Prólogo

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Nova York, dois anos atrás

- Quanta artificialidade, não? -Digo com desdém após perceber um enorme sorriso no rosto de Maggie, destinado ao local cercado por câmeras.

- Lauren - ela adverte. - Não me faça gritar com você agora. Não me obrigue aparecer na mídia com fama de "senhora monstro" por sua causa.

Ainda com ânimo totalmente forçado, Maggie responde entre um cochicho para que somente eu escutasse.

- Sorria para aquele fotógrafo no centro.

Encarei seu rosto, mal suportando continuar ali. Diferentemente de Marcus e Genevieve, meus olhos eram verdes como os dela.

- Sorrir e continuar fingindo que estou adorando? - Minha voz falha, porém continuo falando, mesmo sabendo que ela não daria importância - Eu não sou você!

- E nunca chegará aos meus pés.

Para uma adolescente comemorando dezesseis anos, não conseguia entender como tanta raiva surgia em mim.

- Lauren, pare. Sem infantilidades por hoje - Simon diz, encerrando o assunto.

Ele circula com um de seus braços a cintura da esposa e com o outro, a minha.

Iríamos bancar a família perfeita mais uma vez.

Eles podem achar pensam isso sobre nós, mas estão enganados. A pose de casal perfeito é deles na frente dos empresários, porque isso não é real. E todos já perceberam isso.

Poucos meses atrás, uma matéria publicada online ganhou destaque levantando suspeitas sobre um suposto caso extraconjugal entre Simon e uma tal Amanda McCaul.
Não seria a primeira vez.
A declaração foi feita quando paparazzis fotografaram ambos entrelaçando as mãos num restaurante famoso próximo ao Central Park.

Simon justificou tudo como um simples jantar de negócios. Nada nunca fez diferença, no entanto, se referiram a mim:

"O real motivo da infelicidade que perturba a integrante mais jovem da família Fitzgerald, seria adultério?
Sua rebeldia está relacionada às desavenças dos pais?"


Gastamos tempo e dinheiro desfazendo o artigo publicado.

Isso transformou tudo numa bolha de tensão. Minha vida nunca tinha sido tão exposta.
E afinal, eu não era a droga de uma ovelha rebelde.

A oportunidade perfeita para provar nossa boa imagem diante da mídia veio com meu aniversário. Porque festas são a certeza de que não há nada de errado. Simon e Maggie acreditavam nisso.
 

+ + + +

Suspirei aliviada quando encontrei Grace.
Ela teria sorrido para mim caso sua boca não estivesse cheia de doces. Mais doces do que podia mastigar.
Sua boca suja de chocolate chamava atenção. Mas naquela festa, nada era discreto.

Aproveitei o silêncio enquanto ela comia para analisar minha imagem refletida nos espelhos decorativos sobre as paredes.
O cabelo solto escondia a libélula tatuada.

- Sinceramente, Lolo, como atura esse pessoal vindo te cumprimentar a noite inteira?

Ela não abre espaço para respostas, me fazendo rir. O parentesco conosco permitia Grace criticar o que quisesse.

- Na verdade, nem te conhecem. São um bando exibidos. Típicos amigos do seu pai.

Evitei encarar os convidados durante a noite inteira.
Parecia ridículo que fosse eu a aniversariante.
Meu único desejo era voltar correndo para meu quarto. Voltar para meus desenhos, meus livros e minha solidão.

Talvez a festa fosse meu castigo pela tatuagem que fiz escondida. Realmente, eles conseguiram punir-me.

- Lauren?

- Sim?

- Eles têm uma surpresa para você.

- Céus - Murmuro, me preparando para mais encenação.

- Não se preocupe. Você vai gostar.

Perdi a garota de vista quando recebi uma forte luz branca vindo de alguma parte do teto.Aos poucos, as pessoas próximas foram dando espaço e as que estavam longe vieram para mais perto.

- Acho que 'tá ligada.


Espera! Eu conhecia aquela voz! Depois de tanto tempo sem contato...

Ouvi um pigarreio e direcionei meu olhar a pessoa que estava atrás da lente enviando a mensagem ao telão em minha frente.

- Uau!
O que fizeram com você? Você está linda! - Marcus fez com que todos rissem.

Não havia presente melhor que conversar com meu irmão.

- Me sinto velho sabendo que a caçula agora já tem dezesseis anos. Queria poder dar os parabéns pessoalmente, mas, por enquanto, ainda não é  possível.

Ele me constrangeu com fotos minhas na infância mas ele tinha se lembrado. Isso é o suficiente.

+ + + +

Depois de crescida, sempre achei que as lágrimas dentro de mim tivessem secado. Eu estava errada. Aquela foi a última vez que chorei.

Limpei aquela gota boba que escorregou ao ver meus pais indo embora. Com o telefone e malas em mãos.

Negócios em primeiro lugar, claro, mas desta vez, um fio de esperança me fez acreditar que fosse diferente. Apenas ouvi um grito de Simon dizendo "aproveite a festa".

- Eles não vão ficar? -Grace perguntou.

- Eles nunca ficam.

Allowing Yourself To Love  [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora