Não demorou para que Sam saísse do carro assim que ele parou. Tudo o que mais queria era entrar em seu apartamento, permanecer em segurança e sozinha. Do jeito em que mais gostava e estava acostumada a estar; apenas ela própria, sua melhor companhia.
Parou rente à portaria justamente com Parker, e em um gesto meramente educado, perguntou se Chris gostaria de entrar. Ao ouvi-lo aceitar, ficou surpresa em gostar da resposta que recebeu.
Ambos continuaram o caminho até o apartamento de Sam, e assim que adentraram à casa ela o convidou para sentar-se e perguntou:
- Quer algo? Para beber, talvez?
- Não, obrigado. Estou com... um nó no estômago. - disse Chris.
Sam suspirou com a frase do homem. Virou-se para ele, com o cotovelo nas costas do sofá, enquanto apoiava sua cabeça em uma das mãos.
Parker disse, olhando para ela:
- Sinto muito.
- Sim... - o respondeu de maneira serena. - Só penso em Michael, como ele deve estar. Não é a primeira vez, sabe.
Chris franziu o cenho com a frase. Ela prosseguiu:
- Nossa família tem um histórico ruim. Bem ruim. Às vezes penso que fomos marcados... ou... sei lá.
- Acredita em coisas assim? Ou... é religiosa?
- Não! não... - disse Sam, rapidamente. - Pelo menos não mais. Quer dizer, se Deus não liga para nós, por que devemos ligar para ele, não é mesmo? - completou, mas embora tenha parecido, não foi uma pergunta e sim uma autoafirmação. - Havia uma sombra de azar nos rondando, não entendo o por quê. - terminou a sentença, pondo a unha do dedo polegar entre os dentes e fitando à frente, mas em nenhum ponto específico, em um estado pensativo.
- Todas as famílias já tiveram fases ruins... - disse Chris, simplesmente. - O que aconteceu? Se não se importa em contar, claro. - completou.
Sam balançou a cabeça negativamente algumas vezes, saindo de seus devaneios para responder o homem.
- Não... sem problemas. - disse, com um sorriso sutil e triste no rosto. - Costumávamos ser 4 irmãos. E minha mãe e meu pai. Ele era um homem bom. - disse, ganhando um aceno de Chris. - Mas depois de algum tempo de casamento ele passou a ficar estranho em casa, e minha mãe descobriu que estava a traindo, já começou a ruinar daí, mas acabou por o perdoar. Não me lembro muito desta época e não costumavam me contar sobre traições, claro, mas ela me falava que o amava demais para jogar tudo fora. Ele era policial, morreu em uma perseguição quando eu tinha 12 anos.
- Nossa... - começou Chris, hesitando enquanto procurava palavras clichês de conforto. - eu...
- Esse não é o fim. - disse ela. E continuou: - Meu irmão mais velho, Alexander, envolveu-se com drogas, desenvolveu depressão, e pouco depois cometeu suicídio. Devíamos ter previsto... acho que é por isso que somos tão unidos hoje em dia. Nunca se sabe quando pode acontecer algo do gênero. - completou Sam, vendo a feição um tanto atônita do homem à sua frente. - Ele estava na Academia de Polícia, por causa do meu pai, deve ser por isso que todos nós tentamos também, mas acabei por desistir.
- Nossa... que história. Minha família é um tédio perto da sua. - disse Chris, fazendo-a sorrir.
- Que continue assim. - disse Sam, recebendo um aceno do homem ao seu lado. - Tive alguns problemas no passado por conta desses acontecimentos, e quando entrei para a polícia tudo piorou. Todos tinham esse sonho em comum, mas não eu.
- Então seu sonho era... investigar um caso antes de ir para Suprema Corte? Nada mal.
- Pode se dizer que sim... - sorriu - Também não seria nada mal ser a primeira Ministra da Justiça, ou Juíza. - disse ela - Isto é, quando eu não estiver ocupada tentando livrar pessoas que meus irmãos acabaram de prender. - completou.
