“EI! NÃO ATIREM!”, gritou tentando direcionar a voz com a mão para outro lado da loja.
Ouviu certa comoção do lado de fora e também um leve barulho de metal arrastando em metal.
“EU VI QUE VOCÊS SÃO DO EXÉRCITO! TENHO UMA PERGUNTA PARA VOCÊS! SEIS MESES ATRÁS QUAL ERA O NOME DO GENERAL RESPONSÁVEL PELA TENTATIVA DA TOMADA DE ITAIPÚ?”
Nervoso esperou uma resposta para quebrar o silêncio, e esta veio.
“ESPERE QUE JÁ FALAMOS!” Uma voz grossa respondeu.
Não tinha jeito, esperar era suicídio, eles certamente tentariam o cercar e matar. Sacou a pistola do coldre com a mão livre e espiou novamente pela fresta, porém agora só via o soldado da metralhadora montada. Estava terminando de pensar em jogar a granada no jipe quando ouviu:
“NÃO TENHO CERTEZA SE ERA GENERAL, ALIÁS, QUASE CERTEZA QUE NÃO ERA, MAS O CARA DE ITAIPÚ FOI O LUIZ FRAGA!”, respondeu a mesma voz grossa.
“CORONEL! ELE ERA CORONEL!”, respondeu uma voz jovial.
Alívio, a chance de serem do exército agora era bem maior.
“VOCÊ EM CIMA DA METRALHADORA! DESÇA OU NÃO ME MOSTRAREI!”. Observou pela fresta novamente e viu o homem olhar para o lado, provavelmente indagando se deveria sair de lá ou não. Após um breve aceno, ele desceu e se posicionou com um rifle atrás do jipe.
Ainda apreensivo, saiu vagarosamente do balcão e parou na porta da loja, observando o ambiente até encontrar todos os três soldados que ali se encontravam. Apertava a granada com força, pensando em como jogá-la para causar o maior dano possível caso fosse necessário. Estavam todos apreensivos, o que o relaxou consideravelmente, pois se não haviam atirando ainda, não tinham tanta intenção de matá-lo.
“Meu nome é Tomás, sou piloto de tanque do décimo terceiro regimento de cavalaria mecanizada” falou tentando criar alguma reação.
Os homens se entreolharam e um deles, um negro alto e parrudo, levantou sua arma apoiando-a no ombro e dirigiu-se até Tomás.
“Nós somos parte do que sobrou da vigésima sexta brigada páraquedista, eu sou o terceiro sargento Gabriel”. Ele sinalizou para que os outros se aproximassem. “Ouvimos alguns tiros e o Capitão nos mandou aqui para ver o que era”. Os outros dois soldados se aproximaram, sendo que um abaixou a arma e o outro continuou com o rifle em riste.
“Eu sou o que sobrou de meu regimento, fomos separados para guardarmos diferentes setores de Pirassununga, mas acabamos sendo 'inundados' por doentes, eu só sobrevivi pois a cabine do piloto é separada da torre e os soldados de lá foram pegos.”
O sargento olhou para o tanque e depois se voltou para Tomás.
“Ele está funcionando?”, perguntou.
“Está, mas não tem munição no canhão principal e a metralhadora da torre foi levada pela infantaria.”
“Certo...” voltou-se para o tanque e ficou pensativo alguns segundos até voltar-se para o piloto. “Tomás, nenhum de nós sabe dirigir um tanque, e seria besteira o deixarmos aqui... você pode dirigir, mas o Francisco vai na torre.” O homem se aproximou sério. “Se fizer qualquer coisa fora da linha, ele te mata assim que você sair. Entendeu?”
Tomás concordou.
“Primeiro precisamos pegar combustível para ele, eu parei aqui justamente por isso” falou olhando para as bombas. “Péra aê”. Guardou a pistola no coldre e reencaixou o pino da granada, relaxando os homens que haviam ficado surpresos com o artefato. Estava aliviado. Eles não o mataram e provavelmente não o fariam, e com a ajuda dos três militares, os dois tanques de combustíveis do blindado ficaram cheios rapidamente.
“Fiquem com meu rifle”. Ele entregou a arma para o intrigado sargento. “Vou colocar minha mochila de suprimentos na torre, não tem espaço para ela na cabine de direção”. O sargento ficou sério, porém concordou com a cabeça.
Entrou na cabine e colocou a mochila de lado. Sentou-se em uma cadeira suspirando aliviado com o fato de a situação ter finalmente chegado perto de um desfecho.
E adorava ouvir aquele som.
A explosão fez o tanque estremecer.
Olhou pelo visor do atirador e viu fumaça, muita fumaça. Pegou a metralhadora pesada e a acoplou à escotilha da torre. O jipe estava a pelo menos dez metros de distância, completamente destruído. Virou a metralhadora para frente do posto e viu um homem inerte e dois extremamente feridos gemendo no chão.
Pegou um rifle reserva e desceu do tanque. A poeira e fumaça estavam começando a baixar, mas ainda o incomodaram. Aproximou-se de um dos soldados, que estava sem uma das pernas e tendo espasmos que faziam sangue jorrar. Este não sobreviveria. Aproximou-se de Gabriel, que tinha um grande pedaço de metal atravessando seu torso diagonalmente, e encostou a arma na cabeça do sargento. O militar estava incrédulo, provavelmente em choque, pois sua única reação foi continuar olhando para o fumegante canhão do tanque e sutilmente mover o maxilar.
Tomás sorriu vitorioso.
“Vocês não vão tirá-lo de mim”
Atirou.
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Um ser superior
FantascienzaNão existe ser que supere sua inteligência. Não existe aflição que possa penetrar sua armadura. Não existe criação que supere seu poder de fogo. Ele, a mente brilhante. Ela, a máquina indestrutível. Juntos são um só. Um ser superior.