Respostas?

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Era uma hora da tarde e eu já estava no CafeBook. Olhava no relógio de cinco em cinco minutos, estava ansiosa e ao mesmo tempo nervosa. Comecei a ajudar a Akemi mesmo estando de atestado médico, meu ombro estava dolorido então não pude fazer muita coisa, mas mesmo assim tentei ajudar o máximo possível pra me distrair e ver se assim o tempo passava mais rápido. Enquanto arrumava os livros na prateleira, comecei a pensar no que perguntar ou como conseguir a confiança de Kook pra que ele se abra comigo. Acabei me deixando levar pelos pensamentos - como sempre - e só depois que acabei percebendo que deveria ter arrumado os livros em ordem alfabética e não tudo misturado. Suspirei e comecei denovo, foi quando ele chegou.
—JungKookie! - Corri recebê-lo.
—Olá Amy, me atrasei?
—Não, eu que cheguei um pouquinho mais cedo. - Duas horas só. —Venha, sente-se.
Ele tirou seu livro de química da bolsa e perguntou:
—Bom, qual parte especificamente você não entendeu?
Boiei por alguns segundos até lembrar do fato de que ele estava aqui porque eu falei que não tinha entendido a fórmula das anotações.
—Ah, aqui. - Mostrei a ele e peguei meu caderno pra fazer de rascunho.
—Primeiramente você tem que identificar se o delta H é positivo ou negativo. Se ele for negativo significa que ele libera calor então você posiciona a seta para baixo. - Ele começou a explicar. (...)
—Aí no final você soma todos os resultados pra saber quanto calor a substância liberou.
—Nossa, só isso? Nem é tão difícil assim!
—Viu só? Haha.
—Obrigada Kookie, você me salvou. - Falei com um sorriso.
Ele brevemente riu e respondeu:
—Denada, qualquer coisa pode falar comigo que eu te ajudo.
—Não sei como te agradecer Kookie. Quer comer algo?
—Ah, claro.
—Aqui ou em alguma lanchonete? Tem uma aqui perto, o bolo de chocolate de lá é maravilhoso.
—Pode ser aqui mesmo não estou com tanta fome, fiz um lanche antes de vir.
—Ah, ok, vou pegar o cardápio.
Ao chegar no balcão, Akemi começou a me encarar.
—Quais são suas intenções com esse garoto? - Perguntou.
—O que está insinuando?
—Ah, ele é gato...
—Se você está perguntando se eu tenho intenções sexuais com ele, a resposta é NÃO. Pode dar em cima dele mais tarde.
Ela me entregou o cardápio com "aquela carinha" e respondeu:
—Okay.
Revirei os olhos e voltei pra mesa. Enquanto Kookie escolhia o que pedir eu comecei a guardar as anotações e livros dentro da minha bolsa, percebi que a letra das folhas era um pouco diferente da letra do rascunho que ele usou, mas não dei importância. Ele pediu um café, um salgado e um grande pedaço de bolo de chocolate branco; e eu, pedi um refrigerante e uma coxinha de frango com catupiry bem gorda. Conversávamos sobre coisas aleatórias, como o quanto estranha é a professora de sociologia ou o quão parecido é o professor de filosofia com aqueles nerds de filmes americanos.
—Vai querer mais alguma coisa? - Perguntou ele.
—Não e você?
—Não não, apesar de aquele bolo estar delicioso. - Ele sorriu. —Vou ir pagar, espere aqui. - Ele se levantou.
Puxei o braço dele rapidamente para baixo fazendo com que ele se sentasse novamente.
—Não, eu vou pagar, é o mínimo que eu posso fazer por você ter vindo aqui tirar as minhas dúvidas.
—Você já pagou da última vez, deixe-me pagar esta.
—Nem pensar!
—Aish, Jimin tem razão, você é realmente teimosa!
Desviei o olhar.
—Jimin...ele sabe que está aqui?
—Não, eu disse que iria estudar com um colega mas não contei que era você. Se tivesse contado ele não me deixaria vir, sabe como ele é né.
—Ah, sim...
—Mas enfim, deixe-me pagar dessa vez, quero me redimir se não me sentirei mal.
—Se redimir? Pelo que? Você não fez nada.
—Ah, é que na última vez que estive aqui não foi muito agradável. Jimin foi estupido com você e também com aquele seu amigo.
—Confesso que estou começando a me acostumar com o jeito do Jimin, e.. quanto ao HongBin, bom, ele não simpatizou muito com o Jimin e deixa isso claro, ele não gosta do jeito que ele me trata. - Falei meio sem graça.
—Me desculpe perguntar mas, qual a sua relação com o Jimin afinal? - Me surpreendi ao ver que quem tomou iniciativa sobre o assunto foi ele, não esperava que ele iria perguntar assim de cara. —Ele me disse que não sabe quem você é ou o porquê de você trata-lo daquele jeito. Não fique chateada comigo, eu só quero entender o porquê, por que se humilhar tanto pra uma pessoa que te trata tão mal?
E de repente aquela velha expressão cabisbaixa dominou o meu rosto, assim como toda vez que tocam nesse assunto.
—Já faz bastante tempo... éramos crianças. Jimin se tornou meu único e melhor amigo, ele me estendeu a mão enquanto todos me tratavam como se eu fosse ninguém. Vivíamos como irmãos, até a guerra acontecer. Ele tirou o meu irmãozinho e eu daquele tumulto da praça, nos levou pra um lugar seguro, uma igreja. Ele disse que era pra mim espera-lo lá e que ele ia voltar pra procurar a irmã mais velha. Eu não deveria ter deixado ele ir, me arrependo tanto... eu...eu deveria ter feito alguma coisa, deveria tê-lo abraçado com todas as minhas forças ou pelo menos ter ido com ele. Mas não, eu fiquei com medo e deixei ele voltar sozinho pro meio daquela multidão de desespero. - Senti meus olhos marejarem, toda vez que falo sobre isso, aquele dia terrível repassa na minha memória, e eu sinto como se o sentimento ruim que eu carrego comigo desde então apertasse meu peito de um jeito cada vez mais doloroso. —As freiras da igreja me levaram pra um convento, mesmo assim eu esperei ele voltar. Todos os dias sentada olhando janela á fora eu esperava ele aparecer, mas não apareceu. Até os meus quinze anos de idade eu pensei que ele estivesse morto, até voltar pra cidade. Quando eu voltei naquela praça depois de sete anos e vi que o nome dele não estava no memorial, eu senti um sentimento que eu não sentia a muito tempo: esperança. - Quando a primeira lágrima caiu, não consegui mais conter. —Quando eu vi ele na escola pela primeira vez eu fiquei tão feliz Kookie, a única coisa que eu pensava era em correr abraçá-lo e dizer "finalmente". Esperei tanto tempo por esse momento pra ele me tratar como se eu fosse um lixo e dizer que não me conhece. Eu me senti como se tudo a minha volta tivesse desabado, mas mesmo assim eu volto pra casa angustiada e vou pro colégio com medo, medo de chegar lá e ver que ele não está e que não vai voltar mais. Vocês dois parecem ser bem próximos, você deve saber de alguma coisa, por favor Kookie me dê alguma resposta, eu preciso saber o que aconteceu com ele! Aquele não é o meu Jimin!
Ele suspirou, não conseguia olhar direito nos meus olhos cheios de lágrimas, estava nervoso. Ficou quieto por um breve momento, decidindo se deveria me contar ou não.
—Eu e o meu pai estávamos correndo para um refúgio naquele dia, minha mãe foi vítima de uma bala perdida assim como a irmã do Jimin. Enquanto corríamos, avistamos ele chorando do lado do corpo dela, tudo aconteceu tão rápido, meu pai não conseguiu deixá-lo lá daquele jeito e voltou. Jimin não queria sair de lá, meu pai o pegou no colo a força, depois segurou firme na minha mão e corremos pro abrigo mais próximo. Depois que tudo passou nós procuramos por algum parente dele mas não encontramos, e desde então nós moramos juntos como irmãos. Voltamos pra Seul este ano, estávamos morando em Busan com a minha tia, voltei pra cá pra cuidar do meu pai, ele está passando por dificuldades por causa do álcool.
