7. Sequestro?!

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"Ai meu ursinho lindo, você é o único em quem posso confiar. Sabe, tem muitas pessoas ruins nesse mundo que estão vindo me pegar."

Vejo sua sombra se levantar e ele caminhar na minha direção. Esqueço que tem uma janela atrás de mim e dou um passo para trás, batendo no vidro gelado.

- Por favor, não me mate. Me deixe viver. - Sussurro, de olhos fechados.

- Não seria bom para mim. - Ele diz, com uma voz travessa. Como alguém pode se divertir em uma situação dessas?

- Não estava falando com você. Estava orando. - Com a voz ainda baixa, encaro ele de cara fechada.

- Deixe-me te contar uma coisa - Ele chega perto do meu ouvido e sussurra: - Deus não existe. Então, quando você morrer, nenhuma luz vai te salvar.

- E daí que não existe? Eu preciso... Eu vou continuar acreditando! Porque se eu não acreditar que eu tenho um propósito na vida... Que a esperança não existe... Eu não sei... - Encaro meus pés e tento, com toda a força, segurar as lágrimas, mas elas encharcam meus olhos e caem.

Já que vou morrer mesmo, vou desabafar tudo agora. Choro pelo que ele é e o que ele fez. Choro pelos meus pais. Choro por Kay. Choro por mim.

- Eu peço para você que não me mate ainda. Eu tenho uma vida inteira pela frente. - Eu digo, não sabendo a quem eu me refiro.

Sinto a lâmina gelada encostar no meu pescoço e cerro os punhos. É agora a minha hora.

- Não mate minha tia. - É a última coisa que eu penso em dizer.

Em vez da dor profunda no meu pescoço e do sangue ininterrupto, sinto uma batida forte na minha cabeça, e desmaio na hora.

¨°¨

Meus braços doem. Essa é a primeira coisa que eu sinto. Acho que eles estão cortados. Esse é o primeiro pensamento. Onde eu estou? É a minha primeira dúvida.

Abro meus olhos pesados e giro eles pelo lugar em que eu estou: uma sala, escura. Aparentemente vazia. Ah, não: tem uma mesa em um canto, um armário na mesma parede, um espelho e alguns quadros que eu não consigo enxergar direito por conta da escuridão.

Mexo o pescoço para o lado, para ver onde estão meus braços. Encaro eles, não cortados mas sim amarrados por uma corda esfiapada. Eu balanço eles, para tentar me soltar, mas paro na hora. A minha pele já está vermelha na região em que a corda toca, e eles estão fracos.

Estou sentada um uma cadeira. Meus tornozelos e braços estão amarrados e eu estou em uma sala escura. Fui sequestrada.

Olho rapidamente ao redor, com os olhos arregalados para tentar enxergar melhor no escuro e, quando estou prestes a olhar para a parede atrás de mim, uma luz forte sai da mesma. Fico momentaneamente cega e abaixo a cabeça.

Ouço passos se aproximarem de mim e fecho os olhos com força.

- É o garoto da floresta? - Eu pergunto, mesmo tento noção de que a informação não vai me ajudar em muita coisa.

A pessoa não responde e, pelo roçar dos pés no chão, percebo que a pessoa parou na minha frente.

Abro os olhos e levanto a cabeça. Sim, é o garoto da floresta, que me esfaqueou e agora me sequestrou. Eu vou ligar para a polícia assim que chegar em casa. Ele não pode continuar solto depois disso tudo.

POV do Jeff

Ela está na minha frente, tremendo de cansaço e curvada, talvez de dor, me encarando com esses lindos e grandes olhos azuis. Sua boca rosa está entreaberta, e eu sinto uma vontade de beijá-la, mas logo depois uma imagem de mim mordendo seu lábio e o fazendo sangrar surge na minha mente, e eu fico na expectativa.

É a primeira vez que eu me importo, mesmo que minimamente, com como minha vítima vai se sentir.

Eu fico com medo de ela se machucar, mas quero machucá-la. E eu ainda nem sei o nome dela.

Eu preciso me decidir. Um serial killer que fica em dúvida na hora de matar não merece continuar fazendo o que ama, ou seja, matar pessoas.

Saco meu facão debaixo da cadeira dela e ela arregala os olhos.

- Qual é seu nome? - Surpreendentemente, a voz é minha.

- Chloe. - Ela sussurra. - E o seu?

- Acho que não te interessa.

- Bom, eu estou prestes a morrer agora - sinto um aperto no peito -, então acho que devia ter o direito de saber o nome de quem vai me matar.

Reviro os olhos e respondo:

- Jeff.

Faço pequenos cortes em seus braços. Preciso torturar a Chloe, para ver como eu me sinto em vê-la sofrer.

Se eu matá-la e me arrepender depois, vou enlouquecer. Estou de saco cheio de ficar arrependido. Os melhores assassinos são aqueles que ignoram a mínima culpa. Foi o que eu fiz ao matar minha família. Foram eles que mentiram para mim, por isso julguei que mereciam morrer. Todos eles. E mais alguns.

Ela começa a se contrair e a se remexer na cadeira, apertando os dentes para não gritar. Seus olhos estão fechados com força e isso me decepciona, porque eu queria ver eles brilharem novamente. Solto um suspiro e paro de cortar seus braços.

O sangue mancha as bordas de meu moletom, ficando mais destacado do que o sangue seco e marrom que já estava ali. Sinto uma súbita vontade de lavar meu moletom, mas me seguro. Isso não seria algo que eu faria normalmente. As manchas estão ali para me lembrar que as mortes que eu causei não foram em vão. Foram todas para me satisfazer.

Suspiro e a encaro. Chloe abre os olhos devagar e sussurra.

- Me mate logo.

- Olha só: eu vou te deixar viver. Você vai esconder essas manchas e não vai contar pra ninguém que eu existo. Não vai chamar a polícia. Lembre-se que eu sei onde você mora, e eu também sei que sua tia é importante para você. Entendeu?

POV da Chloe

Ele me deixou em um beco sem saída.

Meu ódio não chega a ser suficiente para matá-lo, mas acho que alguém devia dar a ele o que ele merece.

- Certo. - Eu sussurro.

Ele suspira e se vira, ficando de costas para mim. Jeff leva as mão à cabeça, e começa a balançá-la, como se travasse uma luta interior.

- O que... - Eu começo a perguntar, mas decido ficar quieta. Não quero mudar sua decisão de me manter viva.

Ele se aproxima de mim e vai até as minhas mãos. Ele corta as cordas e depois vai até os tornozelos. Eu penso que posso tentar atacá-lo, mas eu não teria chances de ganhar dele em uma luta corporal. Ele parece ser muito mais forte que eu e, além disso, ele tem uma faca.

- Vamos, Chloe.

- Para onde? - Eu pergunto aterrorizada, mas tentando não demonstrar.

- Você vai viver sua vida normalmente. Como se eu nunca tivesse entrado nela.

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⏰ Última atualização: Mar 29, 2016 ⏰

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O amor é perigoso || Jeff the KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora