Capítulo 4 - Dúvida

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Na manhã seguinte, Sam havia escolhido uma cadeira afastada para sentar-se na cafeteria. O lugar era mais reservado ao mesmo tempo em que proporcionava uma ampla linha de visão à ela. Passava todos os dias por aquele mesmo lugar, comprava seu habitual café e seguia para a NYSP, ignorando todos em seu caminho, apressada para a labuta cotidiana. Mas hoje era diferente, a mulher havia separado um tempo de seu dia para apenas permanecer ali por algum tempo, e assim o fez.

Pessoas passavam de um lado para o outro, segurando seus copos com café, muffins e afins. Mal se cumprimentavam e ao esbarrar umas nas outras apenas continuava seu caminho com uma sutil cara feia e preguiça de pedir perdão.

Todas elas sabiam o básico sobre o que a polícia liberou para a imprensa; tinham o conhecimento de que uma morte, assustadoramente parecida com universitária assassinada pelo seu namorado ciumento havia ocorrido.

Sam escuta seu celular tocando, interrompendo seus pensamentos sobre o assassino mais odiado pela mesma. A mulher desliza o zíper de sua bolsa, e retira o pequeno objeto de dentro do compartimento de couro preto sintético.

- Alô? - disse Sam.

- Olá, Sam. Onde você está? - perguntou Lizzie.

- Na cafeteria. Por quê?

- Interrogarei o álibi de Chris. Achei que gostaria de saber. - respondeu Lizzie, fazendo Sam levantar instantaneamente da cadeira onde havia sentado há meia hora.

Após despedir-se de sua irmã de maneira apressada, encerrou a ligação e guardou o celular novamente.

Já que seu velho carro permanecia ruim, Sam foi praticamente obrigada à demorar o dobro do necessário para chegar à NYPD, ainda mais com o fato de que o horário não seja o mais oportuno, levando em consideração o grande número de pessoas que a acompanharam no veículo.

Logo que chegou no prédio, Sam entrou às pressas, identificando-se rapidamente na recepção e vai até o andar em que Lizzie estava.

O Capitão parou rente à porta e a empurrou, dando lugar para que Sam passasse, ela agradeceu e caminhou para o interior da sala. Conrad entrou logo em seguida.

Sam avistou imediatamente os detetives Ryan e Castillo no interior do lugar. Ambos encontravam-se de pé observando a policial interrogar uma mulher, quem Sam rapidamente reconheceu da investigação. Eles olhavam através do vidro que auxiliava separar as duas salas.

Não sabia quanto tempo estavam ali, mas lhe pareceu bastante. Os cumprimentou rapidamente, entretanto, os quatro não possuíam a mínima vontade de perder um segundo sequer do interrogatório, o interesse era mútuo. Portanto não foi preciso muito tempo até que todos se calassem para prestar atenção no som que os aparelhos reproduziam da sala.

- Então... - disse a detetive Elizabeth Caskett, calmamente. - Está afirmando que o senhor Parker teria tempo suficiente para sequestrar e matar Chloe Finch?

Lizzie permanecia sentada na cadeira pouco confortável que estava naquela sala. Não conseguia se lembrar de quantos vezes estivera na situação de fazer alguém confessar, mas parecia-lhe sempre tenso. Ela estava de costas para o vidro e os policiais atrás do mesmo. Mas Sam era perfeitamente capaz de imaginar a feição com que sua irmã estaria.

Para ela, as regras são simples à respeito de seus clientes. Todos eles passam por aquele mesmo processo, os suspeitos são trazidos à Delegacia de Homicídios e devidamente investigados; os mais difíceis são os que possuem seu humor áspero, clara prepotência e o poder de intimidar à quase todos.

Entretanto, Sam precisava apenas os representar. Alguns dos casos conseguir um acordo, em outros, afirmar a inocência, se assim ela acreditar. Mas não Lizzie, ela precisava fazê-los confessar. Com cada pessoa diferente uma das outras, as abordagens também teriam que se divergir, o que apenas ajudava a tornar o trabalho um pouco mais... trabalhoso, na perspectiva da advogada.

- Não, não é assim... é que... - respondeu a mulher, gaguejando enquanto escolhia com quais palavras se expressar.

Ela encontrava-se claramente assustada com a situação, e quando Lizzie soltou uma sutil risada nasalada, fechou os olhos por alguns segundos, não sabendo o que, de fato, deveria responder à policial.