—Ah...se ele passou todo esse tempo com você eu me sinto mais aliviada, mas... você é um garoto tão bom, sorridente e educado, Jimin é totalmente ao contrário, por quê?
—Jimin era um cara legal, ele só não se abria muito. Mas...
—Mas?
Ele suspirou fundo.
—Com o passar dos anos ele começou a beber, eu tentava ajudar ele e fazer ele parar, mas quando eu via ele já havia saído de casa. No final do ano passado ele sofreu um acidente e acabou perdendo parcialmente sua memória.
—Ah... então é isso...
—Você estava com o caderno de desenhos dele ontem, não estava?
—Estava sim, ele esqueceu na sala.
—Você chegou a abrir?
—S-Sim. - Fiquei meio sem graça. —Não conta pra ele que eu fiz isso, por favor.
—Então você viu...de tanto ele rabiscar aquele caderno eu resolvi perguntar. Ele não se lembra de nada sobre antes da guerra, sobre o dia, ele se lembra apenas do meu pai o pegando no colo e o protegendo junto comigo. Ele disse que sonha frequentemente com uma criança, uma garotinha de aparência ocidental com olhos esverdeados, e que esses sonhos podem ser memórias, por isso ele desenha. Depois de ouvir você comecei a ligar os pontos, essa criança... essa garotinha é..
—Sou eu. - Mais lágrimas começaram a cair de meus olhos.
—Jimin também deve ter pensado nisso depois de te ver na escola, e o fato de ele não se lembrar de nada e você trata-lo de forma tão amável o deixa frustrado. Depois do acidente ele teve uma drástica mudança de personalidade, ele se tornou uma pessoa amarga, difícil de lidar. Eu já me acostumei com o jeito dele e vivo tentando resolver os problemas que ele arruma, mas eu vejo que ele magoa as pessoas ao seu redor, principalmente você. Acho que ele percebe isso também e o fato de você insistir o deixa mais irritado, pois ele não é do tipo que da o braço a torcer.
Enxuguei minhas lágrimas e disse:
—Será que não há nada que eu possa fazer? Talvez se eu insistir mais um pouco ele se lembre de algo, se você me ajudar eu acho que...
—Olha Amy, me dói ter que dizer isso pra você mas... sinceramente eu não sei se trazer as memórias dele de volta vai mudar alguma coisa. Seria bom se ele lembrasse apenas de você, porque no estado em que ele está agora se tudo vier a tona de repente eu não sei se ele terá uma reação positiva. Mas ao mesmo tempo eu quero ajudá-lo, ele é como um irmão pra mim e eu sei que você quer o bem dele tanto quanto eu.
—Por favor Kookie, precisamos fazer alguma coisa, a gente não pode deixá-lo assim! Esse não é quem ele realmente é!
—Eu quero trazê-lo de volta, estou tentando fazer isso a um tempo mas sozinho eu não consigo! Eu tento fazê-lo estudar, procurar um emprego e seguir o caminho certo, mas ele é muito difícil de lidar, ele é teimoso e está se afundando nessa personalidade amarga cada vez mais, fazendo amizade com gente que não deveria. Ele está querendo se distanciar de mim, eu percebo isso, ele sabe que eu sou um garoto que gosta de fazer as coisas certas e ele não quer que isso mude. - Ele suspirou. —Se você realmente for insistir nisso, tem que estar preparada pra qualquer coisa, será muito doloroso Amy.
—Estou disposta a fazer qualquer coisa, sem medir limites. Não quero perde-lo denovo.
