POV Elisa
Cada passo que eu dava na direção dele me indicava que eu precisava urgentemente de um psiquiatra. Quer dizer, era evidente que estava sofrendo de algum tipo de transtorno gravíssimo que me levaria diretamente à autodestruição. Ficava me lembrando uma e outra vez, repetindo incessantemente para o meu coração suicida o porquê de eu ter conhecido o Noah Collins. Sua namorada, o amor da sua vida, a única garota na face da Terra pela qual ela havia se apaixonado tinha morrido e eu era só um analgésico cujo trabalho tinha sido aliviar a dor que perdê-la lhe havia causado.
Deixei que o ar cálido do aquecedor da casa tranqüilizasse meus pensamentos inoportunos enquanto agradecia a Carmen Collins e a seu marido pelo convite. Evitei deliberadamente demasiado contato com Noah. Sabia que estava sendo infantil, mas agora mesmo eu estava me lixando pra isso.
A família Collins poderia ter sido como minha família se papai não tivesse falecido. O senhor e a senhora Collins eram o tipo de casal que havia enfrentado os obstáculos que a vida impõem juntos desde a adolescência e que agora tinham orgulho de contar como haviam superado, entre trancos e barrancos, cada um deles para chegar onde chegaram. Não tinha sido fácil nem pra eles, nem pros filhos o fato de terem que se mudar tantas vezes durante a vida sem poder criar raízes durante muito tempo, em buscar de uma oportunidade que conseguiram encontrar em Los Angeles quando finalmente a empresa para a qual Michael Collins trabalhava como engenheiro industrial, decidiu que ele poderia ficar.
Jany era o protótipo de mine gênio mais irreverente que eu havia conhecido, eu me via um pouco nela quando tinha sua idade.
E Noah... Nunca havia conhecido ninguém como ele antes . O sorriso dele nunca era simulado, chegava desde seus lábios até os olhos fazendo com que todo mundo risse com ele mesmo sem saber por que. O tom cadente com que ele pronunciava cada palavra era tranqüilizador, reconfortante como se tudo fosse ficar bem, mesmo que o mundo lá fora estivesse em chamas. Não me surpreendia em absoluto que todos quisessem recuperar o Noah que haviam perdido.
Eu estava completamente apaixonada por todas as suas facetas. Admitir isso me fez perder o apetite.
Levantei-me para ajudar a senhora Collins a retirar a mesa, mas ela me fez sentar comentando que em sua família, esse era um trabalho dos homens da casa. Tentei não parecer tão inquieta enquanto via o senhor Collins e Noah caminharem de um lado para o outro levando os pratos, talheres, etc. que estavam sujos para a cozinha.
Quando os dois desapareceram, provavelmente ocupados em colocar as coisas no lava louças, a senhora Collins me encarou, os olhos tão profundamente absurdos em uma explosão de mil cores, como os do filho.
—Obrigada. _ Disse com um carinho que me tomou de surpresa. — Sempre estarei em dívida com você. Talvez você não compreenda porque ainda é muito jovem, porque ainda não é mãe, mas você devolveu mesmo sem saber, uma parte da minha vida. Algo que estou recuperando aos poucos. Sei que é um processo gradativo e vai levar tempo, mas olha pra ele... _ Indicou a cozinha com um gesto de cabeça e voltou a me encarar. — Ficaremos bem e devo muito a você por isso.
Sem palavras. Isso não acontecia com freqüência quando se tratava de mim, mas agora, enquanto a mãe dele me encarava com tanta afeição, me agradecendo por algo que até então eu tinha sérias dúvidas de ter feito, eu não sabia o que dizer. Assim que sorri, porque esse era um sorriso verdadeiro, porque eu realmente me alegrava pelas palavras dela, porque eu não suportaria se Noah não conseguisse seguir adiante.
Quando Noah e seu pai regressaram a sala, estávamos debatendo seriamente sobre a aparência do Channing Tatum enquanto víamos Querido John em um canal de filmes na TV. Jany estava completamente em desacordo sobre Channing ser mais do que perfeito. Imediatamente retirei a coisa toda sobre ela ser mais ou menos parecida comigo quando tinha a sua idade. Quer dizer, quem seria louca de não gostar de um cara daqueles? A senhora Collins nos observava divertindo-se enquanto Jany numerava todos os pontos negativos que deveriam servir, segundo ela, de provas mais que suficientes de que meus parâmetros de beleza estavam totalmente alterados. Revirei os olhos aceitando o chá que o senhor Collins me ofereceu quando ela formulou a pergunta que faria com que eu quisesse desaparecer da face da Terra por tipo, um milhão de anos.
— O que você acha do Noah? Que nota você daria pra ele tendo em conta que Channing Tatum é um óbvio 10 na sua opinião?
Engasguei com o chá, queimando meus lábios enquanto colocava mentalmente a essa pirralha na minha lista negra.
Todos me encararam como se aquele fosse um jogo divertido entre família enquanto eu tentava dissimular minha morte lenta e dolorosa cujos sintomas começaram a ver-se por sentir meu rosto queimar de vergonha.
— Eu uhm...
— Mamãe da pro papai um 10, ainda que ele tenha ganhado uns kilos durante o verão. O papai da a mesma nota pra mamãe, ainda que sua última ida ao salão de beleza tenha feito a sobrancelha dela quase desaparecer. _ A senhora Collins olhou para a filha simulando estar ofendida. Jany continuou. — E você Elisa, que nota daria ao Noah?
Encarei minhas unhas, meus pés, os quadros com fotos de família na parede. Qualquer lugar que me permitisse manter meus olhos longe dele e da família dele.
— Jan deixa nossa visita em paz. _ Michael Collins encarou a filha com um olhar de advertência. — Por que não vai até seu quarto e coloca um daqueles filmes sobre vida marinha que você gosta tanto de ver?
Jany me lançou uma olhar astuto e se despediu, subindo pelas escadas que levavam até o segundo piso de dois em dois degraus.
— Peço desculpas pela minha filha. _ O senhor Collins me olhou parecendo realmente um pouco envergonhado. — Está em fase de crescimento e acha que seus jogos deveriam gostar a todos.
Fiz um gesto de negação tirando a importância do assunto enquanto colocava a caneca com o chá na mesa e olhava a hora. Já passavam das dez da noite. Grande oportunidade para que eu saísse correndo dali antes que aquela pirralha tivesse outra oportunidade de quase me fazer ter um infarto.
A senhora Collins insistiu que eu deveria voltar, que estariam felizes em me receber, que eu já era uma grande amiga da família. Agradeci pelo jantar e pela recepção cálida que tinha recebido e me despedi dos pais de Noah que abandonaram a sala e subiram juntos para o quarto.
— Assim que Channing Tatum? _ Noah estava apoiado na parede, um sorriso preguiçoso dançava em seus lábios, seus olhos brilhantes pareciam achar graça da situação.
— O que há de errado com isso? Ele é bem... Sexy e eu sou uma mulher. Quer dizer, fora a coisa toda da psicóloga... Eu sou só... Bem normal que digamos _ Eu estava meio na defensiva. Arrependi-me imediatamente por ter reagido assim. Que droga estava acontecendo comigo?!
Noah levantou os braços em sinal de rendição e abriu ainda mais aquele sorriso estúpido que fazia meu coração bater a mil por hora.
— Claro que sim, tranqüila! Eu só não achei que esse fosse seu estilo.
— Ah sim? _ Agora eu estava realmente curiosa. — E como seria meu estilo exatamente?
Ele deu de ombros.
— Jamie Dornan talvez?
Senti que meu rosto queimava novamente enquanto algo dentro de mim literalmente explodia. Então ele achava que eu era o tipo de garota sem uma vida sexual emocionante que suspirava por caras tipo Christian Grey? Nem em 100 anos esse tipo de livro estaria na minha estante. Bufei enquanto pegava minha bolsa no sofá e me dirigia à porta. Indignada, era assim que eu me sentia, mesmo que não tivesse a menor idéia de por que isso me importava tanto.
— Hey, eu não quis te ofender! _ Disse me alcançando e meio que caindo na gargalhada. — É só que a maioria das garotas hoje em dia morre de amores por esse tipo de cara.Desculpa, acho que sou tão imaturo quanto a Jany. _ Ele ainda estava morrendo de rir da minha súbita ira infantil quando minha grande boca decidiu terminar de ferrar tudo.
— Um 10. _ Respondi mantendo, sem saber como, meus olhos fixos nos dele. — Eu te daria um 10 Noah Collins.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Depois do fim (Degustação)
Roman d'amour*Obra concluída e registrada na Dirección Nacional del derecho de autor em Buenos Aires, Argentina. Expediente: 5276864 * Pré-venda disponível no link: http://editoramaresia.com.br/index.php/produto/pre-venda-depois-do-fim/ "O que você faria se mud...