Centro Empresarial de Doha, 15th August, Qatar
– Você quer me contar alguma coisa sobre você? Se sente confortável para isso? – Louis perguntou observando o pequeno finalizar um sanduiche que todos os soldados sempre carregavam em qualquer tipo de missão que os fosse imposta, e ele não era uma excessão. Os olhos de Edwin se levantaram em direção ao militar ainda temerosos e depois de um gole d'agua, decidiu falar. –
– Bem, minha família está em Chicago. – Louis percebeu a insegurança em sua voz. – Meu pai representa a empresa dos meus avós maternos internacionalmente, e dessa vez ele decidiu me trazer na viagem apesar de termos vindo um pouco contra a vontade da minha mãe. O que eu sei é que meu pai estava em uma reunião sobre algum acordo filial e quando tudo começou ele me pediu para ter coragem então começamos a correr e saímos lá fora, havia fogo por todos os lugares e por mais que eu não tenha visto muito o pouco que consegui analisar já me fez entender que coisas muito ruins estavam acontecendo; ele me trancou aqui e me deixou com a possibilidade de não poder voltar, não me disse o motivo de ter ido porque eu queria que ele ficasse...só pediu para que eu aguardasse a ajuda de alguém. – Louis assistiu os olhos do garoto a sua frente lacrimejarem mais uma vez e se aproximou, afagando as costas do menor. – A sua ajuda, nesse caso. Como você me achou, Tenente Louis?
– Eu acidentalmente encontrei um pedido de resgate com seu nome. E soldados não deixam pessoas para trás, eu não te deixaria para trás. – Edwin sorriu fraco para o mais velho, finalmente se sentia seguro. – Como você sabe que eu sou Tenente, garoto?
– Oras, está escrito na sua farda Tenente Yearsley. – Edwin apontou aquela pequena faixa de couro costurada no uniforme do moreno com obviedade e Louis riu achando aquilo um tanto quanto óbvio também. – Ela deve estar preocupada. – Edwin encarou os olhos do homem a sua frente, que o olhou de volta em um pedido silencioso para que continuasse sua fala. – Minha mãe, ela deve estar preocupada... Bem, não somente ela mas, principalmente ela. Já faz alguns dias desde que os barulhos cessaram lá fora e mais alguns passaram até você aparecer. – O Tenente sorriu com o comentário do menino. –
– Na verdade, minhas habilidades heroicas são muito eficientes. – Edwin riu e empurrou o militar com seu ombro, o que ocasionou reação nenhuma já que ele era muito pequeno e comparado ao homem do seu lado, também era fraco. – Caso eu não tivesse vindo essa noite, esta seria a sua terceira aqui. Não se passaram tantos dias, contudo ela deve estar preocupada de qualquer maneira. Você sabe me dizer o nome da Empresa que seus pais trabalham?
– Sim. Welsbury Publishing Company. É uma editora, você gosta de ler? O tio Eric sempre me dava primeiras edições de alguns livros de ação com guerras envolvidas, exércitos, outros com temas policiais e cheios de crimes que ele revisava mas minha mãe descobria e brigava com ele. Ela dizia que leituras desse gênero me tornariam violento mas eu sempre soube onde ela escondia.
– Então quer dizer que você desrespeitava as ordens de sua mãe e lia os livros, garoto? – O militar recriminou, adquirindo um tom de voz mais forte e Edwin sorriu de lado e negou com a cabeça. –
– Não, Tenente Yearsley. Eu sabia onde eles estavam mas não gostaria de a desapontar, e isso aconteceria caso ela me flagrasse. Ela é bem esperta, não acredito que eu conseguiria fingir por muito tempo. Mas agora é como se ao invés de estar lendo, eu estivesse dentro dessas histórias. Não é necessário muita atenção aos detalhes para relacionar o que aconteceu com uma ficção literária. – Louis mordeu o interior de sua bochecha e olhou para frente agora conseguindo compreender como um garoto tão pequeno poderia ter um vocabulário tão extenso. – Você gosta de ler ou não, Tenente? – Louis riu, debochando do tom irritado que o pequeno forçou em sua voz sinalizando não gostar de ter perguntas sem respostas. –
– Eu gosto de ler, embora não me reste tanto tempo para isso. Antes de eu me alistar para o exército eu costumava passar muitas tardes com a cara enterrada nos livros.– E qual seu gênero favorito, Tenente? – Louis se sentiu bem com o tom animado e ansioso que o mais novo atraiu. –
– Você não vai acreditar. – O moreno falou baixo e misterioso, conseguindo o olhar curioso do menino – Quer tentar descobrir? – O loiro assentiu, dobrando os joelhos e apoiando o queixo em um deles com uma expressão pensativa. – Certo, você tem uma chance.