Capítulo 30: Surprise

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Como naquele sonho estranho em que tive algum tempo atrás, acordamos atrasadas, felizmente eu não fui de pijama para a escola. Nos apressamos a ponto de poder comer algo em casa. Chegamos pouco antes de o portão fechar ao som do último sinal antes das aulas se iniciarem e quem nos visse diria que na noite anterior estávamos a beber exageradamente. Para mim, era como se um enorme furacão estivesse passado por cima de nós. Tive sorte de me lembrar de pegar um suéter com toca e assim pude esconder aquela devastação em mim mesma.

- O que houve com vocês? - perguntou Miley assim que nos avistou adentrando a sala com certa pressa, o tom de sua voz ajudou para que a atenção da sala fosse direcionada para nós, inclusive Austin nos observou e isso me causou desconforto.

- Cala a boca. - disse Jhenny sentando-se em seu lugar, ela abaixava a cabeça virada em direção de Miley e o tom de sua voz era ameaçador, tanto ela quanto eu não queríamos nenhum tipo de atenção naquele momento.

Fiz o mesmo e abaixei minha cabeça, naquele momento tudo o que eu queria era evaporar feito a água ou sair dali o mais depressa possível. Assim que o professor chegou, as atenções foram direcionadas para ele, pelo simples fato de que ele era novo ali. Isso me fez lembrar do meu primeiro dia ali, observei a sala com o canto de meus olhos e notei que os mesmos olhares lançados para mim naquele dia estavam sendo lançados a ele. Por um instante, eu me senti melhor, mas eu sabia como ele se sentia deslocado por todas àquelas pessoas o observando estranhamente. Ele nos deu duas aulas seguidas. Na primeira delas, ele se apresentou para a sala, de pouco em pouco foi memorizando as faces e nomes espalhados pelos arredores da sala. A matéria que este aplicava era filosofia, cada frase era dita cautelosamente, aceitava opiniões como também expressava as suas com gentileza, sem nem sequer prejudicar a linha de pensamento de cada aluno. Por seu carisma, conquistou a sala e junto veio a sua atenção, isso não era muito comum entre os professores, pois a grande maioria se importava com o conteúdo a ser aplicado ou se os alunos estavam aprendendo, não que ele não se importasse com isso, mas ele se interessava pelo ponto de vista de cada um, queria entrar e se aprofundar no universo de cada um ali presente, isso fazia todos se sentirem especiais de seu próprio jeito.

Acho que depois desta aula, acabei me interessando pelo assunto. Após o término de suas duas aulas, o sinal bateu para o intervalo, todos menos eu, Jhenny, Miley e o professor saíram da sala, me senti na obrigação de falar com aquele sujeito que nos havia ensinado muito em tão pouco tempo.

- Senhor? - disse me aproximando dele, enquanto o mesmo estava de costas, guardando os seus pertences.

- Sim. - disse virando-se para nós, havia um sorriso amigável em seu rosto e isso realçou suas pequenas mas visíveis covinhas.

- O senhor não disse seu nome. 

 - O meu nome não tem importância, desde que eu possua um grande valor por trás.

- Mas... - disse Jhenny sem entender minimamente nada.

- De qualquer maneira, como vejo que são jovens curiosas, - disse fazendo um leve cafuné na cabeça de Miley, que estava mais próxima a ele. "Antes ela do que eu, meu cabelo está horrível." Pensei em meus botões, acho que Jhenny pensou o mesmo pois me olhou com o canto de seus olhos neste momento. – podem me chamar de Daniel.

O modo como ele havia dito seu nome não era no sotaque das pessoas dali, me parecia familiar, não resisti e tive que lhe fazer outra pergunta:

- O senhor é de onde?

- Eu venho do Brasil, moro aqui já faz alguns anos.

