4. POV do Jeff

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"Um palhaço pode até ser engraçado, mas a noite aquele sorriso divertido vira um sorriso assustador."

POV do Jeff

Minhas costas estão começando a doer. Me remexo no chão até achar uma posição confortável.

Coloco as mãos atrás da cabeça, como apoio, e observo o céu. Logo logo as amigas dessa daí irão aparecer, então não preciso me preocupar. Melhor esperar pra matar três de uma vez. Ou uma perseguição seria mais divertido? Entro em uma decisão cruel: massacre de trio ou perseguição?

Enquanto peso os dois lados, ouço passos ao longe, correndo para cá. São elas. Vou ficar com o massacre de trio mesmo. Me levanto e me esgueiro atrás do tronco da árvore. Aposto que elas podem me ver, mas não ligo. Se elas me verem, vai ter perseguição. O que também é bom para mim.

Ouço um galho se quebrando em algum lugar à minha frente. Saio de trás do tronco, com o facão na mão, e caminho até o ponto do barulho. Paro ali e olho ao redor. Onde estão as meninas?

É nesse exato momento que algo - alguém - cai em cima de mim. Como assim? Fizeram mesmo um ataque surpresa? Pffff... Que amador.

A menina prende minha mão esquerda atrás das minhas costas e a direita, que está segurando o facão, ela pressiona contra a grama. Ela não chega a ser fraca, mas também não é forte o suficiente para me segurar.

Opto pela perseguição.

Finjo me debater de raiva, embora esteja gargalhando por dentro. Isso está ficando realmente divertido.

Ouço elas falarem algumas coisas, e vejo que as duas palermas magrinhas estão chorando. Adoro o pavor no olhar delas, ele me sacia.

Tento morder a garota em cima de mim, e ela continua a me segurar como se, se me soltasse repentinamente, eu fosse matá-la.

O pior é que vou mesmo.

Sua intimidade roça nas minhas costas e eu resolvo começar logo com a perseguição na floresta. Levanto de repente, derrubando ela no chão, e me viro lentamente.

Começo a pensar na forma em que vou matá-la, quando meus pensamentos somem e minha cabeça fica vazia, só visualizando o rosto dela.

Ela tem um cabelo loiro e sedoso, que vai até a cintura, descabelado mas brilhoso. Seus olhos azuis piscina estão arregalados e assustados, como um cachorrinho encurralado. Ela está com lágrimas nos cantos deles, mas, bem no fundo, seu olhar demonstra uma determinação selvagem. Penso que ela está com medo, mas não vai recuar em nenhum momento: ela vai lutar (claro que não no sentido literal porque, se ela fosse lutar comigo mesmo, ia perder em três segundos), não importando as consequências.

Olho melhor para o seu rosto, e percebo que, bem no fundo da minha memória, eu lembro dela. Sonhei com ela. Ela tocou meu ombro em um gesto reconfortante e humano, coisa que não faziam desde... desde sempre.

Não consigo matá-la. Ela irradia luz. Uma luz que me ofusca, mas me puxa ao mesmo tempo, como uma mariposa. Sou atraído para ela. Mas não pode. Eu preciso matá-la. Eu mato pessoas, não sou atraído por elas.

Caminho lentamente até ela, que parece menos amedrontada, alternando o olhar entre pontos do meu rosto. Ela se levanta quando eu chego perto dela, e, surpreendentemente, relaxa.

- Eu te conheço. - Ela fala, quase em um sussurro. - Vi você no meu sonho. - Ela sonhou comigo também? Nós nunca nos vimos antes. Por quê? Não penso em nenhuma outra pergunta, quando ela coloca a mão no meu ombro, igual ao meu - ao nosso - sonho. Para, Jeff. Você é um assassino.

Em meio à minha luta interior, consigo ouvir minha voz saindo, mesmo sem eu ter querido falar.

- Só se tivesse sido um pesadelo.

Isso me acorda do meu devaneio, e eu entendo: eu mato, não sonho.

- Go to sleep.

Com um movimento rápido, eu cravo minha faca em seu estômago.

Ela grita e cai de joelhos no chão, arranhando meu ombro ao escorregar a mão. Com a mão esquerda, ela aperta a barriga, abrindo a boca em um "0". Seu corpo começa a tremer violentamente, e ela começa a balançar.

Sua mão esquerda começa a ser manchada de sangue. Sinto uma náusea ao ver o sangue saindo dela. Ao mesmo tempo, o cheiro metálico do sangue me faz revirar os olhos de prazer. Levo as mãos à cabeça e me viro de costas. Vou enlouquecer se ficar perto dela. Preciso dar início à perseguição. Começo a correr, mas, antes de virar para a esquerda, olho para trás mais uma vez.

Ela está com a boca aberta, tremendo muito, me encarando. Seus olhos se enchem de água, mas, quando percebe que eu a estou encarando, ela desvia o olhar para o seu corte. Seu uniforme escolar já está empapado de sangue, então ela também não olha pra lá. Olha pra mim mais uma vez antes de desabar no chão.

Viro a cabeça e começo a correr novamente, em direção à suas amigas e minhas próximas vítimas.

Sinto meu ombro arder, e me lembro de seu toque suave e quente em meu ombro. Agora ele está arranhado e com sangue ao redor.

Simplesmente não consigo resistir. Não posso deixá-la daquele jeito. Dou meia-volta e corro ainda mais rápido.

O amor é perigoso || Jeff the KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora