A POBREZA DA PSICOLOGIA (Parte 2)

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A Desumanização do Homem


Se, porém, a inutilidade dessas experiências servisse apenas para justificar críticas, então estaríamos, de modo revoltante, açoitando um cavalo, morto. Mas, por incrível que pareça, os adeptos de Skinner pretendem que as experiências feitas com ratos que "apertam barras" e o treino de pombos (em relação a estes, mais recentemente) fornecem todos os elementos necessários para a descrição, previsão e controle do comportamento humano — incluindo a linguagem ("comportamento verbal"), a ciência e a arte. Os dois livros de Skinner mais conhecidos são The Behaviour of Organism (O Comportamento dos Organismos) e Science and Human Behaviour (Ciência e Comportamento Humano). Nada, nesses títulos imponentes, indica que os dados aí aproveitados são quase exclusivamente tirados de experiências de reflexos condicionados com ratos e pombos, convertidos depois, mediante grosseiras analogias, em assertivas convictas sobre problemas políticos, religiosos e éticos do homem. O impulso de motivação do rato é medido pelo número de horas que permaneceu sem alimentação antes de ser posto na caixa; o comportamento humano, de acordo com Skinner, pode ser descrito nas mesmas condições:

O comportamento que foi fortalecido por um estímulo condicionado varia na conformidade da privação relativa ao estímulo incondicionado. O comportamento representado pela atitude de ir a um restaurante se compõe de uma seqüência de respostas, sendo que as primeiras (o fato, por exemplo, de passar por determinada rua) são reforçadas pela aparência de estímulos discriminativos que condicionam ou controlam respostas ulteriores (a aparência, por exemplo, do restaurante em que entramos). Toda a seqüência é finalmente reforçada pelo alimento, e a probabilidade varia na conformidade da privação de alimento. Aumentamos as probabilidades de alguém querer ir a um restaurante, ou mesmo passar por determinada rua, fazendo que essa pessoa sinta fome.

Em seguida a Skinner, de Harvard, na ordem de importância na elaboração da Psicologia acadêmica, vem o falecido Clark Hull, de Yale. Os seus discípulos ainda ocupam posição-chave no mundo acadêmico. O seu sistema difere do de Skinner em alguns pontos técnicos, mas a sua visão geral fundamental é a mesma: ele também defendeu expressamente a tese de que as diferenças entre os processos de aprendizagem do homem e do rato são apenas de ordem quantitativa e não qualitativa:

A teoria do comportamento, fornecida pela Ciência Natural e desenvolvida por este autor e seus colaboradores, pressupõe que todo comportamento dos indivíduos de uma determinada espécie e de todas as espécies de mamíferos, inclusive o homem, se processa de acordo com a mesma série de leis primárias.

Os atributos peculiares ao homem, como a comunicação verbal, a escrita, a ciência, a arte, e assim por diante, tudo isso difere apenas em intensidade e não qualidade das façanhas de aprendizagem dos animais inferiores, mais uma vez sintetizadas, tanto para Hull como para Skinner, nas atividades do rato que faz pressão na barra da caixa. Pavlov contava o número de gotas que os seus cães salivavam através das suas fístulas artificiais e as destilava numa Filosofia do homem. Os Professores Skinner e Hull e os seus continuadores escolhem, com igual coragem, um caminho bem rápido, para percorrer a distância que vai do rato dentro da caixa até a condição humana.

O experimento mais impressionante de Skinner, na "previsão e controle de comportamento", foi treinar pombos, por condicionamento ativo, para andarem empertigados com a cabeça erguida de modo não-natural. Ele acende uma luz e aparece o alimento num lugar que o pombo só podia alcançar estendendo o pescoço. Depois de algum tempo, cada vez que se acende a luz, o pombo estende o pescoço, esperando a comida. Como se pode extrapolar desse fato para a previsão e controle do comportamento humano? Skinner o explica (os grifos são dele):

O Fantasma da MáquinaOnde histórias criam vida. Descubra agora