Bingo! Eu sabia que a minha intuição estava certa, aquele sotaque era mesmo do Brasil. Agora eu poderia ter alguém com quem falar em minha própria língua, no fundo eu queria que esta pessoa fosse minha mãe, seria uma coisa só nossa como um código, mas como nós não passamos muito tempo juntas, minha única opção era ele naquele momento. E eu não tenho do que reclamar pois ele aparentava ser totalmente compreensível. Depois de eu contar a ele que também venho do Brasil, Daniel se sentiu como cada aluno se sentia em sua aula: especial à sua própria maneira, ele agora sabia que havia alguém ali que o compreendia. Interessado, me perguntou de novidades e eu lhe disse do que sabia, relatei sobre minha vinda e os motivos, ele também disse que sentia falta de lá.

Daquele momento em diante, conversaríamos em nossa própria língua como uma coisa particular, esse laço que criamos em tão pouco tempo fez com que eu me sentisse lá, no Brasil. Gostaria de poder passar mais tempo conversando com este, porém fui impedida por Miley e Jhenny que sentiam-se com fome naquele instante. Estas foram comer comigo na mesma mesa de sempre, fitei Austin por um breve momento, que parecia agir normalmente, desde que cheguei não havia trocado uma palavra sequer com ele, pensei em ligar depois da aula para podermos conversar um pouco. Meu olhar se direcionou para Bieber que estava sentado na mesma mesa que Austin, lembrei-me daquele dia em que conversamos por pouco tempo, mas cada segundo foi valioso para mim, ele parecia ter um bom coração, lembrei-me também do show de talentos que o mesmo havia me informado sobre, resolvi retribuir o favor.

Após me alimentar com o lanche da cantina, chamei Jhenny e Miley para ir comigo até a secretaria e assim, fazer minha inscrição para o show de talentos. Como a inscrição não requeria muitas informações dos alunos, por sorte, consegui fazer a de Bieber sem este saber, no fundo eu sabia que ele gostaria de participar mas, algo o impossibilitava e o olhar severo de sua namorada naquele dia me fazia pensar que isso não lhe agradava nenhum pouco, fazendo com que sua influência impossibilitasse Bieber de participar do concurso, fazendo com que ele se sentir-se mal. De qualquer jeito, ele iria saber que estaria participando e assim, ficaria contente.

Após mais algumas aulas, depois de nos despedirmos de Miley, Jhenny e eu voltamos para casa a pé. Depois de almoçar, liguei para Austin, contei sobre o ocorrido de ontem me desculpando, depois de soltar uma fraca risada, este prosseguiu com dizendo-me:

 - Não é legal você conviver com este tipo de pessoa, que te atrapalha. Por que não anda conosco na escola? - ele estava se referindo a Jhenny quando disse " este tipo de pessoa", isso me fez perceber que ele ainda não me conhecia o suficiente para saber que isso é normal entre eu e ela, ainda mais que eu nunca andaria na companhia de Iggy e muito menos de Selena.

- Nós sempre fazemos brincadeiras, sei que essa passou um pouco dos limites, mas eu e ela já estamos entendidas. Eu me sinto meio deslocada entre vocês, me sinto melhor com minhas amigas. - eu não iria dizer que não suportava Selena e Iggy, então essa desculpa veio a calhar.

- Está bem, eu só quero o seu bem, sabe que me preocupo com você, não é?

- Sei sim, é um dos motivos pra eu gostar mais de você.

- Eu também gosto de você. Soube que foi convidada para a festa do Justin, você vai amanhã?

- A festa é amanhã?! - passei tempo demais fazendo outras coisas que me esqueci totalmente da festa.

- Sim é amanhã, não vai me dizer que se esqueceu?

- E-eu não me esqueci, só estava te testando. - sim eu havia esquecido totalmente, mas ninguém precisava saber. - Preciso desligar agora, até mais.

   Corri imediatamente até o quarto de Jhenny, onde esta se encontrava e parei repentinamente na porta.

- Nós estamos mortas!

   


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