Peixe Fora D'água

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Abro os olhos sobressaltada com o estalo das cortinas sendo puxadas.

- Acorde docinho! O dia está lindo.

Retiro alguns fios de cabelo que estão grudados na minha bochecha por alguma coisa molhada. Eca.

Aperto os lábios para não gritar um palavrão.
Também não me mexo porque pretendo expulsar a velha do meu quarto e continuar dormindo.

- Por Deus! - grita Jeanine - Uma cobra!

- Sim, é uma cobra - Respondo curta - Um bixinho de estimação comum. Não haja como se fosse uma árvore plantada no meio do meu quarto.

- Acreditaria se eu dissese que nunca percebi esse vidro enorme?

Jade, minha cobra, fica dentro de uma enorme caixa de vidro. Posso muda-la de lugar sempre que eu quiser, não pesa muito, mas ainda sim deixo Jade sempre no mesmo lugar no canto do quarto.

- Escute Jeanine - digo aborrecida por ela não parar de falar e ir logo embora - o que você está fazendo?

- Venho mais cedo nos dias em que lavo as roupas.

- Sou perfeitamente capaz de lavar minhas próprias roupas. Marcus tem uma máquina de lavar, água e sabão. Posso fazer isso sozinha.

Puxo o cobertor mais para cima antes de continuar:

- Sábados não foram feitos para isso.

- Docinho, hoje não é sábado -Ela ri- É terça-feira.

De primeira acredito que Jeanine se enganou, em seguida lembro do seriado que assisti ontem e que só passa nas segundas-feiras.
Saio da cama para conferir o relógio do meu celular com tal desespero que bato a cabeça no criado mudo. Ignoro a dor enquanto desbloqueio a tela. Oh Deus, faltam quatro minutos para às oito horas da manhã.

- Onde meu irmão está?

- Terminando o café. Você está atrasada.

A calça que usei ontem está pendurada num dos ganchos do meu banheiro, visto ela apressada e saio do banheiro de sutiã para pegar a primeira camiseta que encontrar no guarda-roupa.

- Lauren por que você não desceu ainda?! - Ouço o grito de Marcus.

- Não se preocupe, a primeira aula de hoje foi cancelada -Minto descaradamente.

E então depois de colocar minhas lentes e escovar os dentes com o estômago roncando loucamente, minto mais uma vez dizendo que pulei o café porque estava sem fome.

Encaixo o sinto de segurança e encontro o olhar de Théo no espelho retrovisor do carro, me avaliando cuidadosamente.

- Um pouco de cafeína faria bem à você - Ele comenta - Faria você ficar mais apresentável.

- Não é educado você dizer isso à uma dama -Marcus repreende a sinceridade de Théo.

Reviro os olhos ao perceber a quantidade de botões no painel do carro. Não sei quanto meu irmão pagou nesse carro mas imagino um considerável desperdício de dinheiro.
- Como eu ligo o rádio?

Marcus desliza um botão do volante para o lado e logo as primeiras notícias da manhã são anunciadas, coisas como fábricas de vinhos fechando e a previsão de sol com chuva ao entardecer.

Théo não está mais me avaliando, tampouco parece feliz encarando o vazio do lado de fora.
Para um bom observador era nítido que Théo se incomodava em se sentar numa cadeirinha infantil. Eram poucas as vezes em que eu conseguia enxergar seu lado criança, geralmente Théo está sempre usando palavras que garotinhos de sua idade não compreendem o significado. Talvez até eu não compreenda muita coisa que saia da sua boca.

Allowing Yourself To Love  [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora