Capítulo 3

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Capítulo 3

- Jane, acorda! - Mary gritou e senti água fria a escorrer na minha cara.

- Oh meu deus, isso era necessário?! - Exclamei furiosa com ela.

- Vá lá, tu sabes que tens um sono pesado.

- Eu sei... - Disse e ela tirou o cobertor de cima de mim. - Qual é o motivo da pressa?

- Nós vamos às compras! - Ela exclamou contente.

- Que eu saiba não vamos. - Disse e ela puxou-me para sair da cama.

- Vamos sim. Tu precisas de roupa nova e eu também, especialmente agora que tens encontros com o Harry.

- Eu não tenho encontros com ele. Eu vou à padaria porque gosto dos produtos que vendem lá.

- Sim, gostas definitivamente de um produto específico. - Ela gozou e eu bati-lhe no braço a brincar. - O pequeno-almoço está na cozinha. - Ela disse e saiu do quarto.

* * *

- Não, odeio esse vestido. - Respondi e ela mostrou-me outro vestido. - Não, esse ainda é pior.

- A sério? - Ela perguntou espantada. - Se tu alguma vez aguentares um dia sem dizer não, avisa-me.

- OK, desafio aceite. - Disse e ela sorriu.

- Jane, gostas desta t-shirt? - Ela perguntou enquanto me mostrava uma t-shirt dos Ramones preta.

- Adoro-a! - Respondi tentando soar como uma rapariga histérica.

- Boa, uma já está! Agora só falta um vestido. - Ela disse contente e eu sorri. - Que tal este?

- Nã...sim! Mas prefiro creme do que amarelo. - Respondi e ela trocou o vestido. - Pronto, já acabámos.

- Agora vamos para tua casa preparar-te para o teu encontro. - Mary disse entusiasmada e eu não consegui arruinar a felicidade dela. Apesar de eu não considerar isto um encontro, ela fica feliz por me ajudar.

Entrámos no autocarro e fomos para minha casa. O meu pai estava na cozinha, por isso fomos diretamente para o meu quarto sem fazer barulho.

- Continua sem arranjar emprego? - Mary perguntou preocupada e eu acenei com a cabeça. - Sabes que vai ficar tudo bem, não sabes? Vai chegar um dia em que tudo vai acabar e eles não vão discutir mais.

- Eu sei, mas esse dia parece não existir na minha vida.

- Pode estar mais perto do que tu pensas. - Mary disse e começou a escolher a minha roupa. Eu sei que deveria acreditar no que ela disse, mas parece impossível. Desde pequena que oiço os meus pais a discutir, e isso agravou-se no dia em que o meu pai foi despedido. Parte de mim quer abandonar esta casa e ir viver a minha vida sozinha, sem discussões. A outra parte sabe que vai sentir falta deles apesar de tudo o que já passei. Esse dia está muito longe de acontecer...

* * *

- Mary, vem comigo, por favor. - Implorei e ela acabou por ceder.

- OK, eu vou. Mas fico só dez minutos! - Ela disse e eu dei-lhe um abraço.

- Obrigada. É que eu não sei como agir perto dele.

Entrámos na padaria e os meus olhos procuraram os do Harry. Ele estava no balcão a atender um cliente e sorriu para mim. Eu esperei na fila enquanto a Mary foi escolher uma mesa. O que é que eu lhe devo dizer? Que o acho querido? Não...Que gosto da camisola dele? Talvez... Enquanto eu tentava ter arranjar temas para falar com ele, o cliente à minha frente já tinha ido embora e o Harry estava a observar-me. - Olá. - Disse e ele sorriu.

The boy I used to knowOnde histórias criam vida. Descubra agora