CAPÍTULO 2

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PASSADO

— Não vá atrás dele, não vale a pena mãe, o deixe ir. — Tentei impedi-la em vão. Por mais que minha voz implorasse por sua presença junto de mim, ela parecia não escutar, afastando-se cada vez distante.

— Me desculpe Dominic, não posso deixar que ele saia nesse estado, não posso. Thomas é meu irmão querido, tenho que cuidar dele. — Era como um pesadelo que não deveria estar acontecendo. Tinha sido um começo de noite, onde deveríamos estar comemorando seu aniversário, não perdendo tempo atrás de alguém como Thomas, alguém que não valia nada. Meu pai correu apressado, descendo as escadas em nossa direção, fazendo meu peito desespera-se por algo desconhecido ainda pra mim.

— Filho vá pro seu quarto. Prometo a você que em breve estaremos em casa. Tudo bem? — Ele me guiou com cuidado na direção de uma de nossas governantas, me impedindo de lutar contra a partida de ambos. Um nó formou-se em minha garganta, deixando meu corpo tenso com a sensação de algo desconhecido.

— Por favor, não vão. Deixem-no ir, por favor. — Peço, sem conseguir engolir os resquícios de lágrimas desta vez.

— Nós te amamos querido, não se preocupe, vai ficar tudo bem. Logo estaremos aqui pra você, sempre. — Fechei os olhos, sentindo o toque acolhedor de minha mãe, o abraço de ambos em mim naquele momento como uma despedida final, um adeus. Lentamente, os dois seguiram fora de meu alcance me dizendo sem palavras, que seria a última vez. Eles estavam indo embora para sempre, para nunca mais voltar.

Despertei, respirando com imensa dificuldade pela agonia do todo o pesadelo. Faziam-se meses desse a última vez daquele episódio, o que era um alívio não lembrar. Não precisei de muito para entender que possivelmente eram consequências da volta inesperada de Thomas, era certo o inferno que se tornaria minha vida agora com sua presença constante, despertando o pior de mim.

— O que houve? Está todo suado. — A voz sonolenta de Valery foi como um despertar final. Afastei sua mão do meu peito, levantando da cama no mesmo instante. Eu não estava sozinho, o que nem ao menos havia percebido.

— Só um maldito pesadelo, volte a dormir eu vou ficar bem. — Instantaneamente ela virou voltando a dormir e me deixando sozinho. Caminhei em direção ao banheiro um tanto desorientado quando minha imagem reflete-se no espelho. Não importava o que eu fizesse, ou lutasse para mudar, nada teria o desdobramento necessário se de alguma forma, eu não me livrasse dele. Meu semblante cansado era a certeza de todo o tormento que ainda teria pela frente, a dor tinha sido combustível suficiente para que eu não fraquejasse, não por mim, não por Thomas, e sim por meus pais. Meus olhos arderam quando os fechei impedindo que qualquer lágrima viesse a cair e de uma vez meu martírio me afundar. Eu estava sozinho, perdido e sabia que no final do túnel, não havia ninguém me esperando, ninguém lá por mim.

— Vocês não poderiam ter me abandonado, foram sem mim...— Sussurrei para meu próprio interior, guardando novamente, toda a dor que eu tinha pra mim, só pra mim.

TRISTE ENGANOOnde histórias criam vida. Descubra agora