O banquete do megalomaníaco

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O tanque pulou o barranco e quase o fez bater a cabeça no console com todo aquele solavanco. Tinha que achar um lugar seguro, um lugar para se defender, mas onde conseguiria esconder um trambolho daqueles? Onde?

Suava nervoso. O combustível não duraria muito, e se acabasse, estaria morto. Malditos soldados que não tinham peito para enfrentá-lo cara a cara! Rangeu os dentes. Estava perdendo aquela batalha e isso não podia acontecer. Pense, pense! Mesmo que subisse na torre do tanque para enfrentá-los, eles poderiam simplesmente não se aproximar. Se continuasse a fugir, uma hora seu combustível acabaria e ele obrigatoriamente teria que subir para a torre... “caralho” pensou irritado. Teria que fazer melhor que isso...

Subiu uma colina de difícil acesso para despistar temporariamente seus perseguidores, porém isso era uma solução temporária. Eles sempre voltavam ao seu encalço.

Parou ao lado da estrada observando os arredores. Havia ali um posto de combustível que o chamou atenção. Aquilo poderia ser sua salvação.

ELE escolheria o palco da batalha.

Atirou nas bombas de gasolina.

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Só de olhar para aquela imóvel máquina de destruição Dantes já ficava com medo, mesmo que ela estivesse presa por destroços.

Escondido atrás daquele barracão tentava entender o que acontecera. Teria o tanque passado por cima das bombas de gasolina e batido na loja de conveniência? Não... mesmo que tivesse, achava que o tanque teria forças o bastante para sair de lá...

Parou de pensar um pouco no tanque e tentou imaginar onde a pessoa que o pilotava poderia estar. Alguma coisa cheirava mal. Se fosse mesmo uma pessoa apenas, não seria nada inteligente descer do tanque e combatê-los, mesmo abrigando-se na destruída loja. Teria ela fugido? Se estivesse na torre... ele não conseguiria vê-los se aproximando por trás. Era tudo... conveniente demais,  isso não levando em cogitação a negra e espessa fumaça que poderia facilmente ser usada de cobertura por eles.

Ouviu um dos jipes partir para tomar uma posição estratégica caso o tanque começasse a se mover. Olhou para seu líder. Nunca havia visto alguém com tanta sede de sangue quanto ele nas últimas horas, parecia querer matar aquela pessoa mais do que um maldito queria deliciar-se com suas carnes. Aqueles asquerosos seres... deveriam estar vindo em massa até ali devido à explosão das bombas de gasolina. O tempo seria curto.

Alguém o cutucou nos ombros. Recebeu rapidamente suas ordens e acenou em respostas. Iriam se mover.

Acobertados por labaredas e fumaça dirigiram-se até um pequeno engavetamento em frente ao posto. Estava responsável por cuidar da retaguarda e, caso precisassem, chamar o jipe para ajudá-los.

Ouviu pelo rádio portátil a ordem para um grupo, liderado pelo capitão, se destacar e investir. Era chegada a hora de terminarem aquilo.

Os soldados cuidadosamente se aproximaram pelo ponto cego da máquina, escorando-se a uma das lagartas. Comunicaram-se brevemente e sem hesitar subiram na blindagem.

Não houve tempo para reações.

Sangue e pedaços de corpos voaram para todos os lados.

Dantes assustou-se com o barulho, pois cuidando da retaguarda não estava a par do que se sucedera. Olhou rapidamente por cima da lataria de um dos carros apoiando-se em seu perplexo e salpicado de sangue companheiro. Não existia mais ninguém próximo ao tanque, apenas uma imóvel e gigantesca máquina que balançava ligeiramente, possuindo agora amassados e manchas pretas por toda a extensão de sua blindagem superior.

Ficou paralisado. Onde estavam os soldados? Onde estava o capitão? O capitão estava morto? Ele era o próximo na hierarquia de patentes. O que faria? O que aconteceu? Porque o canhão do tanque estava se movendo?

Sentiu um puxão e caiu de costas, sendo arrastado sem cerimônia para longe do engavetamento. Mais uma explosão. Molhou suas calças. Carros e suas peças eram jogados para longe do local do impacto. Um grito de dor. Seria ele que teria gritado? Parou de ser arrastado.

Letargicamente olhou para trás. Seu companheiro que o estivera arrastando estava agora ajoelhado no chão com um grande pedaço de metal atravessando suas costas, quase o cortando ao meio. Sangue vertia em generosas quantidades enquanto o desesperado e engasgado homem tentava inutilmente arrancar o objeto.

Encostou sua cabeça no chão.

Ouviu um abafado barulho de rodas freando.

Iriam todos morrer.

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Atirou e com satisfação assistiu o jipe explodir.

Recarregou o canhão com agilidade.

Sorrindo observava o campo de batalha. Havia pedaços de corpos e carros espalhados por todos os lados. A negra fumaça do combustível o atrapalhava, porém tinha conseguido matar, se não todos, grande parte daqueles persistentes insetos.

Olhou para a estrada e soltou um abafado riso. Sabia que viriam, ele os chamara.

Dezenas... talvez centenas deles, seus obedientes servos, vinham deliciar-se com a carne que lhes fora oferecida naquele tenro banquete espalhado por toda a área do posto de gasolina.

Encostou-se na cadeira do atirador suspirando de satisfação.

Eles não sabiam quem haviam provocado.

Ele era intocável.

Ele era invencível.

Ele era um ser superior.

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⏰ Última atualização: Dec 19, 2014 ⏰

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