Considerações Finais

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A Revolução Industrial ocorreu por meados de 1700 e cerca de duzentos anos foram necessários para este fenômeno ser aceito e elaborada na vida social e privada da sociedade. Atualmente, vivemos a chamada Era da Revolução Eletrônica e a mudança que levou duzentos anos para ser aceita e entendida, hoje, ocorre de 17 em 17 meses ou até menos.  Um exemplo clássico do dilema humano em relação as máquinas e a tecnologia foi imortalizado pelo ator Charles Chaplin em seu filme Tempos Modernos, destacada na cena que o personagem se descuida e é engolido pela máquina que rola o corpo coisificado do ator, através das enormes engrenagens que continuam funcionando a pleno vapor, alheia ao drama humano que se desenrola ali. 

Porém, ao falarmos de uma revolução eletrônica não estamos falando de grandes engrenagens, e sim de tecnologia e sofisticação presente em um pequeno microship que cabe na palma da mão. Não há campo que a tecnologia não se aventure, inclusive nas artes como a dança e o teatro, aonde a corporeidade é imprescindível.

Dentro desse panorama tecnológico desponta outra revolução, ou talvez, uma co-evolução, que apresenta a necessidade de entrelaçar as crescentes mudanças tecnológicas a um desenvolvimento sustentável e vital das comunidades humanas. Ou seja, a sobrevivência humana dependerá da renovação dos seus ideais e valores sociais. 

Como diz Capra, é necessário nos alfabetizarmos ecologicamente, desenvolvendo a capacidade flexível de viver em conformidade com estes princípios de diversidade e mutabilidade nesse novo milênio. A principal lição que o século XXI têm que aprender e compartilhar, diz Fritjof Capra, é a seguinte: "Um dos principais desacordos entre a economia e a ecologia deriva do fato de que a natureza é cíclica...Os padrões sustentáveis de produção e de consumo precisam ser cíclicos, imitando os processos cíclicos da natureza."

Contudo, para a artista plástica Faiga Ostrower, em sua tese sobre a criatividade, ainda hoje somos herdeiros espirituais de uma série de crenças e valores que se foram transmitidos culturalmente desde a Idade Média. O que muitas vezes nos impede de uma experiência mais profunda de nosso corpo e de nossas necessidades mais sensíveis e espontâneas.

Sem dúvida, somos herdeiros legítimos do pensamento mítico-mágico do homem neolítico, herdeiros sócio-culturais das primeiras pinturas nas cavernas pré-históricas até o grafitismo nos muros das grandes cidades contemporâneas. Somos atraídos pelo pensamento mítico-mágico ancestral, tribal e iniciático, que nos empurra para uma busca verdadeira do sentido do sagrado em nossas vidas e para o retorno ao lar, a re-ligação com a fonte divina.

Enquanto não nos re-ligamos com a fonte divina vamos observando a cultura da domesticação, principalmente do ser feminino. Enfim, poderíamos criar até mesmo uma nova palavra, que seria denominada "amestresia", uma mistura de amestrar com anestesiar. A cultura da domesticação do corpo passa pelos sofisticados discursos e quando tudo falta o recurso da grosseria insultuosa é empregado. Quando tudo falha,  as mulheres  são as primeiras a sofrerem retalhações, como vimos  o o exemplo catastrófico do medo medieval do corpo e da sexualidade feminina. 

Hoje, não há mais fronteiras para o encontro dos saberes. O sabor do saber é algo que impulsiona descobertas e detona paixões no corpo e na alma, transformando, de tal modo à construção do sentido de viver no mundo. Viver passa a ser um ato extremamente amoroso. Como diz Paulo Freire, "educar é um ato de amor" e aprender também. 

Tudo é texto. Ler o mundo numa perspectiva semiótica é encontrar a presença na ausência, concebida como existência de um percurso que passa "das precondições epistemológicas às manifestações discursivas."

Talvez, o que podemos fazer é nos deixar levar pela força dos conteúdos selvagens que gritam por nós, em nós e nos levam a empreender a aventura do passado ao futuro, através da história, da filosofia, da arte e da cultura. Permitir a busca  e o encontro de um modo de existência que vá além de um corpo-carne inocente e que possibilite a existência simples de um corpo mediador do Ser sensível, consciente e mito- poético de si e da natureza natural.

Que possamos honrar mais nossas antepassadas e acreditar fervorosamente em nossas futuras parentes. Que a mulher valente, sensível, artística e mística replique-se por todas as "Adalgisas" por nascer. Que possamos todos, em uníssono, curar a anima do mundo. Evoé!

M.W.

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⏰ Last updated: Jan 25, 2016 ⏰

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Mulher Galatéia- a canção do corpo em Adalgisa Nery -Where stories live. Discover now