A ARTE DA MANUTENÇÃO

289 5 0
                                    

   Bem que eu gostaria de dizer que essa crônica foi inspirada em Zen e a arte da manutenção de motociclistas, livro de Roberts M. Pirsing que, encanta, comecei a ler aos 24 anos e que nunca terminei. Estava adorando e, de repente, cadê o livro? Emprestei, me roubaram ou esqueci no ônibus. sei que o perdi. Um dia retomarei essa leitura, não de onde parei, óbvio, e sim desde o início, que Minha memória não para mais nada.

   Então, como ia dizendo, não me inspirei neste clássico da filosofia moderna, o que me conferiria certo Charme, e sim em fuleiras notinhas de rodapé que se repetem sem que ninguém a mínima: cinco feridos em montanha-russa, casal despenca da roda-gigante, adolescente atingida por um brinquedo que se desprendeu. Os parques de diversao não estão para brincadeira.

   A responsabilidade é de quem? De quem deveria zelar pela manutenção, mas ninguém está nem . Inaugura-se o parque, o tempo passa, tudo enferruja, o equipamento corrói e salve-se quem puder.

   Não resisto a tentação de comparar. Você me conhece. Vou comparar. É ou não é o retrato da maioria das relações?

   No começo, tudo parque de diversão. Frio na barriga, vertigem, gritinhos. Depois, acostuma-se, o medo passa, a excitação também. Ninguém mais graça na coisa, mas sabe como é, acostumamos, vira hábito, todo sábado à tarde, toda quarta à noite, os amigos estimulam, vamos , vamos , até que um se esborracha no chão.

   Entre dolorido, surpreso e indignado, a vítima se pergunta: o que é que aconteceu? Os responsáveis pelo parque não selaram pela segurança, apenas isso, e como  alertei, não estou falando apenas de parques, mas também de casamentos, paixões, amizades, o prazer maior da vida. Era para ser divertido para semprr, empolgante para sempre, inspirador para sempre, mas a maioria acredita que a longevidade dos amores é atribuição do destino, ele é que tem que tomar conta.

   Nenhum encantamento se mantém sem uma boa supervisão. Não basta dar corda e depois cruzar os braços. Não pra apertar o botão e depois sair para tomar um lanche. Não se pode confiar na sorte. A engrenagem não se autolubrifica sozinha, os movimentos não se renovam no automático e o tempo não faz mágica. Diversão, como tudo na vida, também exige cuidado.

   Mas quem é que tem paciência para o zelo, de onde tirar disposição para renovar o suspiro mil vezes reprisado? Começa maravilhoso, depois fica legal, legalzinho, até o "larguei de mão, cansei".

   Manutenção. Talvez eu tenha extraído aqui, por resquícios indeléveis da memória, alguns substratos do emblemático livro de Robert M. Pirsig, mas o assunto ainda é parque de diversões ( os reais e os metafóricos), e o perigo que os ronda quando decaem.



-17 de agosto de 2011

:)

  

A Graça Da CoisaOnde histórias criam vida. Descubra agora