21. PAÍSES ALTOS

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Na formatura todas as garotas têm que usar vestes brancas e os garotos usam


preto. Quando a banda toca - Pomp and Circumstance - nós fazemos fila dois a dois no


ginásio da Jackson Hole High School, que está cheia de amigos e parentes tagarelando,


aplaudindo, frenéticos tirando-fotos. Mas é difícil olhar para cima nas arquibancadas e não


ver Mamãe. Ou Jeffrey. A polícia apareceu em nossa casa no dia seguinte para interrogá-lo.


Desta vez, eles até trouxeram um mandado. Mas ele não estava lá. Tudo que


nós encontramos em seu quarto foi um monte de roupas e artigos de higiene desaparecidos - e


aqui eu tinha acreditado na mentira que ele me alimentou enquanto observava ele fazer suas


malas naquela noite e um único bilhete amarelo colado à sua janela.


Não procurem por mim, lia-se.


Ele nem sequer levou sua caminhonete. Estivemos freneticamente à sua procura por


dias, mas não há um traço de onde ele poderia ter ido. Ele apenas se foi.


Eu localizo Papai na platéia ao lado de Billy. Ele me dá um sinal de positivo. Eu sorrio,


tento parecer feliz. Estou me formando, depois de tudo. É um grande negócio.


Quando alguém morre nos filmes, há sempre aquela cena onde a personagem


principal fica no armário da pessoa morta e passa os dedos na manga da camisa favorita, a que


ela se lembra de tantos momentos felizes. Essa era eu, esta manhã. Fui ao armário da Mamãe e


peguei este vestido ilhó branco que ela costumava amar. Eu pensei em usá-lo, sob a minha


beca. Dessa forma, talvez uma parte dela estivesse lá. Sentimental, eu sei.


Nos filmes, a personagem principal sempre pressiona o rosto para sentir uma lufada


dessa última, remanescente dica do cheiro da pessoa. E então ela chora.
Eu queria não saber disso, quão real essas cenas são, quão inacreditável era


esse momento ficando de pé ali, olhando para tudo o que os mortos podem deixar para


trás. Como os sapatos podem ainda estar aqui? Pensei. Como as roupas


podem sobreviver, quando a pessoa não? Eu encontrei um fio de cabelo sobre o ombro de uma


camisa de flanela e o segurei delicadamente entre o polegar e o indicador, este fio de


cabelo que esteve uma vez ligado a uma pessoa que eu tanto amava. Segurei-o por um longo


tempo, sem saber o que fazer com ele, e então eu finalmente o deixei ir. Deixei-o flutuar para


longe.


Doeu.


Mas agora ela está comigo, o seu perfume de baunilha subindo do tecido, e de alguma


forma isso me faz sentir mais forte.
Isto é oficialmente tortura, Christian diz em minha cabeça. Quantos discursos


existem?
Consulto o meu programa de confiança.


Quatro.


Gemido mental.

Sobrenatural 2 Solo ConsagradoOnde histórias criam vida. Descubra agora