Estamos no ano 2075. Já se passaram quase 60 anos desde que a bomba foi lançada e uma nuvem de cinzas cobriu o céu que uma vez já fora azul. Os humanos são peritos em estragar a natureza, ás vezes me questiono sobre sermos mesmo uma espécie racional. Como consequência da nuvem de cinzas, a temperatura baixou drasticamente, nós voltamos a era do gelo, mas quem dera que fosse só era do gelo. Para além da baixa temperatura, toda a superfície da terra está cheia de radiação, impossível sobreviver mais de alguns minutos lá fora.
Meu nome é Ulerick, tenho quase dezoito anos e vivo na caverna 5B17, uma das muitas cavernas por aí. Existem cinco cavernas, cada uma delas tem uma função, como por exemplo a 5B17 serve de escola, e as cavernas são divididas em setores e cada setor tem uma função. Todos da minha idade parecem ansiosos para acabar o ensino e ir fazer o teste para saber se vão entrar no Novos Estados, menos eu. Eles estão muito confiantes que vão passar no teste, no entanto penso como será lá dentro, nunca poder envelhecer, nunca poder morrer com quem amamos, não me sinto muito confortável com a ideia de imortalidade. Nunca partilhei isso com ninguém, mas para ser sincero me sinto assustado.
Falta um mês para o teste, um mês para o meu aniversário e não posso sentir medo, tenho de ser valente, até porque, como uma pessoa como eu pode representar qualquer ameaça para os Novos Estados? São 7:47 da manhã, tenho de me apressar, se não vou me atrasar de novo para a primeira aula do dia. Vou correndo para o setor 7 onde fica a escola. Rapidamente chego e entro pela escola a correr, passo por todas as sala e chegando a minha que é ao final do corredor, entro correndo e levo um susto, vendo que todos os meus colegas já chegaram antes de mim. Olha o para o relógio, e ele marca exatamente 8:05. A professora me olha com uma expressão de desilusão, pois anteriormente eu tinha prometido a ela que nunca mais me atrasaria. Ela apenas diz:
- Sente-se senhor Bennett!- E lá fui eu até ao meu lugar.
No caminho da carteira 13 (que era a minha carteira) eu reparei na Aurora Smith, uma linda menina de cabelos ruivos, olhos verdes e pele pálida. Ela é a filha do Líder da minha caverna (5B17). Ela nunca anda com as outras garotas da turma, anda sempre sozinha fechada em um mundo que ela criará somente para si. Lá estava ela com seu caderno de esboços, sempre estive curioso para saber o que desenhava, afinal somos bastantes parecidos, pois ambos somos solitários, mas, a diferença é que ela sabe quem são seus pais. Me sentei e continuei observando-a. Em um piscar de olhos, ela me olhou e senti uma conecção instantânea, que foi quebrada pela professora.
- Senhor Bennett, algum problema?- Questionou ela, com o rosto quase encostado ao meu.
- Não professora, nenhum.- Disse assustado prendendo um folego que perdi algures enquanto observava Aurora.
Assim que a professora se afastou encontrei o ar e respirei fundo entrando para o meu mundo, deixando de ouvir as palavras que saiam da sua boca. Assim que dei por mim já era hora de abandonar a sala, era a hora do almoço. Fui o último a sair da sala. Como sempre me dirigi ao refeitório, e peguei a minha ração do almoço, a comida era uma mistela de arroz com raízes, as poucas formas vegetais que conseguiram sobreviver à bomba. Procurei uma mesa vaga, mas todas já estavam cheias, ou quase todas. Havia alguns lugares em uma mesa e essa era a mesa em que Aurora se encontrava sozinha, sem sequer tocar na ração. Ela estava entretida no seu caderno de esboços. Me dirigi até a sua mesa e sentei de frente a ela. Aurora mexia o lápis com uma delicadeza e graciosidade, criando formas irregulares. Quando dei por mim as seguintes palavras já haviam saído da minha boca:
- O que você está desenhando?
- Uma coisa chamada montanhas...- Exclamou ela com uma voz aguda e doce.
- O que são montanhas?- Perguntei mais um vez sem sequer pensar.
- Bom, o meu pai me deu um livro no meu aniversário, era sobre a natureza e lá tinha umas coisas chamadas montanhas!- Disse ela entusiasmada, dirigindo o seu olhar para mim.
- Do que elas são feitas?- Questionei eu, só que dessa vez um pouco mais interessado, porque afinal o que eram essas tais de montanhas?
- Bom, elas são basicamente grandes quantidades de rocha e terra e são muito altas.
Eu dei uma pequena gargalhada, ela me retribuiu com um belo sorriso e foi então que senti algo de estranho dentro de mim, que estranhamente gostei. Então lhe perguntei se ela queria ir comigo há um lugar especial depois da escola, um lugar onde ela poderia... Nem tive tempo de terminar a frase do meu convite e ela já respondeu que não poderia e saiu da mesa com pressa. Fiquei eu, sozinho na mesa do refeitório. Depois de alguns minutos me dirigi a sala, olhei para ela e não me retribui o olhar como antes havia feito, me sentei e voltei para o meu mundo.
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Te perder para o infinito
Ciencia FicciónA guerra nuclear entre as potências mundiais levou o mundo à cinzas... Para manter a ordem, os poucos que sobreviveram à guerra fizeram um plano para manter a paz entre os seres humanos que restaram. Mas esses planos terão impacto em um relacionamen...