A Caverna final

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Assim que dou pro mim já estamos no dia da ida para o treinamento, hoje será uma rotina diferente. Na minha casa de banho penteio o cabelo enquanto olho para a ferida do meu lábio superior quase cicatrizada. Calum entra pela porta e só me olha, seu olhar era triste, hoje pode ser o nosso último dia juntos. Por isso me despeço dele lhe dando um abraço, não houve nenhum diálogo entre nós, nem uma única palavra. Pego em uma maleta que previamente havia preparado. Dentro dela estão: três camisas, duas calças de treino, uma escova de dentes e uma foto minha e do Calum, agora é a hora de ir, não sei o que me espera agora.

Avanço até o corredor da minha cabine e espero pelo toque assim como nos foi instruído a fazer minutos antes da chamada para entramos nos transportes que nos levariam até a "Caverna final". Assim que o toque é accionado vêm dois guardas com protecção corporal e tazers para nos levar até os transportes, e assim numa ordem quase que espontânea nos metemos em fila e seguimos os guardas até a "Praça comum". A Praça comum era o único ponto do sistema de habitação subterrâneo que ligava todas as cavernas, e também era onde se situava o ponto social, onde se vendia a mercadoria, pessoas socializavam e se encontravam para grandes eventos. Uma vez que lá chegamos notei que pela primeira vez a praça estava totalmente vazia, apenas lá estavam os transportes e vários guardas... Antes de entrarmos nos transportes fomos revistados e obrigados a entregar todos os nossos pertences, logo em seguida obtivemos a permissão para subir a bordo e partir para a Caverna final.

No caminho para a Caverna comecei a refletir sobre o possível futuro entre mim e a Aurora, quase impossível eu sei... Mas uma coisa dentro de mim dizia que a realidade que eu acreditava que estava predestinada podia mudar. O túnel pelo qual o transporte se movia era diferente dos outros, não era de concreto como os outros. Mas sim cromado, provavelmente era Níquio (Um material inventado durante a crise nuclear, este material com uma aparência de metal era capaz de filtrar radiação por si mesmo. Foi a razão pela qual conseguimos sobreviver durante este tempo no subterrâneo.). Não sei por quanto tempo viajamos mas diria que foi por cerca de quatro horas e isso a uma grande velocidade por isso nem por sombras estávamos perto da nossa antiga caverna, até que finalmente o transporte parou e esse foi o indicador de que tínhamos finalmente chegado.

Não saímos imediatamente dos transportes, aguardamos cerca de trinta minutos antes de poder sair. Esta caverna era muito peculiar, totalmente diferente das outras, ela estendia-se por cerca de trinta andares para o subterrâneo quase que não dava para ver o fundo. No entanto em cima de nós havia cerca de mais dez andares e no topo havia uma redoma de transparente de material cujo eu não consegui identificar mas era extremamente fino e forte, e tinha algum tipo de tecnologia que permitia derreter a neve mal tocasse nele, pela primeira vez na vida pude realmente ver o que estava fora das cavernas. Assim como nos foi dito tudo o que havia lá fora era gelo... Tudo havia sido tomado pelo gelo!

Fomos prosseguindo em um corredor extenso bastante iluminado, parecia o hospital da caverna. Tudo era de cores bem claras e com uma aparência extremamente limpa. Fomos encaminhados para uma sala onde havia apenas secretárias, cadeiras e algumas câmaras de vigilância. Todos nós entramos e sentamo-nos, fiquei a procura da Aurora mas não a via em lado nenhum até que um guarda abordou-me e perguntou:

- Algum problema "filho"?

- Nã ã ã nã... Não senhor!- Exclamei eu apercebendo-me de que foi o guarda que me deu o soco naquela noite.

- Se houver algum problema podes sempre contar comigo.- Disse ele com um sorrisinho sínico em seus lábios.

E como uma abutre ronda a sua carcaça assim como ele, não tardou o pai da Aurora aparecer na sala para gratificar os alunos pela paciência e por ter chegado até esta etapa e relembrou-nos de que iriamos ter uma semana de preparação para os testes, mas enquanto falava foi interrompido por um aluno:

- Por quanto tempo achas que vai continuar a esconder esta mentira?- Gritou ele insanamente derrubando a sua cadeira fazendo o estrondo ecoar pela sala.

Antes que o pai da Aurora pudesse responder, ele foi interrompido pelos guardas que invadiram a sala e aplicaram uma injeção em seu pescoço fazendo com que ele desmaia-se quase imediatamente. Logo em seguida pegaram nele e puseram em uma maca enquanto isso todos os alunos se assustaram e começaram a sussurrar o que fez com que o pai da Aurora começasse a falar para que os pudesse distrair daquele alarido que ali acontecia.

- Não se aflijam meninos! Está tudo bem, só lhe administraram um calmante pois ele estava um pouco descontrolado por causa dos nervos... Também quem não ficaria?- Disse ele num ton humorístico para tentar amenizar a situação, no entanto todos puderam ver o quão nervoso ele estava, engolindo toda a sua saliva a seco e deixando o suor escorrer em seu rosto. Durante esta confusão toda oiço uns passinhos leves e apressados como os de Aurora a ecoar pelo corredor, quando olho fixamente em direção a porta noto que o som cada vez era mais notável começando a atiçar a minha curiosidade até que de repente Aurora entra pela porta a dentro dizendo:

- Desculpa pelo atraso! Pai?- Disse ela surpreendida.

- Entra filha, senta-te acabamos de começar...- Disse ele de uma forma quase embaraçado.

A Aurora foi caminhando pela sala e o único lugar vago da sala era a secretária ao lado da minha, então ela dirigiu-se até ela e sentou-se. O pai da Aurora passou o discurso inteiro para a nossa direção tentando quebrar qualquer conexão visual que fizéssemos. E prosseguiu ele:

- Vocês alunos e contribuidores desta causa deviam estar orgulhosos de estar aqui hoje! pois o dia que ditará o vosso futuro está próximo, e independentemente dos resultados dos vossos testes saibam que vocês são importantes para nos e mesmo que não vivam para sempre continuaram a contribuir para esta causa... Mas não tenham esperanças altas pois nunca se sabe o resultado do teste, muito de vocês podem nunca mais se ver- Disse ele olhando para mim e para a Aurora- Por isso só vos quero desejar uma boa semana de treinos e boa sorte não só hoje mas para sempre...

Depois do discurso, a única coisa presente na sala era o silêncio... Enquanto saia da sala os seus passos pesados e certos ecoavam pela sala. E quando finalmente chegou a porta, virou ligeiramente a cabeça e disse:

- Ah! E não esqueçam que o teste é individual e qualquer um que tentar o contrario terá que ser punido como especifica o protocolo!- Finalizou ele deixando a sala com o seu "abutre".

Assim que ele saiu foi dito que os alunos deveriam se dirigir até o andar 29 onde poderiam circular livremente... E assim fomos nós em direção ao elevador que nos levaria até o andar, até  que um dos seguranças nos abordou e a mandado do pai dela mais uma vez fomos separados.



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