Já era mais de duas da manhã porém nem eu nem Jessie nos rendíamos ao sono. Já estávamos conversando por horas via mensagem de texto e, particularmente, eu não estava nem um pouco interessado em terminar a conversa e ir dormir. Acho que Jessie também não, afinal não nos víamos já tinha uns quatro meses. Isso sempre foi bem difícil para mim, pois Jessie era minha melhor amiga. Eu estava morrendo de saudades dela!
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Dois anos atrás minha mãe começou a trabalhar no mesmo restaurante que a mãe de Jessie trabalhava. Em questão de dias as duas já eram amigas. Parece que se conheciam havia anos! Toda noite, depois que acabava o expediente, eu e meu pai, Calvin, íamos buscar mamãe e Lilian, mãe de Jessie. Lilian e Jessie moravam à duas quadras da minha casa, então não custava nada dar uma carona. Lilian sempre foi muito trabalhadora.Seu marido havia morrido sete anos atrás em um acidente de carro, quando Jessie tinha apenas nove anos de idade. Aos sábados Lilian sempre convidava nossa família para passar o dia com elas. As duas eram bem solitárias porque não tinham nenhum parente na cidade - a verdade era que os seus familiares não se importavam, nunca às foram visitar ou oferecer ajuda qualquer - e Lilian era muito tímida e não tinha muitos amigos. Diferente de sua mãe, Jessie era bem extrovertida. Ela gostava muito de jogos de cartas e jogos que envolviam raciocínio lógico. Eu nunca fui muito bom para jogos matemáticos, mas era isso que fazíamos naquelas manhãs. E, por mais incrível que pareça, foram as melhores manhãs da minha vida. Depois do almoço, meu pai ia trabalhar e nossas mães passavam a tarde toda falando da vida dos outros. Nós sabíamos aproveitar melhor esse tempo (sem jogos de cartas) graças a Deus! Tinha um parque no fim da rua de Jessie, e era lá que ficávamos a tarde. Sim, dois adolescentes de 14 anos presos em corpos de criança. Balanço, gangorra, escorregador... Por mais bobo que fosse, ao lado de Jessie era tudo bem divertido.
"Todos os dias quando acordo
Não tenho mais o tempo que passou Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundoTodos os dias antes de dormir
Lembro e esqueço como foi o dia Sempre em frente
Não temos tempo a perder" - Tempo Perdido, Legião Urbana.Foram apenas nove sábados assim.
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Depois de cinco meses que Lilian começou a trabalhar no restaurante, ela foi despedida. Com a mãe desempregada, as coisas ficaram difíceis para as duas. Lilian encontrou um apartamento com o aluguel bem mais barato e elas se mudaram. O que eram duas quadras de distância, se transformaram em sete quilômetros. Mas, mesmo assim, minha relação com Jessie não foi tão afetada. Ainda nos víamos todos os dias na escola. O pior veio dois meses depois. A dona Lilian encontrou um emprego, porém, isso não foi nada bom.
"Como assim, Jack? Não foi bom a mãe dela achar um emprego?"
Calma meu caro leitor, eu vou te explicar. Desesperada, durante aquela semana Lilian espalhou currículos por toda a cidade e na cidade vizinha também. Era uma sexta feira ensolarada e muito abafada quando Jessie veio me dar a notícia.
- Jack, preciso falar uma coisa para você.
- Pode falar Jessie. Tá precisando de alguma coisa?
- Não, não. É que... - Jessie começou a chorar.
- O que ta acontecendo Jessie? Fala para mim...
- Vou me mudar de cidade... Vou para a cidade vizinha.
- O que? Como assim? Por que? Quando? - eu entrei em estado de choque.
- Sim Jack, eu vou sair da cidade. Vamos amanhã bem cedo. Minha mãe conseguiu um emprego lá, você sabe que o dinheiro que tínhamos guardado está acabando, não temos como ficar. Minha mãe está muito triste também. Vocês são a nossa única família. Somos muito gratas por tudo que vocês fizeram pela gente. Mas nós precisamos ir.Não consegui dizer mais nada. Apenas nos abraçamos e naquele abraço eternizei a nossa amizade. Não havia o que fazer, então observei ela partir. Para nunca mais voltar!
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O que acharam do primeiro capítulo? Seus comentários são importantes para gente. Obrigado por estarem lendo "Apenas amigos, não é?!". Próximo capítulo será narrado por Jessie!
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Apenas amigos, não é?
Teen Fiction"Apenas amigos, não é?" retrata a vida de dois jovens muito achegados e que, mesmo com todos os problemas, fazem de tudo para não se afastar. Paralelo a isso existe a grande questão: será que é apenas amizade? E, até que ponto vai esse amor? Esses j...