—Não tenho idéia de como fazer isso, parece que fica cada dia mais difícil. Ele está bem estranho, e sobre o acidente aquele dia, o fato de você ter arriscado sua vida pra salvá-lo mexeu muito com ele. Deve ter sido muito frustrante, imagine alguém que você sonha quase todos os dias mas não sabe quem é, e essa pessoa ainda entra na frente de um carro pra salvar a sua vida. Ele está bem irritado, acho que deu pra perceber ontem.
—É, deu sim...
—Um conselho é ser cautelosa, Amy. Você não vai querer tirá-lo do sério, e parece que isso vai acontecer em breve se não maneirarmos.
—Pensarei com cuidado sobre isso.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, suspirei enquanto passava a mão em meus cabelos.
—Aaish, Park Jimin seu imbecil. - Resmunguei baxinho, Kook começou a me encarar. —Que foi?
—Seus sentimentos por ele são fortes, não é?
—C-Como assim?
—Ah você sabe, mais do que gostar..
Tenho certeza que neste exato momento estou parecendo um pimentão.
—NÃO.
Ele brevemente riu.
—A primeira coisa que as pessoas fazem é negar.
—Yah, JungKook!
—O jeito que você olha pra ele é totalmente diferente do jeito que você olha pras outras pessoas. Você olha pra ele do mesmo jeito que aquele seu amigo olha pra você, e do mesmo jeito que a sua amiga ali do balcão olha pro seu amigo. Que confusão. - Ele brevemente riu.
—Você é bem observador.
—As pessoas são fáceis de ler, principalmente quando se trata de amor. Posso saber a resposta de uma pergunta sem você falar uma palavra, apenas com sua reação.
—Tsc. - Desviei o olhar, ainda estava vermelha.
—Bom, acho que já está na hora de ir. - Disse ele se levantando.
Fomos até o caixa e ele não me deixou pagar. Pegou uma caneta que estava em cima do balcão e escreveu seu número num folheto.
—Este é o número do meu celular, me ligue caso precisar de alguma coisa. Pode contar comigo Amy, vamos dar um jeito.
Não consegui me conter e o abraçei. Estava aliviada em saber que ele iria me ajudar.
—Obrigada. - Falei, ele ficou envergonhado, percebi pelas suas bochechas que coraram facilmente, ele também não é tão difícil de ler.
Ele sorriu e depois foi embora.
—Hey, o que foi aquele abraço? - Disse Akemi. —O que estavam conversando? Eu percebi que você chorou.
Suspirei.
—Vou embora, estou com dor de cabeça.
—Vai me ignorar é? Yah Amy Lee!
—Até mais. (...)
Eu estava na cozinha preparando o jantar, mas não conseguia parar de pensar nas palavras de Kook e quase fritei os meus dedos. Fui servir o refrigerante e o copo transbordou, e pra ajudar o derrubei no chão na hora de colocar na pia.
—Está tudo bem, irmã? - Perguntou Nate.
—Está, só estou um pouco pensativa.
—Aconteceu alguma coisa?
—Não é nada, não se preocupe. - Brevemente sorri.
—Você parece cabisbaixa..
—Só me sinto um pouco cansada, acho que são os remédios que o médico mandou eu tomar.
—Pode deixar que eu termino de arrumar a cozinha, vá deitar um pouco.
Dei um beijo em sua testa e falei:
—Obrigada irmãozinho.
Me joguei na cama e voltei a pensar naquelas palavras. Kook tem razão, eu sinto algo mais forte pelo Jimin, só não tive coragem de admitir. Não tem lógica se apaixonar por alguém que te trata tão mal, mas sei lá, eu não sei explicar. O medo de perde-lo, a preocupação com seu bem-estar, o fato de pensar nele o dia todo e tentar imaginar respostas pra todas aquelas perguntas, acho que esses sentimentos são tão fortes que viraram um só: amor. Aish, isso realmente vai ser difícil. Ele não suporta olhar pra minha cara, eu não sei o que fazer e não consigo pensar em uma maneira de lidar com isso sem irritá-lo. Aaish, por que tem que ser assim?

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