Alucinação?

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Meu dia é chato, não há muito o que fazer, eu me sinto estranho, algumas coisas repentinas mudaram, mas não sei exatamente o que seriam. Sou Tomás, tenho 17 anos e sou muito antissocial, pouco me comunico com as pessoas, a verdade é que a realidade me abomina. Vivo numa cidadezinha qualquer, não preciso mencionar seu nome e seus detalhes, são irrelevantes. Posso contar que de uns tempos pra cá, passei por uma perda de uma pessoa que eu muito amava. Prefiro não falar sobre isso, as minhas dores eu as guardo somente pra mim.

Minha mãe está lá no sofá vendo televisão, deprimente, eu apenas acendo meu cigarro na frente da varanda, ela reclama, mas foi uma forma de suportar fardos difíceis, na qual não estava preparado para lidar, é um vício ruim, mas um dia todos nós vamos morrer né?

____Filho, não fica fumando, vou jogar sua carteira fora de novo! Você é de menor, não sei como vendem isso pra você, vou processar esse bar!

____Aqui nessa cidade tão pequena? Posso ajudar se quiser, quem sabe não provocamos uma rebelião dos jovens fumantes de menores, e olhe que não são poucos! Daí a senhora pode ganhar no processo e saímos dessa chata cidade, antes deles acabarem contigo! Olha que ideia boa, ganha dinheiro fácil!

____Devia parar de tentar ser engraçadinho, uma hora você vai passar mal! – ela se levanta do sofá e vai pra cozinha catar alguma coisa

Olhando para o céu a noite, me perdi olhando as estrelas, é estranho de repente não senti nada, como se minha dor de todos dos dias tivesse se apagado, uma vontade de dormir, fiquei tão tonto que deu medo dessa letargia, tentei gritar pra minha mãe, mas não conseguia. Minha boca estava seca, o cigarro havia caído no chão de cerâmica esverdeada. Está ficando tudo branco, medo, medo. Medo! Será que vou morrer? Foi o vício de fumar? Não conseguia mais atinar direito...

Uma descarga elétrica atinge meu corpo e eu volto a mim.

___MÃE!!!!!!!! – gritei tão alto que ela saiu de dentro da cozinha com a boca suja de farelos de pão

Ela olha para mim toda assustada e pergunta o que houve. Eu respondo e ela fica preocupada... mas tem algo errado, minha mãe brigaria comigo e faria eu largar o cigarro literalmente, imagino os gritos que ela daria, a vizinhança toda iria acordar só de ela ter falado tantas vezes que fumar era ruim pra saúde.

Nesse dia eu fui deitar logo, só não entendo de onde surgiu uma descarga elétrica que me despertou daquela forma absurda. O que eu posso dizer é que isso não foi normal.

Na manhã seguinte, ouvi minha mãe reclamando que o cachorro havia sumido, espera ai, a gente tinha um cachorro? Se eu me lembro bem, tínhamos, mas quando eu era criança, meus 12 anos. O chamuscado, sim esse era o nome, todo pretinho, muito fofo. Infelizmente ele acabou sendo morto e me senti muito culpado por isso. Negligencia minha, como nossa casa não tinha grades antigamente, ele vivia preso sob uma densa arvore, com direito a casinha e sua corrente conseguia adentrar a varanda do fundo caso estivesse pegando sol aos fundos da casa. Um dia soltei para brincar como de costume, só que ao voltar pra dentro de casa, me esqueci de colocar ele na corrente. No dia seguinte meu pai que vive a trabalho de viagem chegou e bateu na janela do meu quarto me culpando pelo que acontecera. Minha mãe não é tão chegada a cães, mas adorava ele, já meu pai amava aquela coisinha. Eu fiquei pasmo, morto, na rua, atropelado, engraçado, ninguém escutou nada.

____Desde quando temos um novo cão? – saio do meu quarto sem lavar os dentes.

Ela não respondeu, deve ter ido trabalhar, ela cuida de duas crianças de um vizinho nosso, sempre quando precisam sair a chamam. Não os conheço bem, lembrem-se sou antissocial.

Sai pela porta da frente e me senti no impulso de ir ver onde foi enterrado o Chamuscado, sim ele foi enterrado ne frente de nossa casa, ao lado de umas plantas da minha mãe, queria que ele fosse enterrado aqui, meu pai cavou e o colocou, minha mãe jogou umas sementes em volta para nascer algumas mudas, o pobre falecido tinha se transformado em parte, nelas.

Decidi não sei o porquê, mas a cavar com as mãos, fiz um buraco, e quanto mais cavava, mais raízes encontrava, meu nariz começava a coçar, alergia a alguma planta próxima? Começou a me agoniar, cavando e a terra entrando debaixo das unhas e quebrando algumas. Passei meu antebraço no nariz e fiquei chocado, sangue, olhei para o buraco e vi um osso, quando fui o pegar, me senti novamente tonto, eu escutei atrás de mim latidos do chamuscado, olhei e não vi nada. Virei-me e comecei a puxar o osso, sangue estava pingando do nariz. Agonia de sair dali, limpar as mãos e o nariz, mas não conseguia sair, precisava ver aquilo.

Puxei o osso, nada de mais, larguei ele no buraco e enterrei com a terra, minha tontura passou, mas senti uma pontada da culpa por Chamuscado ter morrido, fazia muito tempo, mas a culpa sobreviveu. Fui ao banheiro me limpar e não tinha sangue. Meu nariz estava limpo!

Estou ouvindo e vendo coisas? O que está acontecendo? Preciso me conter, algo está errado, sempre soube, as coisas não são mais as mesmas, é melhor eu me acalmar.




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