Intruso

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   - Ele foi se encontrar comigo!- Grita a Aurora desesperada já com as suas mãos em minha cara tentando impedir que eu levasse outro soco.

   - O que faz aqui?- Perguntei a ela enquanto ela limpava o sangue com a manga do seu casaco de lã verde escuro.

   Antes que o meu agressor pudesse dizer mais alguma palavra, entra o pai de Aurora, Liam Smith. Assim que ele vê Aurora limpando o meu sangue, ele diz:

    - Aurora filha, o que está fazendo aqui?- Perguntou ele surpreendido.

     Aurora não solta uma palavra, apenas uma expressão de desilusão. Rapidamente corta as cordas que me amarravam com o seu canivete, pega na minha mão e me puxa para fora da sala. O seu pai ainda nos tenta impedir, mas sem sucesso. Ela me leva até minha cabine. Uma vez lá, ela vai embora virando as costas e nunca as voltando a virar. Fecho a porta e percebo que o Calum ainda dorme profundamente, não limpo a minha cara, apenas quero deitar.

    De manha acordo com uma grande dor de cabeça, provavelmente pelo soco que levei. Calum já deve estar tomando o pequeno almoço na cafetaria, levanto da cama e vejo que Calum me fez o favor de deixar a minha roupa pronta para a escola. Vou para o banheiro e me olho no espelho e vejo que o sangue já secou, por isso pego uma toalha e vou limpando o sangue que com um pouco de dificuldade vai saindo do meu rosto. Me preparo e me dirijo para a sala de aula. Hoje vou passar a ração da manhã, não tenho fome alguma.

   Quando chego na sala reparo que sou o primeiro a chegar, sento na minha carteira. Olho para a frente e vejo alguém entrando, é a Aurora. Ela vem diretamente para a minha direção, ela se senta na carteira a minha frente e pergunta:

    - Você está bem?- Pergunta ela abraçando os livros que tinha na mão.

    - Estou! O que você estava fazendo fora da cabine depois do toque do recolher?

    - A pergunta é o que você fez para merecer essa ferida no lábio?- Retrucou ela imediatamente.

    - Foi apenas uma coisa boba que o meu irmão me contou... Sua vez de se explicar!

    - Bom, eu estava... Eu estava...- Dizia ela se engasgando nas mesmas palavras.

    - Pode me contar!

    - Eu estava na minha cabine, e me pareceu ouvir a voz do meu pai, por isso eu saí para ir até ele. Abri a porta e vi ele virando no corredor, achei muito estranho ele estar fora da cama por isso segui-o até a sala. Foi quando ouvi o espancamento, e ouvi um homem gritando e depois ouvi o seu gemido, resolvi intervir.

    - Obrigado! Mas porque você interveio? Você não sabia as consequências que isso poderia gerar.

    - Foi porque...- Antes de ela acabar a frase entraram algumas pessoas na sala juntamente com a professora, aumentando a minha curiosidade para saber a razão pela qual ela interveio.

   Passei a aula inteira olhando para ela, sempre que podia ela me retribuía o olhar, as vezes até com um sorriso. Quando o sinal tocou, me apressei a arrumar as  minhas coisas na mochila para ir falar com ela. Quando a pego na porta o seu pai aparece e diz:

    - Aurora, pode vir comigo?

    - Tenho alguma escolha mesmo?- Questiona ela nem sequer olhando para cara do pai.

    - Você deveria ir ver esse machucado...- Exclama o pai de Aurora.

    Não lhe respondi, também acho que ele não era merecedor. Porque razão haveria eles de querer saber o que vi naquela noite? Foi então que minha curiosidade cresceu. Resolvi ir de novo até ao setor da agricultura. Quando cheguei na área de irrigação, voltei a passar as mãos nas paredes para achar a brecha, mas mais uma vez não encontrei nada. Quando estava pronto para desistir comecei a ouvir um som de uma brisa, então virei a mina cabeça alguns centímetros para a direita e notei que na parede tinha uma "brechinha". Muito difícil de se ver a olho nu, e quanto mais senti-la com as mãos. Aproximo o meu rosto e sinto a tal leve brisa que Calum falou.

    Corri o mais depressa que pude para o quarto, lá estava Calum fazendo os seus deveres de casa antes mesmo de fechar a porta começo por dizer:

    - Calum eu achei a brecha!- Disse eu fechando a porta.

    - Mas você foi procurar ela?- Diz ele surpreendido.

    - Sim! Era muito pequena, mas estava lá! Temos de avisar ao conselho, radiação pode entrar por lá e nos matar a todos!- Disse eu andando de um lado para o outro no quarto.

   - Eu perguntei para a professora e ela disse que é normal, é apenas para regular a pressão, mas que no final dessas brechas há um filtro, que deixa o ar sem radiação, ela foi feita especialmente para a área de agricultura, para as plantas!

   - Mas eu pensei que...

   - Pensou errado.- Diz ele me interrompendo!- Esquece essa brecha Ulerick!

   De repente ouço alguém batendo na porta. Abro a porta e vejo que é o pai da Aurora. Antes de eu dizer qualquer coisa ele diz:

    - Boa tarde senhor Bennett será que tem um minuto?


  









Te perder para o infinitoOnde histórias criam vida. Descubra agora