Dores Profundas

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Estou deprimido, tudo que anda acontecendo me trouxe lembranças tortuosas, triste, mas irei contar o que são elas.

Há 8 meses atrás, conheci uma pessoa, Léo, um amigo do colegial do terceiro ano do ensino médio, sentávamos do mesmo lado na sala e tivemos êxito na amizade. Com o tempo soube que ele era assim como eu, fiquei feliz. Com o tempo, para uma pessoa antissocial como eu, se tornou meu único amigo.

Em torno de 4 meses atrás, algo aconteceu, nunca pensei que essa coisa iria acontecer, sentíamos algo a mais, isso fez com que colocássemos as cartas na mesa e assumíssemos uma relação secreta, sim éramos mais que amigos.

E tudo isso acabou quando ele morreu.

Foi a pior dor que senti, em muitos anos ele era a melhor coisa que me acontecera.

Câncer. Leucemia. Naquele momento essa dor afogou todas as outras.

Uma dor tão profunda que achei que tinha superado, mas voltou, era você que estava lá no dia anterior. O que quer de mim? Atormentar? Eu te amava e ainda te amo, será que não consegui te libertar no fundo do meu coração?

No dia seguinte, tentei me matar, tomei remédios, um monte, passei mal, agonizando de dor até alguém me socorrer, nem vi quem era. Fui hospitalizado e totalmente entorpecido, me faltava sentidos para compreender o que estava lá minha volta. Tudo estava embaralhado.

Passei alguns dias no hospital, foram dias estranhos, não sabia o que era verdade ou sonho, mas logo voltei pra casa e tudo estava normal, minha dor por causa dele estava minimizada, acredito que a ficha não havia caído.

O porque agora isso veio de volta? Depois de certo tempo... Preciso entender o que está havendo, preciso de coragem para enfrentar toda essa dor.

Em meu quarto, relembrando o passado, ouvi um barulho vindo da gaveta logo onde guardo a foto dele. Abri. Estava lá a foto, com a imagem de Léo, porem algo diferente, atrás, estava escrito:

___" Volte para nós!"

Como assim? Quem nós? Ele estava morto e eu estou vivo, não faz sentido!

Sai do meu quarto e fui a cozinha, fiquei tonto, parecia a mesma letargia que tinha antes, fui direto a um espelho que tinha perto na parede:

___Você? – Léo estava atrás de mim na imagem do espelho.

Minha mãe não escutou nada. Ele ainda estava lá, olhando fixamente pra mim, girei e não vi nada, e olhava o espelho...Como pode? Minha cabeça está pregando peças! Parece que mais dor eu sinto, mais aparece essas coisas bizarras!

Léo sai andado na direção da porta dos fundos e eu vou atrás, se era para buscar respostas, teria que o fazer de qualquer jeito, e provavelmente se eu não o fizer, não entenderei nada se é que há algo para ser entendido. Mas prefiro acreditar na minha sanidade e que há respostas por trás disso tudo.

Ele vai até a rua e continua seguindo um rumo, não entendo o porquê ele quer isso, mas sigo, de nervoso, pego um cigarro dentro da minha carteira e acendo com o isqueiro, por hora, isso era demais pra mim, precisava me acalmar um pouco, mas o segui independentemente de onde.

Em determinado momento, escutei vozes de pessoas que conheço, mas não sabia identificar quem eram e onde estavam e as ruas todas desérticas. E ele estava indo, continuando seu rumo, ele não era feito de cor branca ou cinza como os fantasmas em geral são, ele usava a mesma roupa da foto, uma camiseta preta, calça justa jeans azul e seu All-star preto.

Era dele que eu gostava, está me voltando cenas de nós dois juntos, e começo a chorar, meu cigarro acaba e jogo fora. Não era justo, isso estar acontecendo, está me dando medo, preciso continuar até onde for para poder entender o que ele quer dizer.

Ele desaparece em um ponto de ônibus, estranho, porque ele me deixaria aqui? Deve ser para esperar um, só pode. Dou uma olhada no lugar, nada de anormal, até faróis fortes param na parada:

____Esse ônibus vai para onde? – eu disse ao perguntar ao motorista

Ele vira para mim e levou um susto, seu rosto, ou melhor, ele não tinha rosto:

___O que está acontecendo? – eu já estava assustado

Eu me afasto do transporte e fico chocado com a cena, sem rosto? Ele segue o caminho a frente. Fico sozinho no local, olho em volta e para minhas mãos:

___Estou com medo!

O frio, vou correndo pra casa e olhando em volta pra caso o Léo não reaparecesse.

Entro em casa, minha mãe estava acordada assistindo televisão, mas a uma hora dessas da madrugada?

___Mãe? O que está fazendo acordada? – vou me aproximando dela aos poucos

Ela se vira e pergunta:

___Aonde você estava, ouvi saindo pela porta dos fundos.

Eu não falo nada, mas ela levanta e me dá um abraço, sinto com tanta força e calor que por algum momento sinto como não estivesse ali. Não sei como explicar.

___Você não conseguiu superar ele ainda né?

Será que ela sabia que tínhamos algo a mais? Dizem que mãe sabe, enfim, não disse nada, apenas a larguei e fui para o meu quarto, ouvi ela desligando a televisão e indo para o quarto.

Desabei em lágrimas na minha cama, isso tudo o que diabos significa? Daqui a pouco minha mãe vai me internar numa clínica.

Na manhã seguinte, estava tão deprimido que passei o dia inteiro no quarto, só sai nas horas de necessidades fisiológicas. Comer? Não sentia fome, minha mãe até deixou o almoço pronto para mim antes de sair para cuidar dos pirralhos dos vizinhos, mas não comi nada. Meu mundo estava indo de cigarro a cigarro, olhando pela janela e escutando músicas em forma de depressões. Eu não estava nada bem.

Ao anoitecer, as coisas mudaram um pouco. Me senti na vontade de seguir o rumo do ônibus, melhor do que passar por essa depressão num quarto fechado. Deixei a madrugada chegar e decidi ir, nada mais importa, desde que alguma coisa eu obtenha como resposta.



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