- Ah, claro. - exclamou o homem, em tom de sarcasmo. - Que bom que fez isso. - completou, desta vez em tom e expressão séria. Fitava a mulher à sua frente, quem prosseguiu em silêncio.
Chris pigarreou e logo disse, modestamente:
- É... é seu trabalho. - Sam rapidamente desviou seu olhar de Chris, quem por sua vez, levantou do sofá. Virou-se para ela e disse:
- Está na minha hora.
- Ah, claro. Te acompanho até a porta. - disse Sam, levantando-se e indo abrir caminho para Chris, quem prosseguia atrás dela há pouca distância.
No hall, desviou seu olhar para alguns porta-retratos que enfeitavam o lugar. Parou e os observou. Pegou um deles em mãos e olhou mais de perto, reconheceu na foto Sam, sua irmã, Lizzie, e o irmão, Michael, mas outro homem com cabelos castanhos e olhos amendoados estava ao lado de todos eles, Chris logo soube que era o falecido irmão, já que era o único que nunca havia visto.
- Alexander é o mais velho.
Chris virou-se para trás. Sam caminhava em sua direção. Parou ao seu lado e pôs o dedo indicador sobre o homem na fotografia.
- É, imaginei. - respondeu Chris, enquanto colocava o porta-retrato de volta no lugar.
Na manhã seguinte, no prédio do 12º Distrito de Polícia, Lizzie permanecia encostada na extremidade da mesa de Ryan, que nem ao menos encontrava-se ali naquele momento. Com ambas as mãos espalmadas atrás de si, ela encarava o quadro branco à sua frente. O mesmo continha informações sobre o Caso Parker. Redhead, como havia sido chamado pela população e mídia, havia feito mais uma vítima. Desta vez, uma bem peculiar. Para a detetive, não fazia muito sentido.
- Você é mesmo um Serial Killer? - disse Lizzie, mais como uma afirmação, para ela mesma. Apenas pensara alto, já que estava sozinha. Pelo menos, era o que pensava antes de ouvir a voz de Sam atrás de si.
- Sim. - disse, fazendo a outra virar-se para trás assustada. - Mas eu já sabia.
- Você não pode chegar assim! - exclamou. - Está aí há quanto tempo?
- Não muito, desculpe. Não queria interromper sua linha de raciocínio. - respondeu Sam. Lizzie acenou para ela, e virou-se para o quadro novamente, para a mesma posição na qual encontrava-se antes.
- Viu Michael?
- Não, ele não quer falar com quem quer que seja. Tentei ligar para ele hoje de manhã, assim que saí do necrotério. Não atendeu a porta quando fui à sua casa, e ele estava lá. - respondeu ela.
Sam suspirou alto e fechou os olhos momentaneamente. Mas logo focou na outra afirmação, perguntou:
- Já saiu a autopsia? E então?
- É ele. Irrefutavelmente. - respondeu Lizzie, após algum tempo em silêncio. Continuou: - Não entendo o por quê!
"Por qual motivo esperar um ano? Por qual motivo matar Lara? Daquele jeito tão..." - completou, ela gaguejou tentando encontrar as palavras adequadas, mas parou ao perceber que nem ao menos ela sabia o que dizer. - voltou-se para Sam. - Não sei o que fazer. Preciso de respostas, a cidade está em pânico! O Capitão tem uma coletiva semana que vem, e tudo o que temos é absolutamente nada.
- É pessoal. Ele se pôs em perigo, saiu de sua zona de conforto. Pra quê? Provar que é mais inteligente que nós? Que não teme a polícia? - deduziu Sam. Lizzie apenas fechou seus olhos e balançou a cabeça negativamente, mostrando-lhe que não saberia responder.
- Não sei... mas estou começando a acreditar nisso. - disse Lizzie.
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O Último Desafio
Mystery / ThrillerAo abrir mão de seguir a profissão de detetive em tributo ao seu falecido pai para dedicar-se à advocacia, Samantha Caskett, com a carreira em ascensão e irrefreável crença na inocência de um réu, aceita o caso que todos de seu escritório rejeitou:...