4° - A Despedida

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Uma das coisas mais tristes da vida é dar adeus a alguém, quando você não quer que ele se vá...

Alguns dias depois...

- Mamãe, papai... Eu preciso entender a sua partida, preciso enfrentar a solidão que me sorri... Essa ausência é tão presente em mim, é tão difícil aceitar que vocês não estarão mais aqui...

Chovia como eu não via chover há dias, parecia que o céu estava em sintonia com minha dor, ele estava chorando as lágrimas que eu já não tinha mais. O céu nublado refletia os sentimentos que habitavam dentro de mim, cinza, sem cor, triste e dolorido. Vazio...

O cemitério estava silencioso, o único barulho provinha da água que batia nos guarda-chuvas e respingava em nossos sapatos.

Muitas pessoas estavam ali para prestar as últimas homenagens aos seus queridos amigos. Alguns deixaram mensagens emocionadas. Kate e Gabriel não se afastaram de mim nenhum momento, sempre ao meu lado me dando apoio emocional.

Meus olhos procuraram Vinicius, ele estava um pouco mais a frente. Vestia um sobretudo negro e mantinha os olhos perdidos em um ponto que apenas ele enxergava. Desde aquele episódio na casa da piscina que ele vinha me evitando, mantendo-se distante, até mesmo naquele momento. Foi o melhor para nós dois, só lamentei o fato de ter perdido o amigo. E naquele momento mais do que nunca desejava o carinho dele, queria os seus braços protetores me envolvendo e sua voz dizendo que tudo ficaria bem, naquele momento eu queria ser novamente a garotinha de cinco anos que ia dormir ouvindo a história da Branca de Neve e os Sete Anões, mas o tempo era implacável e ele nunca voltaria atrás, ele apenas desliza para frente.... Em frente sempre...

Meu pai não era religioso e embora mamãe fosse filha de tibetanos ela nunca frequentou nenhum templo budista, mas eu sabia do orgulho que ela tinha da sua ascendência, por esse motivo convidei um monge budista para que realizasse alguns rituais.

- Tudo é mutável, tudo aparece e desaparece; só pode haver a bem-aventurada paz quando se puder escapar da agonia da vida e da morte.

Eu não entendia o significado daquelas palavras, talvez a minha mente entorpecida não tivesse filtrado os seus verdadeiros significados, mas mesmo assim elas me emocionaram.

- Um marido e sua esposa são tão íntimos como um corpo e sua sombra, as flores e seus frutos, ou as raízes e suas folhas em cada existência da vida. - ele fez uma pequena pausa. - Os insetos comem as árvores em que vivem, e os peixes bebem da água em que nadam. Se a grama murcha, as orquídeas sofrem, e se os pinheiros prosperam, os carvalhos exultam. Mesmo as arvores e as gramas estão intimamente relacionadas. Tudo faz parte de um ciclo, que se renova... A morte não é o fim e sim o início de uma nova vida.

Nunca parei para pensar na possibilidade de existir vida após a morte, nem sei dizer se isso é possível... Mas crença e fé são coisas distintas, na minha opinião fé é algo que nasce e morre dentro de cada um de nós, não é algo que você possa passar para alguém e a crença é a sensação de que alguma coisa é verdadeira, sem que se questione se essa coisa pode ser provada ou não. Eu creio que quando o homem morre ele deixa de existir, sua existência acaba assim como a sua matéria acaba se decompondo. Eu li em algum lugar na Bíblia que diz que: o homem foi feito do barro e Deus soprou a vida dentro dele, quando o homem morre o corpo volta para o barro e o sopro de vida volta para Deus. Se o sopro volta para Deus, eu tenho fé que eles estão com Deus agora.

O monge termina a cerimônia e entoa alguns mantras.

- Om Mani Padme Hum... Om Mani Padme Hum... Om Mani Padme Hum...

Laços de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora