Capitulo 4

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Sexta feira. Ah doce sexta feira. Sem qualquer sombra de dúvidas o segundo dia preferido de Marco, sim porque o primeiro teria de ser sempre quarta. Quarta porque era o dia em que a sua mãe ficava a trabalhar até mais tarde. Aproveitando o facto de ficar sozinho Marco , quando chegava a casa da escola, preparava uma sandes de manteiga de amendoim e geleia,e metia-a na mala juntamente com uma garrafa térmica cheia de chá e uma pêra. Metia as costas a viola e a mochila com o lanche, montava na bicicleta e seguia para a estação de comboio. De lá seguia por um antigo caminho de ferro fora de funcionamento até ao que ele gostava de chamar o seu "pequeno mundo". A viagem costumava demorar cerca de três quartos de hora. Naquele lugar, um campo de alta relva que ficava no topo de um precipício virado para o oceano, ficava sentado e passava lá horas. Normalmente sentava-se a tocar viola ou a escrever histórias.
Havia outros dias em que Matias, um velho lobo do mar que provavelmente era a unica pessoa para além de Marco que sabia da existência daquele lugar, ou que perdia tempo para notar nele, ia para lá ver o Oceano em que antes navegara. Marco gostava de falar com ele , ouvir as suas histórias de tempos perdidos e já passados, muitas vezes era nestas historias que basiava as suas e o velho lobo do mar adorava ver as suas aventuras ganhar de novo vida através do papel. Outras vezes desciam um pouco as rochas do precipício e instalavam lá uma cana de pesca e esperavam que o peixe mordese o isco. Mas normalmente era só Marco. Ele realmente gostava daquele tempo só para si, sem ter de pensar nos problemas da vida.

❄❄

Sexta feira ele saia mais cedo, era o único dia em que a mãe não o conseguia ir buscar á escola, normalmente ela saia mais tarde do trabalho. Então Marco ficava na paragem de autocarros a espera do 7 que parava na praceta em frente da sua casa. Durante toda a semana vira Mickael sempre pelo canto do olho e quando voltava a olhar ele tinha desaparecido. Mas naquele dia não, Mickael estava na esquina a olhar fixamente para ele. Marco esfregou os olhos ao pensar que estava a ver mal, mas não, o estranho homem continuava lá.
-Tu não estas maluco eu também o vejo.-Uma rapariga com longos cabelos loiros, mas não o loiro tradicional ,mas sim uma cor branca amarelada que brilhava mais que o sol, uma t-shirt velha, claramente uns números acima do tamanho da rapariga , entalada numas calças de ganga pretas rasgadas a altura dos joelhos, uns all-star azuis escuros e gastos e um grande e contagiante sorriso tinha-se aproximado. Marco reparara imediatamente aquele grande e radioso sorriso.
- Hã?-respondeu Marco um pouco confuso.
-O homem do outro lado da estrada, aquele com o casaco velho.- a rapariga tinha dito aquilo como se fosse a coisa mais obvia do mundo.-Ah! Desculpa o meu nome é Luna, e o teu é?
-Marco, o meu nome é Marco. Estavas a falar do Mickael? Tu também o consegues ver? Andei a semana toda a pensar que tinha ficado maluquinho!
-Com que então o nome dele é Mickael, bem o nome combina com o que ele é!- disse ela como se tentasse resolver um mistério- mas não percebo porque é que ele não vem falar comigo nem contigo, já que somos os únicos que o vemos.
-Espera disses-te "com o que ele é", o que é que queres dizer com isso?
-Bem como te aconteceu a ti o Mickael veio falar comigo, mas foi a mais tempo , 3 meses, uma semana depois voltou a encontrar se comigo e explicou-me algumas coisas, desde ai que tento falar com ele ou pedir as pessoas que lhe entreguem um bilhete, mas todas elas me olham como se fosse maluca e me dizem que não está ninguém onde normalmente Mickael está. Fiquei curiosa e fui a procura de informação, pelo que observei e pesquisei acho que ele é um Custos Animarum ou Custos para a abreviatura. É latim para guardião de almas.- explicou Luna.
-E o que raio vem a ser isso?
-Uma espécie de anjo. Os Custos são uma espécie de mentores para anjos menores. Costumam andar sempre próximos dos seus aprendizes e antes de começarem a dar-lhes lições, observam o seu comportamento durante semanas...
-Anjos!?-Marco começava a ponderar se aquela rapariga teria um parafuso a menos.
-Sim, anjos. Não ouviste o que eu disse?
-Ok, calma, anjos tipo aqueles fofinhos com assas felpudas e arcos e flechas? Sim definitivamente aquele homem ali, tem mesmo cara de ser querido e fofo...
-Meu Deus tu não sabes mesmo nada...-Luna tinha na voz um tom de irritação e enquanto proferia estas palavras revirou os olhos.
-Importas-te de me esclarecer?- Marco estava claramente a ficar farto da conversa.
-Enfim... Os anjos não são como as pessoas os imaginam, não são aqueles seres de asas fofinhas. Os anjos são seres inteligentes, grandes lutadores e especialmente muito bons no que toca a camuflagem. E não têm arcos com flechas, esse é o Cúpido.
-Hum, ok, digamos que eu acredito em ti e que tu não és apenas uma maluquinha qualquer, o que é que isso tudo tem a ver comigo?
-Sinceramente, aturo com cada um...Eu vou te explicar e depois tu fazes o que quiseres com essa informação. O Mickael é um Custos, um anjo maior, uma espécie de mentores para "aprendizes" ou anjos menores, ou como são mais conhecidos "Anjos da guarda", e tu és um desses "aprendizes".
-Tu não esperas que eu acredite nisso, pois não?
-Posso provar visto que tens tão pouca fé.Tudo começa quando um bebê nasce, um Custos é enviado para observar e entender a alma deste novo ser, se achar que têm potencial deixa-lhe uma marca,aos nossos olhos parece apenas uma simples um sinal de nascimento, mas para eles é tipo um chip de GPS, para saberem sempre de ti. Deixa me adivinhar tu tens algures um sinal de nascença certo?
-Sim mas isso não prova nada, há milhares de pessoas no mundo com sinais de nascença...
-Ainda não acabei. Quando esse bebê cresce e se torna adolescente o Custos é novamente enviado para voltar a verificar que a alma da pessoa ainda é pura, como neste momento esta alma já passara por muito é mais difícil de verificar, então o Custos assume a sua forma "invisível" e literalmente entra dentro da alma deste, isto nunca deixa a pessoa indiferente, normalmente é a causa de um resfriado ou uma febre, pois nesse momento o teu corpo baixa as defesas para deixar o Custos entrar.
Deixa-me adivinhar outra vez, tu tiveste um destes sintomas.
-Sim,tive um resfriado, mas todos os dias alguém adoece.
-Bem tu és mesmo um osso duro de roer. Vamos tentar outra vez. Esse resfriado que tiveste, desapareceu da noite para o dia, certo?
-Bem...-Marco começa a falar mas é interrompido imediatamente.
-Ainda não acabei. Nessa noite tiveste um sonho certo? Um sonho que se enquadra neste tema correto?Bem esse é o sinal que estás pronto, que podes começar.
- Ok, isto está a ficar estranho, como é que sabes isto tudo , e o sonho, não contei a ninguém, nem a minha mãe!
-Bem,porque eu...passei exatamente pelo mesmo.

MarcoOnde histórias criam vida. Descubra agora