- "É que..."? - repetiu Lizzie, em sinal de pergunta, fazendo menção para ela prosseguir. - O que? Quando eu digo parece bem ameaçador, não é? - perguntou, fazendo a menina concordar.

Então continuou:

"Entretanto, é exatamente assim que deve encarar. Acha que pegarão leve com ele? Ele pode ser extremamente influente, mas acho que sabe que Chloe também não era uma qualquer. Reconheço que é difícil ter praticamente duas vidas em suas mãos, mas quero que volte até àquele dia. Esqueça Chloe, ela está morta. Esqueça Chris, ele está preso. Apenas lembre-se do dia do assassinato. Você esteve com o Parker, você é o álibi dele.

Agora, dava tempo dele ir até Chloe Finch e matá-la?" - completou Lizzie, observando a mulher à sua frente.

A interrogada permanecia observando um ponto qualquer na direção do chão, até que foi possível perceber lágrimas brotando em seus olhos. A mulher não importou-se com elas, apenas as deixou cair.

- Eu quero falar, mas você simplesmente... - disse ela, interrompendo-se pelas lágrimas.

- Perde a certeza. - completou Lizzie. - Eu sei.

A policial ficou um tempo em silêncio observando a mulher sentada à sua frente, logo após a mesa que as separava. As lágrimas caíam incessantemente, enquanto ela soluçava baixo e as limpava com ambos os dedos indicadores.

- Sabe Sarah, a grande maioria das pessoas tem um jeito comum de lidar com a dor da perda. Vingança. - afirmou Lizzie. - Alguns a disfarçam de "Justiça". A grande maioria quer que os culpados sofram, tanto quanto seus entes queridos ou amigos falecidos. Porém, alguns não se importam em saber se o suspeito é de fato o culpado, eu mesma já comprovei a inocência de alguns e sabe o que as famílias das vítimas fizeram? Brigaram comigo, achavam que estava acobertando o assassino.

"Eles só querem que alguém esteja preso. Pronto, assim pensam que se sentirão melhores. Não os julgo, é a forma de se reconfortar. Policiais sabem disso, por este motivo fazem um péssimo trabalho prendendo a primeira pessoa cuja alguma prova seja aceita, sendo esta prova plantada ou não. Eles se aproveitam da dor, isso pode ter acontecido com Christopher Parker. Quero saber quem realmente a matou, e apenas assim ficarei em paz, com esta pessoa atrás das grades.

Não precisa ter medo. Apenas responda o que você acha." - disse Lizzie, antes de parar para respirar e voltar a fazer a mesma pergunta - Na sua opinião, dava para Chris matar Chloe?

A mulher ouvia o que Lizzie dizia atentamente, olhando em seus olhos e absorvendo suas palavras para si, na tentativa de sentir-se minimamente melhor e assim, mais confiante.

Ela chorava de cabeça baixa quando a balançou inúmeras vezes, parecendo estar negando algo. Continuou assim por alguns poucos segundos até que levantou sua cabeça novamente, olhando para policial. As lágrimas borravam sua maquiagem, que escorriam-lhe pela suas bochechas na cor preta.

- Não... - disse Sarah. - não dava para Chris matar Chloe. Ele estava comigo na hora da morte. - completou, antes de pôr os cotovelos sobre a mesa e tampar o rosto com as mãos, secando as lágrimas que insistiam em cair.

- Certeza?

- Fui embora... Antes disso mandei uma mensagem para minha amiga, foi uns 20 minutos antes do horário. Foi pouco, mas...

Lizzie virou-se para trás, observando o vidro e acenou com a cabeça uma vez, sabendo que os detetives estariam assistindo à sessão.

Como se a irmã fosse capaz de a enxergar, Sam acenou novamente, imitando o ato de Lizzie.

Sarah havia acabado de comprovar a inocência de Chris, não era considerado um álibi perfeito. Uma frase que Lizzie sempre dizia para seus suspeitos, juntamente com seu lema "Todos são culpados até se prove o contrário" era "Álibis podem ser comprados".

Entretanto, com a nova morte estava claro para a advogada que não era crime passional, tornando Chloe apenas mais uma de suas azaradas vítimas escolhida ao puro acaso.

Sam respira fundo enquanto pensa no Caso Parker e observa sua irmã virando-se novamente para Sarah, quem parecia minimamente mais calma após a informação que dera.

- Sabia... - disse Sam, em um murmúrio.

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