CAPÍTULO 7

19.1K 1.7K 46
                                    


DOMINIC

A chuva forte, eram como lágrimas não derramadas. Trovões e raios iluminavam o céu, com seu brilho natural. O silêncio permanecia por cada canto da enorme mansão, silêncio que há exatos vinte e um anos continuavam do mesmo jeito. Relembrando alegrias que um dia estiveram presentes ali, sentindo a tristeza que enraizava meu coração por cada segundo, cada respiração. Uma batida soou na porta me despertando da nostalgia que a chuva me causava, a lembrança se foi quando o rosto de Celina se fez presente em minha sala de escritório, tarde da noite.

Entre. — Disse, o que ela não demorou a fazer me olhando discretamente.

— Dominic, seu advogado está aqui. Peso que entre? — Assenti com um leve sorriso. Tínhamos uma ligação forte, um sentimento que não poderia ser definido em palavras.

— Por favor. — Continuei sentando em minha poltrona, enquanto bebia meu vinho, esperando a tranquilidade em algum momento, preencher-me.

— Dominic, peço desculpas elo horário. Eu não queria fazer isso por telefone, principalmente quando foi um pedido seu ter notícias quando possível.

—Tudo bem Eduardo, sente-se não há problema algum. — Indico a cadeira a minha frente no qual o mesmo não demora a cair sentado, ele parecia cansado, porém determinado acima de tudo como sempre.

— O quadro mudou? Houve alguma alteração significativa e que possa ser do meu interesse? Por sua visita eu creio que sim.

—Uma bem significativa meu caro. — Ele falava desfazendo o nó da gravata, éramos amigos desde a faculdade, um amigo que se tornou um excelente advogado também, meu braço direito. Esperei por ele, sentindo uma leve aceleração no peito.

— Quantos dias até ele morrer? — Perguntei friamente, eu estava desejando que esse dia chegasse o mais rápido possível, só dessa maneira o meu coração poderia sentir um pouco de satisfação, de alguma alegria. Ter finalmente o seu descanso depois de tudo.

—Nenhum dia. Seu tio já está no outro mundo à uma hora dessas Dominic, ele faleceu a meia hora. — A notícia fez meu corpo relaxar no segundo seguinte. Thomas tinha partido sem pagar o que devia depois de tudo, sua partida era como um pagamento final a tudo que o mesmo havia causado aos meus pais. Eles estavam vingados, finalmente em paz depois de tanto sofrimento.

— Excelente. Seu advogado já entrou em contato?

—Sim, quase me esqueço de dizer, Marcos falou comigo no hospital, ele já tem tudo assinado em questão do funeral e o resto da burocracia, Thomas foi um tanto apressado em resolver suas questões morais e financeiras antes de partir. Quanto a isso, você não moverá um só dedo meu amigo.

— Isso é bom, caso contrário seria enterrado como um indigente mesmo, eu não levantaria uma palha para ele e você mais do que ninguém sabe disso. — Não era mentira, ele não merecia nenhuma consideração.

—A impressa já está com todo esse assunto na mídia, uns falam que a briga de vocês sempre foi um tipo de marketing para os negócios, outros falam que você é um tipo de monstro obscuro que não tem sentimentos nem por si mesmo. Não se preocupe sua frase de sempre já foi dita: Não tenho absolutamente nada a declarar sobre minha vida pessoal. Fique tranquilo sobre isso, já estou cuidando com toda a descrição sobre os tramites que desrespeitam a você.

Obrigado, eu sabia que poderia contar com você, aliás, estive ontem naquele evento maçante, mudando de assunto, onde você estava? Não te encontrei.

— Não pude ir, minha mulher estava passando mal ontem à noite, fomos ao médico, eu não tinha cabeça nenhuma pra ir depois que tudo estava bem, preferi ficar em casa com minha família, cuidando deles da minha maneira.

— Espero que esteja tudo bem com ela Eduardo.

—Está, foi só uma intoxicação alimentar, está tomando os remédios, em alguns dias ela estará novinha de novo. —Ele sorriu com a lembrança de sua esposa, além dos meus próprios pais o único sentimento além deles que pude ver de verdade ser amor era os de Eduardo, ele parecia ser completo com sua esposa, filhos, com sua família. Parecia ter tudo que a felicidade verdadeira permitia algo único e completamente invejável.

— Que bom, fica para o jantar? Você sabe que me alimento muito tarde, já virou um costume.

— Não, obrigado preciso voltar o quanto antes para casa, foi um longo dia.

— Obrigado então, por tudo meu amigo. —Levantei o vendo fazer o mesmo, apertei sua mão em mais um agradecimento silencioso que o mesmo compreendia muito bem o que significava.

— Sempre Cara. Fique bem, mudar de assunto não muda o fato do que aconteceu hoje. Bom descanso Dominic. —Ele assentiu, o que preferir ficar em silêncio sabendo o que se tratava. Dizer que estava triste por sua morte, seria a maior das mentiras já contadas. Eu estava aliviado, finalmente meus pais poderiam descansar em paz. Tudo poderia estar perfeito, porém no fundo algo parecia incomodar. Uma dor sem nome que continuava martelando dentro de mim, como se sua morte, não tivesse sido o fim de tudo ainda. 

TRISTE ENGANOOnde histórias criam vida. Descubra agora