6. MAIS CEDO OU MAIS TARDE

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Mais cinco minutos, pessoal.
Aula de Governança. Eu estava assistindo Tucker fazer uma prova sobre a
Constituição dos EUA. Que eu terminei há quinze minutos atrás, então, estou sentada
assistindo enquanto ele inclina sobre o trabalho, se encolhe, pára pra bater seu lápis
num ritmo maluco na mesa, como se aquilo estimulasse sua memória. As coisas
claramente não estão indo bem.
Em qualquer outra época eu o acharia adorável assim todo frustrado e franzido
de concentração.
Mas tudo que eu consigo pensar é isso: Quem se importa com a estúpida prova
de governança. Você vai morrer. E é por minha culpa, de alguma maneira.
Pára. Pára de pensar isso. Você não tem certeza.
Mas parece que eu sei. A conclusão que eu cheguei é que Tucker estava pra
morrer no incêndio. Se eu não tivesse abandonado meu propósito, se eu não tivesse
voado para salvá-lo, ele teria morrido lá na mata acima de Palisades. Aquele era seu
destino. Era pra eu escolher Christian. Era pra Tucker morrer. Agora, com esse novo onho, parece que a mesma coisa acontece de novo. Christian e eu andando na floresta
de novo. Tucker morto.
Só que desta vez não era não é uma decisão difícil que eu tenho que fazer. Desta
vez eu irei agonizar meses com ela.
E aqui está a outra conclusão que cheguei: não importa quanto tempo estou
pensando sobre isso. Eu ainda escolherei Tucker. Eu não me importo se isso estragar
meu propósito.
Eu não vou deixá-lo morrer.
O problema é que eu não sei como vai acontecer. Então, não sei como parar isso.
É como aquele filme Premonição
onde aquelas pessoas tinham que morrer
numa batida de avião, mas eles saem da aeronave e a Morte vem caçá-los.
Um-por-um. Porque era para eles morrerem. Eu tenho pensado nas mais loucas
possibilidades, como:
a) Tucker se mete em um acidente de carro;
b) Ele engasga com um pedaço de carne no jantar;
c) Ele é atingido por um raio, porque nunca, nunca pára de chover;
d) Ele escorrega e cai no chuveiro e se afoga,
e) A casa dele é pega por um meteoro. Mas o que eu posso fazer a respeito? Eu
não consigo estar com ele todo o tempo. Eu andei tão fora de mim que eu alguma vezes
me esgueirava até a casa dele no meio da noite para vigiá-lo enquanto ele dormia,
apenas no caso, eu não sei, se sua coleção de quadrinhos decidisse entrar em combustão
espontaneamente.
Isso era idiota e horripilante de uma forma meio Edward Cullen, mas foi a única
coisa que eu poderia pensar em fazer. Graças a Deus que ele não está mais no rodeio, já
que eu não acho que eu poderia suportar vê-lo tentar montar um touro agora.
Então, eu encarreguei a mim mesma de ser sua guadiã. Eu também o peguei de
carro todos os dias dessa semana e o levei pra escola dirigindo tão devagar que ele
começou a me provocar dizendo que eu dirigia como uma vovozinha. Ele percebeu, é claro, que alguma coisa está errada. Nada passa despercebido por Tucker. Além disso,
eu não estou sendo muito sutil e meio desastrada sobre essa coisa de namorado-
destinado-a-morrer.
Essa manhã, por exemplo. Nós estávamos sentados no refeitório durante o
recreio da manhã e com todo seu barulho. De repente, um estalo do outro lado do
refeitório e eu não pude evitar o que aconteceu. Eu fui rápida, muito rápida, mas tão
rápida que minha mãe ia surtar se tivesse visto, e me coloquei entre o barulho e Tucker.
Então eu fiquei ali parada esperando com as mãos pra baixo e fechadas, até que eu
escutei uns garotos rindo para o idiota que tinha uma lata da refrigerante amassada sob
seu pé - uma lata de refrigerante! - e todo mundo no seu grupou estava lhe dando os
parabéns por sua espetacular habilidade de fazer barulho.
