cama, observando as estrelas fosforescentes que brilhavam no teto do meu quarto, pensei no afortunada que era por ter um relacionamento tão descomplicado, fácil e leve. Tinha lido muitos livros, tinha visto muitos filmes e tinha decidido depois disso tudo que preferia outro tipo de gênero, suspense talvez. Sentia pânico só de pensar em ter o coração destroçado por alguém, de ter minha vida entrelaçada a de alguém, de sentir que esse alguém era uma parte de mim.
Eu gostava de me sentir inteira comigo mesma. Esperava jamais conhecer alguém assim. Tantas pessoas no mundo jamais encontraram esse "para sempre" e se sentiam infeliz por isso. Eu sentia que era a pessoa mais sortuda do mundo. Com Marcos tínhamos esse tipo de relação sem desespero, sem ânsia, sem as malditas borboletas no estômago que todo livro de romance clichê insiste em descrever, sem noites de sonos perdidas e esperas ao lado do telefone.
Eu estava bem assim.
Faria o Noah Collins entender que ele também ficaria. E dessa vez, eu tentaria pra valer.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Depois do fim (Degustação)
Romansa*Obra concluída e registrada na Dirección Nacional del derecho de autor em Buenos Aires, Argentina. Expediente: 5276864 * Pré-venda disponível no link: http://editoramaresia.com.br/index.php/produto/pre-venda-depois-do-fim/ "O que você faria se mud...