A peça havia terminado a poucos instantes, o público ainda aplaudia fortemente enquanto os atores se retiravam do palco, felizes com o sucesso do espetáculo. Aquele foi o último show da temporada e todos os envolvidos com a peça estavam eufóricos, principalmente, é claro, a atriz principal. Uma belíssima jovem de cabelos dourados e olhos da cor de mel, com um sorriso tão belo e brilhante quanto se era possível ter.
Todos que haviam assistido a peça nos últimos meses elogiavam, sobretudo, a sua performance espetacular no papel da protagonista.Mas essa felicidade aparente só durou até ela se fechar em seu camarim. Sentada em frente ao seu espelho, ela via seu próprio sorriso murchar e desaparecer, dando lugar a uma expressão de medo e consternação. Os dedos tremiam indo de encontro ao último puxador de sua mesa, ela ainda podia ouvir a comemoração dos seus colegas ao fundo quando abriu a gaveta lentamente e inseriu a mão direita, tocando em um objeto solido e metálico.
Ela retirou do interior do compartimento um revólver, era pesado, frio e estava carregado. O ergueu até a altura da cabeça, encostou o cano gelado da arma contra a têmpora e puxou o gatilho, enquanto uma lágrima escorria pelo rosto pálido.
***
Quase que ao mesmo tempo, em outra parte da cidade, em um enorme prédio comercial do centro, um homem muito bem vestido terminava de redigir um documento em seu computador. O escritório estava vazio, afinal já era tarde da noite e todos já haviam abandonado seus cubículos e ido embora para suas casas.
Tendo terminado de revisar o que havia escrito, o executivo, que já possuía alguns fios brancos em meio aos cabelos negros, apertou um botão e o documento começou a ser imprimido. Se levantou e caminhou até a impressora. Foi quando precisou atender ao celular.
– Querido, a que horas vai voltar pra casa? Já passam das 23 horas e as meninas não conseguem dormir sem o seu "beijinho de boa noite". – Dizia a voz feminina ao telefone.
– Ainda vou demorar mais um pouco, querida. Pode pôr as garotas ao telefone? – Falou o homem, depois de passar alguns segundos em silêncio ao ouvir as palavras da esposa.
Ele parecia apreensivo. Engolia em seco e suava excessivamente por praticamente todos os poros do corpo, um suor frio de nervosismo e medo.
Quando finalmente conseguiu falar com as filhas, as ouviu dizer que estavam com saudades e que queriam que lhes desejasse boa noite.
Com os olhos marejados o homem deu uma curta risada e disse:– Boa noite, meus amores. Eu amo cada uma de vocês.
Desligando o telefone, ele pegou as folhas que havia acabado de imprimir, as organizou, grampeou e assinou. Colocou todas dentro de um envelope lacrado sobre a mesa de sua recém adquirida sala e então caminhou até a janela.
Observava a paisagem da cidade a noite, vendo as poucas luzes que restavam acesas e o pequeno tráfego de carros, que ainda permaneciam nas ruas até aquele horário.
Indeciso sobre o que faria, ele levou a mão até o trinco da janela do 27º andar, o segurou.
Mas antes de o destravar, desistiu dessa ideia. Recuou alguns passos e limpou o suor da testa, respirando ofegante e olhando para os lados como se procurasse por uma resposta sobre o que deveria fazer. Dando as costas para a janela ele caminhou até o elevador e fez menção a acionar o botão com a mão trêmula e enrugada.Entretanto, seu dedo parou a centímetros do painel, o executivo se virou de repente e correu em linha reta por todo o escritório se atirando contra a janela que se despedaçou com o impacto e deu passagem ao corpo do homem, que voou em queda livre em direção ao chão da calçada.
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Se eu te contasse, você teria que se matar.
Mystery / ThrillerUma onda de suicídios começa a se espalhar pela cidade, com pessoas se matando logo após ocorrerem grandes mudanças em suas vidas, deixando a polícia intrigada com o grande numero de suicídios aparentemente sem razão. Quando um corretor da bolsa de...