9 | Violações

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Francis não sabia o que esperar quando saiu do quarto naquela noite. Era inquestionável que Catarina estava em sua mente, e seria tão mais fácil se ele tivesse completa certeza de que ela estaria em seu quarto, sendo apenas mais uma aluna obediente. Ele sabia que a garota estaria na Biblioteca.

Ele ria de sua própria incompetência. Não importava o quanto reforçassem que ele deveria evitá-la, parecia incabível de obedecer. Como se houvesse forças ocultas trabalhando para que cada mínimo detalhe o lembrasse da presença dela.

Ao abrir a porta de madeira talhada e ver a garota aconchegada em uma das poltronas com um livro aberto nas mãos, um sentimento confuso se apossou dentro do príncipe.

— Srta. Avelar — Francis cumprimentou, fechando a porta. Surpresa, Catarina se levantou e fez uma reverência. Ela esperou que ele se sentasse antes de voltar a fazer o mesmo, seguindo o protocolo, mesmo que não houvesse ninguém ali para repreendê-la. Ficou olhando-o, com o livro no colo, mas sem nenhuma menção a voltar a lê-lo. — Essas saídas noturnas não atrapalham seu sono, Srta.?

Catarina apenas deu um sorriso de canto, cruzando os braços.

— Seria mais fácil se atrapalhasse — ela respondeu. Como quase sempre, os cachos da garota estavam presos em um coque baixo, os óculos grandes que ela usava estavam quase na ponta do nariz — para leitura ele suspeitava, já que não a viu mais em momento algum com eles — e seu piercing no septo estava torto. Francis se perguntou como aquelas pequenas coisas só a deixavam ainda mais confiante. — A que devo a honra?

Francis pigarreou, deu uma olhada pela biblioteca, mas no fim, deu de ombros.

— Não conseguia dormir — respondeu, assentindo com a cabeça.

— Vinha muito aqui quando mais jovem, Vossa Alteza? — Catarina questionou, o tom curioso. Francis não conseguiu não pensar em Henrique pedindo para o garoto sempre preservar o cômodo.

Ele se levantou, com as mãos nas costas, indo em direção às prateleiras. Catarina se levantou também, mas não o seguiu.

— Eu tinha uma pessoa — contou ele. — Que me ensinou desde cedo a importância de se saber sobre o passado. "Entenda sobre seu passado e não cometa os mesmos erros no futuro." — o olhar de Catarina pareceu congelar, como se aquela citação lhe trouxesse lembranças como fazia com ele, e apesar da frase ser amplamente conhecida, ele tinha certeza que Henrique também a recitara para a filha. — Enfim, foi ele quem me mostrou o quanto esse lugar era especial. E a como encontrar aconchego nele.

Os dedos do príncipe passeavam com sutileza pelas lombadas dos livros, até que pararam sobre uma em específico, conferiu o título e depois o tirou da prateleira. Voltou para as poltronas e estendeu o livro para Catarina.

— Se interessa por história, Srta. Avelar?

— Com certeza, Alteza.

— Então acho que pode gostar deste — esclareceu. O olhar da garota foi dos olhos do príncipe para o exemplar em sua mão estendida duas vezes, mas apenas quando teve certeza de que era confiável, tirou as próprias mãos da frente do corpo e o pegou. — Conta sobre a história da Terceira Guerra em forma de narrativa. Há dois narradores e marcam tempos diferentes, antes e depois da morte da Rainha Manuela. Começa na visão do filho mais velho dela, e após o assassinato de toda a família continua na visão do herdeiro de Carlos Machado.

Sentaram de volta nas poltronas e ela começou com suas análises. Observou a capa, o folheou algumas vezes e até sentiu o cheiro para ver se era real.

— O quanto de veracidade eu posso esperar?

— Sobre a política? Completamente verdadeiro. Desde os prenúncios da guerra, até a coroação do herdeiro de Carlos, afinal, essas informações são fáceis de serem descobertas. Porém, coisas como as discussões entre os pais e filhos, as relações pessoais e toda essa parte da trama é baseada em achismos e especulações.

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