E Tucker estava olhando pra mim. Wendy também, com sua baguete levantada
no meu do caminho pra sua boca.
Todo mundo na minha mesa me encarando.
— Uau — Eu disse sem fôlego, tentando disfarçar. — Isso me assustou. As
pessoas não deviam fazer isso.
— Não deviam estourar latas? —Wendy perguntou. —Você está muito nervosa,
não acha?
—Ei, eu sou da Califórnia — tentei explicar. — A gente tinha que passar por
detectores de metal pra entrar na escola.
Tucker ainda estava olhando pra mim, com suas sobrancelhas enrugadas juntas.
Agora, enquanto eu o observo lutar contra sua prova, eu penso em contar pra ele. Eu
poderia contar pra ele e, então, não haveria segredos entre nós, sem mentiras. Isso seria
uma coisa honesta. Mas também seria uma coisa terrível. Uma coisa egoísta.
E se eu estiver errada? Depois de tudo, eu pensei que minha última visão me
dizia que eu deveria salvar Christian e eu errei. Não é o tipo de notícia que você quer
dar a menos que você tenha absoluta certeza.
Mas se eu estiver certa? Eu iria querer saber que eu ia morrer?
Meus olhos vagam de Tucker para duas fileiras depois, para Christian, ele
também terminou sua prova. Ele olha para cima, como se pudesse sentir meu olhar nele.
Ele me dá um sorriso fraco que só dura poucos segundos. E então olha para Tucker, que
ainda está lutando obviamente com sua prova.
Belo movimento na lanchonete esta manhã, Christian diz de repente na minha
mente.
Ele está falando na minha cabeça! Por um minuto eu estou tão chocada para
formular uma resposta. Ele pode dizer o que eu estou pensando agora? Ele tem lido
minha mente esse tempo todo? Eu estou dividida entre o desejo de respondê-lo ou a
tentação de bloqueá-lo completamente.
Oh! Você viu aquilo? Eu finalmente respondi, tentando empurrar as palavras pra
fora para encontrá-lo do mesmo jeito que eu fiz quando conversei com minha mãe
naquele dia na floresta que tivemos uma conversa inteira nas nossas cabeças.
Eu não posso dizer se ele me ouve. Seus olhos prendem os meus.
Você está bem?
Eu olhei pra longe. Estou bem.
— Ok, abaixem os lapis — diz Sr. Anderson. — Tragam seus testes aqui na
frente. Então, estão liberados.
Tucker fez cara feia, assinou, então fez o caminho até a mesa do Sr Anderson
com sua prova. Quando ele virou de volta, eu dei a ele meu mais simpático sorriso.
— Você não foi bem. Hein?
— Eu não estudei — ele diz enquanto nós juntamos nossas coisas e caminhamos
em direção ao corredor, e eu cuidadosamente evitando Christian. — É culpa minha.
Estou queimando cartucho à toa, como meu pai diz. Eu tenho prova de espanhol
amanhã que eu provavelmente não irei muito bem.
— Eu poderia te ajudar — eu ofereço. — Yo hablo español muy bien.
— Trapaceira — ele diz rindo.
—Depois da escola? Eu vou te ensinar?
— Eu tenho trabalho esta tarde.
— Eu poderia ir depois. — Eu sei que estou sendo persistente, mas eu quero
passar cada minuto possível ao lado dele. Eu quero ajudá-lo. Mesmo que seja só com o
espanhol. Isso eu posso fazer.
— Você poderia vir para o jantar, e então nós poderíamos pegar os livros. Mas
poderíamos ter de ficar até muito tarde. Eu sou muito ruim em espanhol. — Ele diz.
— Bom pra você, eu sou meio uma coruja noturna.
Ele sorri. — Certo. Então, hoje à noite?
— Estarei lá.
— Hasta la vista, baby. — Ele fala pra mim. E eu sacudo minha cabeça e sorrio
de quanto adorávelmente idiota ele pode ser. Seu espanhol vem do Arnold
Schwarzenegger.
