CAPÍTULO UM: CHAOS

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Centro Empresárial de Doha, 14th August, Qatar

Dentre as milhares e inusitadas situações que Christopher já havia se imaginado estar, essa com certeza fora uma das únicas que passaram despercebidas em sua mente, seu coração batia rápido dentro do seu peito enquanto alcançava dentro da imensidão de seus erros passados razões plausíveis para tudo aquilo estar prestes a acontecer diante de seus olhos, entretanto não apenas os seus, pois as íris de seu filho também iriam fotografar as futuras imagens trágicas que se mostrariam ali, naquele mesmo lugar onde agora tudo parecia estar tão calmo. E como se tivesse acordado de um transe, arregalou seus olhos agora pintadas em um tom escuro revelando o medo que habitava ali dentro, levantou-se em um movimento brusco e correu em direção ao elevador para encontrar seu garoto, não haviam funcionários ali dentro, o fluxo constante de pessoas pra lá e pra cá havia simplesmente desaparecido, e tudo o que Christopher desejava era encontrar Edwin, não se perdoaria caso algo acontecesse com o pequeno, e irritado com a espera se direcionou as escadas, subiu-as em uma velocidade quase desumana, suas pernas queimavam, seus pulmões clamavam por ar, mas ele não podia conceder isso ao seu corpo, ele não podia parar, cada segundo dentro daquele edifício era um segundo a menos de vida. E ele queria que Edwin vivesse.
Lansey alcançou a porta da sala de espera e olhou em volta, seu desespero aumentou ainda mais quando não conseguiu localizar o rosto de seu filho dentro daquele lugar frio e vazio, um som estridente chamou sua atenção, parecia uma música infantil como trilha sonora de algum desenho e lembrou que Edwin estava no espaço destinado a crianças, sorriu, aliviado e correu até o pequeno que tinha sua atenção voltada para a televisão que havia ali.
– Edwin. – Christopher chamou o filho, agachando em sua frente e segurando seus braços de uma forma protetora. – Tem algo muito ruim acontecendo lá fora, e não podemos nos esconder aqui dentro. – Dito isso, um estrondo ocasionado pela explosão de alguma construção próxima dali se fez ouvir por toda a sala. Já era possível enxergar aviões militares sobrevoando toda a cidade. – Preciso que você seja rápido, não faça barulho e obedeça seu pai. – O pequeno garoto concordou com o mais velho, que percebeu pequenas lagrimas se formando nos olhos de seu filho. – Você não precisa ter medo, você precisa ter coragem, acredito que tenha algum lugar seguro por aqui e é pra lá que eu vou levar você. Sei que é cedo, mas neste momento está na hora de deixar o homenzinho que está aí dentro, conhecer o mundo aqui fora. – Edwin escutou as palavras de seu pai e assentiu, sorrindo fraco e pegando sua mochila que estava perto da janela. Pelo vidro, ele conseguiu ver o caos nas ruas e respirou fundo, lembrando das palavras de ser pai. Precisava ter coragem, precisava deixar aquele homenzinho transparecer. – Vamos, garoto. – Edwin agarrou a mão de seu pai e logo os dois estavam correndo em direção à saída daquele prédio.

Christopher corria pelas ruas com seu filho no colo, evitando que o pequeno visse grande parte daquele show de horrores, procurava por todos os lados um lugar já evacuado e sem riscos de ser um alvo daquele ataque, queria manter o filho seguro para que quando ele voltasse ainda estivesse livre de qualquer machucado e se caso não conseguisse, alguém pudesse o encontrar. Avistou, no meio de fumaças e escombros um hotel já evacuado e reparou naquela área já destruída, considerando todos os minutos que passou procurando por um local, aquele era de longe o melhor que poderia proteger seu filho, e Christopher não tinha opções. Caminhou com Edwin, desviando dos pedaços de concreto e pequenas labaredas de fogo que haviam no chão, adentrou o Hotel e procurou por uma sala segura, suspirando aliviado e quase desacreditando ao ver uma porta de aço bem à sua frente. Militares treinados conseguiriam abri-la, mas pessoas leigas procurando por um abrigo não. Seu filho estaria seguro ali.
– Você vai me deixar aqui, pai? – O mais velho ouviu a voz insegura de Edwin, engolindo em seco e fitando as íris do menino à sua frente, tentando passar a segurança que nem mesmo ele, um homem formado tinha. –
– Escute, filho. – Christopher começou, enquanto sentava o menor em uma das cadeiras que haviam ali dentro. – Vou precisar deixar você aqui, e farei o possível para voltar e irmos para casa, certo?
– Fazer o possível não é ter certeza. Você não tem certeza se volta. – Christopher crispou os lábios ao ouvir a voz amedrontada de Edwin, mas infelizmente não havia nada que ele poderia fazer em relação aquilo. –
– Farei de tudo, exatamente tudo o que estiver ao meu alcance, mas mesmo assim, preciso que continue firme, faça silêncio e não saia daqui, até que alguém te busque, pode ser que seja eu, pode ser que seja outra pessoa, então por favor, saiba diferenciar o bem do mal. Se esconda antes de olhar quem quer que entrar por aquela porta, analise e veja se é por você que estarão procurando ou se querem machucar você. Escute a voz da razão, e não deixe que o medo te impeça de ser um campeão, é como um jogo filho. – Christopher finalizou, dando um longo abraço em seu pequeno. – Eu te amo, cuide de Kylee.
– Eu cuidarei, mas você vai voltar, pai. – Edwin deu um beijo na testa do homem que tinha como exemplo, sorriu para o mesmo antes de se soltar para dizer – Eu também te amo.

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