Capítulo 5 - Jack

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Faltava apenas uma semana para começar as aulas. Droga! Só queria poder dormir a vida toda. Eu não sei vocês, mas eu odeio ir comprar material escolar. E foi justamente nessa bendita semana de tristeza e muito sofrimento que minha mãe decide deixar ela um pouquinho pior.

- Filho, amanhã nós vamos comprar os seus materiais, okay?
- Ah mãe, a senhora sabe que eu detesto ir à papelaria. Será que eu não posso ficar em casa sozinho? Afinal, já tenho quase 17 anos e já vou pro último ano na escola.
- Não tesouro, você não vai ficar sozinho jamais. Até parece que você não sabe o quanto essa cidade é perigosa. Não vou deixar você sozinho aqui. Além do mais, também não vou sozinha à papelaria. E ponto final nessa história!
- Tá bom mãe, tá bom. Eu vou.

Sinceramente, eu acho minha mãe um saco. Ela me trata como se eu fosse um bebê indefeso. Aposto que você aí que está lendo isso já ficou em casa sozinho, nem que seja uma tarde, e não duvido nada que você tenha menos de 17 anos. E quanto ao papo de que a cidade respira criminalidade, me diz aí qual é a cidade que não? Fala sério! Interrompendo minha conexão de pensamentos com você leitor, minha mãe me manda fazer outra coisa que eu não suporto:

- Ah querido, não esqueça de fazer a lista com as coisas que você precisa.

Era só o que me faltava, lista. Concorde comigo por favor que fazer uma lista de materiais que deve comprar para o terceiro ano do ensino médio é totalmente desnecessário. Minha mãe tá pensando que eu vou entrar no jardim de infância e tenho que comprar lápis de cor, giz de cera, massa de modelar, tinta guache, e.v.a, papel crepom, e todas aquelas frescuras de criança... Dá licença né!
Para evitar uma discussão maior, apenas concordei com a cabeça.

***

- Vamos filho!
- Já tô indo mãe. Vai ligando o carro. Já eu desço.
- Feche as janelas do quarto, parece que vai chover! - Ela grita da varanda.

Terminei de pentear o cabelo, fechei as janelas conforme minha mãe havia mandado, desci as escadas correndo, tranquei a porta e entrei no carro.

- Mãe, quantas vezes vou ter que falar para senhora colocar o cinto de segurança. Eu acho é pouco se você pegar uma multa. - Ela bufou e me obedeceu, colocando o cinto.

Talvez a única coisa certa que eu faça na minha vida é usar o cinto de segurança. Não sei porque, mas me sinto agoniado/fadigado/atordoado, não sei o adjetivo correto, quando estou sem o mesmo. Fiquei observando pela janela do carro as pessoas na rua. Cada uma atrás dos seus próprios interesses, cuidando dos seus próprios problemas, correndo atrás dos seus próprios sonhos, e eu? Eu tô aqui, dentro de um carro, indo para um lugar que eu não gosto (papelaria), comprar o que eu não gosto (material escolar), para fazer o que eu não gosto (estudar). Aê parabéns, minha vida é uma merda! Acho que não pode ficar pior. Sinto o celular vibrar e logo em seguida soa o som de mensagem.

Hahahahahahaha, só pode ser a vida brincando com a minha cara. É claro que pode ficar pior!

Jessie: "Calma amigo, apenas espere. Ou melhor, quando você menos esperar irá perceber que as coisas estão à mudar. Beijos da best 😘"

Argh, eu não aguento mais essas provocações. Tô cansado desse joguinho já, Jessie. Sério, tá me dando raiva. Ela nunca me escondeu nada, agora fica com essas histórias de "forninhos cairão" e "coisas estão à mudar". Rapidamente digito uma resposta para ela.

"Jessie, na boa, você sabe que eu não gosto que me deixem curioso. Fala logo de uma vez o quê que você tá fazendo. Me diz logo, de uma vez."

O que ganhei como resposta foi um vácuo delicioso. Minha mãe estaciona na primeira vaga da papelaria e descemos do carro. Não temos que comprar muita coisa. Dois cadernos, algumas canetas, uma lapiseira e uma bolsa é tudo o que eu preciso. Não vai demorar muito, espero.

- Filho, fez a lista né?!
- Fiz mãe, uma lista mental é claro.
- Então tá, já que não escreveu num papel, não posso te ajudar. Vou ficar sentada aqui esperando você pegar tudo o que você anotou na sua "lista mental".
Ela repetiu as palavras "lista mental" com um sarcasmo tão sarcástico que eu nunca tinha ouvido antes em toda a minha longa vida.

"A melhor forma da senhora ajudar é assim mesmo, ficando quieta!" só pensei, não respondi ela dessa forma.

Fui logo pegar o que eu precisava.
Como esperei, não demorou mais do que quinze minutos. Mamãe pagou tudo, menos de cem reais, não sou de gastar muito. Compreendo o valor do dinheiro, por mais incrível que pareça.

Só falta comprar as roupas agora. Durante o caminho para a loja de roupas pego meus fones e conecto no celular. Ativo o modo aleatório e a primeira música que toca é Apologize - One Republic.

"You tell me that you're sorry
Didn't think I'd turn around, and say... That it's too late to apologize, it's too late
I said it's too late to apologize
It's too late."

***

"Você diz que sente muito
Não imaginava que eu me viraria e diria...
Que é tarde demais para se desculpar, é tarde demais
Eu disse que é tarde demais pra se desculpar, tarde demais."

É Jessie, agora é tarde para você se desculpar!

***

Ihuulll, o circo tá pegando fogo!!!

Quer dizer, isso são apenas as labaredas iniciais do grande incêndio que está por vir. Contem-nos o que estão achando.

Apenas amigos, não é?Onde histórias criam vida. Descubra agora