Naquela noite, eu me acho sentada na quente e iluminada cozinha no Rancho
Lazy Dog ... É como uma cena do Little House on the Praire
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. Wendy coloca a mesa
enquanto a Sra Avery termina de amassar as batatas. Tucker e o Sr Avery entram vindo
do celeiro e ambos dão a Sra Avery um beijo rápido na bochecha, então enrolam suas
mangas das camisas de flanela pra cima e esfregam suas mãos na pia da cozinha como
cirurgiões se preparando para a sala de cirurgia. Tucker vem para a cadeira próxima a
minha. Ele aperta meu joelho debaixo da mesa.
Sra. Avery irradia alegria em mim lá do fogão.
—Bem, Clara — ela diz. — Eu tenho que dizer que é bom ver você de novo.
— Sim, Sra. Avery. Obrigada por me receber.
— Oh, querida. Chame-me de Rachel. Eu acho que podemos deixar as
formalidades pra trás. — Ela bate na mão do marido tirando-a da cesta de bolinhos do
jantar. — Espero que esteja com fome. — O jantar era carne assada e molho de carne,
batata, cenoura, aipo, e bolinhos de soro de leite19 caseiro, regado com copos grandes de
chá gelado.
Nós comemos em silêncio por um tempo. Eu não posso evitar de pensar sobre
como essa família toda iria ficar devastada se eles perdessem Tucker. Não posso evitar
de lembrar como seus rostos pareciam no meu sonho.
Triste. Resignado. Determinado a passar por isso.
— Vou ter contar, mãe — Tucker diz. — Essa comida está muito boa. Eu não
acho que já te falei quão fantástica cozinheira você é.
— Por que agradecer, filho — ela responde parecendo feliz e supresa. — Você
nunca disse — Wendy e o Sr Avery ri.
— Ele está vendo a luz — Sr Avery diz.
Isso parece ligar alguma coisa e, de repente, todo mundo está falando sobre os
incêndios.
— Eu vou dizer um coisa — Sr Avery diz , partindo um pedaço de carne com seu
garfo e acenando com ele. — Eles nunca pegam o bastardo que começou aqueles
incêndios. Eu vou dar a ele o que pensar.
Minha cabeça dá voltas. — Alguém começou os incêndios? — Eu perguntei.
Meu coração dispara.
— Bem, eles acham que um foi iniciado por causas naturais, como uma queda de
um raio —Wendy diz.
— Mas o outro foi um incêndio criminoso. A polícia está oferecendo vinte mil
dólares para que der qualquer informação que leve a uma prisão.
Isso é o que acontece quando eu paro de assistir as notícias. Eles acham que é um
incêndio criminoso. Eu imagino o que a polícia faria se eles achasse quem realmente fez
isso. Uh, sim, Sr Policial, eu acredito que quem começou o fogo tinha 1,89 m. Cabelo
preto. Olhos âmbar. Grandes asas negras. Residência: inferno. Ocupação: líder dos
Vigilantes. Data de nascença: a hora do amanhecer.
Em outras palavras, esses vinte mil dolares que ninguém nunca vai ver.
— Bem, pelo menos eu espero que eles o peguem — diz Sr.Avery. — Eu quero
uma chance de olhá-lo no olho.
— Pai —Tucker diz cansado. — Dá um descanso.
— Não — Sr. Avery limpa sua garganta. — Essa é sua terra, o legado do seu avô
para você, isso foi tudo pelo que você sempre trabalhou, sua caminhonete, seu trailer,
seu cavalo, todos aqueles trabalhos estranhos, muita economia para ser capaz de arcar
com as inscrições das taxas dos rodeios, a engrenagem, o gás para o caminhão. Anos de
trabalho árduo, suor e mais suor, horas de prática, e não vou dar um tempo.
— Espera — eu digo, ainda tentando entender. — Foi o incêndio de Palisades
onde eles suspeitam de crime?
Sr. Avery acena.
Então, não foi o fogo de Samjeeza que começou a tentar expulsar a minha mãe e
eu no Static Peak.
O outro fogo. Alguém deliberadamente começou o outro incêndio?
— Não importa — Tucker diz bruscamente. — Está feito e terminado. Sou grato
só por estar vivo.
Eu também. E o que eu estou pensando neste momento é como eu posso mantê-lo
desse jeito.






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