3 | Em família

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A dormência permaneceu em Francis até o momento do "jantar em família".

Aquela não era uma situação ruim, pelo menos não parecia, já que todos ao seu redor bebiam e erguiam taças em comemoração à gravidez da rainha. Helena parecia ter se recuperado do susto, já que ficava ao redor da mãe, com a mão em sua barriga, conversando com o feto, como se ele, com míseras doze semanas, já entendesse o que estava acontecendo.

Francis finalizou o copo de whisky em sua mão.

— O que está pensando? — Davi perguntou, lhe passando outro copo, não se importou com o que era, desde que o livrasse daquele peso nos ombros, continuaria bebendo.

— Por que ninguém está preocupado? — devolveu a pergunta, já com a bebida fazendo efeito em sua fala. Francis se sentia agradecido por ter Davi ao seu lado. Não achava que seria capaz de viver sem a ajuda dele. — Ou brigando com meus pais pela irresponsabilidade deles?

Naquele instante, Helena se desgrudou da mãe e foi correndo na direção deles. Os abraçou, animada.

— Desfaça esse rosto de luto — ela ordenou, tirando o copo de sua mão, e mesmo com protestos, o colocou sobre a mesinha a qual estavam escorados. — Mamãe e papai estão felizes. Você não vai estragar o dia deles.

— Como quiser, Vossa Alteza — respondeu, com um sorriso debochado.

Ele não queria estragar nada. Só não queria lembrar que em poucos meses, a mãe poderia não estar mais ali. Algo que todos ali estavam preferindo não comentar.

— Ótimo — o olhar de Helena ficou sério. — Agora vá cumprimentar nossos tios. E seja gentil.

Helena o empurrou na direção do meio do salão, onde todos estavam conversando e rindo. Ele ouviu a irmã brigar com Davi por lhe dar mais álcool do que deveria, mas a culpa não era do primo. Ninguém deveria assumir a culpa por seus medos.

Assim que entrou na roda e se colocou ao lado de sua mãe, ela abriu um sorriso alegre. Quando mais novo, Francis acreditava que Margarida, era a inspiração para a Branca de Neve, pele clara demais, cabelos muito escuros e lábios rosados e cheios. Ele descobriu a verdade depois, mas ainda se lembrava da história sempre que pensava nos traços que ele e a irmã herdaram.

— Francis, querido — disse Lilian, mais conhecida como Tia Lili, esposa de Marina, irmã de sua mãe. Conhecidas também como mães de Davi. — Como você está? Ainda ocupado com sempre, imagino.

Talvez fosse a bebida, mas ele sorriu, se sentindo mais calmo. Não as via desde o começo do ano. Sentia saudades.

— Correta, como sempre, tia. Davi salva minha vida todos os dias.

A menção ao filho fez com que as duas mulheres abrissem sorrisos orgulhosos.

— E o que achou da novidade? — desta vez quem perguntou foi Felipe, um dos melhores amigos de Fernando, mas que também era considerado um tio. Ele, Fernando e Henrique se conheceram no exército e só se separaram com a morte do terceiro.

— A gravidez? — então abriu um sorriso falso, olhando para a mãe e se forçando a ficar feliz. — Sempre quis mais um irmão.

Não era mentira.

Na infância, Francis sempre tentava acompanhar Helena nas aventuras que surgiam, afinal, ela era a criança agitada, mas Francis queria alguém apenas para ficar vendo filmes e lendo. Davi, muitas das vezes estava longe e quando estava por perto, preferia a companhia alegre de Helena. E não como se ele pudesse julgar o que o primo mais velho considerava divertido.

Para ajudar, Davi chegou com uma taça de vinho e a entregou para Francis. Helena cruzou os braços, bufando, do outro lado do salão.

— Vitória e Samuel iriam gostar de estar aqui hoje — Abigail, esposa de Felipe, disse, sobre os filhos. — Uma pena estarem viajando.

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