Capítulo 3- O funeral

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Hoje é Terça-Feira, dia 30...Passaram dois dias desde que Rita não está mais neste mundo.

Acordei como se estivesse morta, olhei para o teto e pensava em mil e uma coisas sem nenhum sentido, via uma vida incompleta parada no tempo. A minha vida já não é a mesma coisa sem a Rita, a única coisa que queria era morrer lentamente dentro do quarto sem me importar com as higienes pessoais e a minha alimentação. Talvez assim fosse o melhor castigo, morrer lentamente. Queria ir ter com a Rita no outro mundo, talvez ela esteja na cidade de Deus. Pela maravilhosa pessoa que ela era, Deus não iria recusar uma alma tão bondosa como ela na sua Cidade. Será que ela sente a minha falta? Deve estar desiludida comigo talvez... Será que ela está bem lá? Haverá mais pessoas como ela Lá? Secalhar sente a falta da sua família... Preciso mesmo de saber como ela está. Se ao menos tivesse a oportunidade de a ver lá e saber se estava bem.

Ultimamente não tenho quase dormido nada e quando durmo só tenho pesadelos do dia em que Rita morreu nos meus braços, e  milhares de pessoas estavam ao meu redor e olhavam para mim como se eu fosse alguma criminosa metendo nojo, ouvia vozes ao meu redor a chamarem-me de assassina e só queria ver Rita acordar, queria fugir dos meus medos mas as pernas não o deixavam fazer. Sufucava-me naqueles sonhos, tentava abrir os olhos para acordar, porém os meus medos não o deixavam. Sempre que acordava tinha sempre o meu tio ao meu lado tentando acalmar-me e dizia sempre que foi só um sonho nada mais. Ele dizia que me ouvia a plenos gritos durante a noite, mas para não me preocupar porque um dia isso haveria de passar.

Nunca mais conectei-me nas redes sociais, nem o telemóvel está ligado, tinha medo do que iria ver, já sei que irão publicar umas mil publicações com fotografias e frases, lamentando por Rita já não estar mais connosco. Agora é que se lembram dela, nunca estavam p'ra elas todos os dias da vida dela, mas é só morrer alguém que esta gente de merda se lembra de se preocuparem. Que raiva mesmo.

- Bom dia, anda comer peste.- Chega o meu tio abrindo a porta do quarto.

- Não tenho fome, quero estar sozinha.

- Tu tens de comer, não te quero ver doente, anda.

- Já disse que não vou comer!

O meu tio não respondeu e saiu do quarto. Não tenho culpa de não ter vontade nenhuma para comer, nem consigo comer, a comida enjooa-me. Do nada vejo outra vez o meu tio, mas desta vez vinha acompanhado com uma meia dúzia de minis croassaints e um copo de leite misturado com chocolate. Eles pareciam estar desesperados por mim, mas a minha melancolia e a vontade de morrer ateimavam para eu deixar de comer e eu tentei resistir. Só olhei para o meu tio.

- Come tu, não quero.

- Não sejas mais teimosa que eu, vá come. - Ele já estava com um mini croassaint e preparado p'ra me enfiar goela abaixo.

- Fodase! Já disse que não vou comer! - Irritei-me por completo, a raiva já me subia á cabeça e já me custava respirar. Deitei-me novamente e tapei-me toda com os cobertores. O Miguel voltou a destapar-me.

- Tem calma sim, vá come só um ao menos. -Estendeu-me a mão com o pãozinho, fiz-lhe a vontade e fui comendo aos poucos, as lágrimas vieram-me aos olhos e voltei a chorar por completo. A Rita adorava comer mini croissants, e cada dentada neste pãozinho fazia-me lembrar a cara entusiasmada de Rita cada vez que comia um e de repente voltava aquela imagem de Rita no campo montada no Trovão a galopar para uma viagem ao outro mundo e aí me lembro do terror nos meus olhos quando Rita morre nos meus braços. Não conti as lágrimas de tantos sentimentos no mesmo lugar. Saudades, culpa, remorsos, raiva, ódio e uma tristeza sem fim dentro duma pequena pedra de gelo cá no meu interior.

-Não consigo, por favor leva isto daqui! -supliquei ao meu tio, e tapei-me novamente e desabafei num choro silencioso, ainda não aceitei a realidade da vida, Rita irá fazer muita falta mesmo, não sei se irei conseguir aguentar viver uma vida inteira sem ela. Que dor mesmo, porque a vida tem de ser injusta?

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