Alice acordou e sentiu braços fortes a abraçando. Demorou pra lembrar-se de que Michael concordara em passar a primeira noite do ano com ela. E ficou ali, apreciando o momento com seu melhor amigo, e agora namorado.
-Bom dia Lizy! -Michael disse em seu ouvido, tempos depois.
-Bom dia Mike! -ela respondeu.
Alice olhou no relógio em sua parede e notou que já eram onze horas, então resolveram descer pra tomar café.
-Tá tudo bem?? -Michael perguntou, enquanto eles passavam no corredor, rumo a cozinha.
-Tá sim. Ai! -Alice respondeu, colocando a mão na cabeça, onde sentia a agora tradicional dor alucinante.__________________
Alice estava novamente na sala abaixo da casa, a sala com retratos de mulheres jamais vistas em outro lugar. Foi até a lareira mais uma vez e pegou o livro. Letras flamejantes apareceram no ar, magicamente, e formaram a frase que sua mãe sempre a advertia.
"Tudo a seu preço."
E imediatamente Alice acordou no chão do corredor.
-Alice!
-O que aconteceu?
-Você desmaiou, mas acordou em frações de segundos.
-Eu sonhei de novo, aquela mesma coisa. -Alice ainda tinha a mão na cabeça, e a mesma dor a acertava em cheio.
Michael a pegou no colo e colocou no sofá da sala de estar. Laura e ele conversavam sobre coisas que a cabeça embaralhada de Alice não a deixava entender.
-Você tá bem, Alice? -foi a última coisa que ela ouviu, antes de desmaiar novamente.__________________
Dessa vez ela estava num cômodo vazio, com as paredes pintadas de preto ou alguma outra cor escura. Ao redor, haviam velas acesas, deixando a sala sombria. Vozes sussurravam palavras que ela não podia entender. Sua cabeça girava e ela não entendia o que estava acontecendo, e então as vozes foram tornando-se mais claras.
-Tá na hora.
-Ela já deveria saber. -outra voz falou.
E então na sua frente apareceu uma figura de uma mulher com os cabelos ruivos.
-Você deve ser Alice, certo? -a mulher falou.
-Sim.
-E você tem 18 anos agora, certo?
-Sim...
-Suponho que não saiba nada a nosso respeito.
-Quem é você? Onde eu tô?
-Eu sabia que Laura não diria nada sobre nós... -falou uma mulher com cabelos com mechas grisalhas em seu cabelo preto em corte chanel, que, a propósito, Alice não notara sua presença até o momento.
-Como sabem o nome da minha mãe? Como sabem o meu nome? -Alice perguntou.
-Pelo visto não sabe nada mesmo... -a mulher ruiva falou.
-Muito feio da parte de Laura esconder sua filha de nós. -a outra respondeu
-Eu sabia que aquele mundano não estava fazendo bem pra ela.
-O pior erro dela foi...
-Vocês poderiam responder minhas perguntas?! -Alice as interrompeu.
-Onde sua mãe está?
-Me respondam primeiro!
-Temperamental igual a mãe... -a mulher de mechas grisalhas falou.
-Ta bem, tá bem... qual sua primeira pergunta?
-Quem são vocês? -Alice perguntou, sem hesitar.
-Eu me chamo Kendra... e essa é Daísy, sua tia avó.
-O quê?
-Ela é sua tia avó, Alice.
-E você é quem? Minha tia? -Alice retrucou, em tom zombeteiro.
-Exatamente.
-O quê?? -Alice falou, boquiaberta. Ela parou pra pensar, e realmente, aquela mulher tinha feições parecidas com a de sua mãe.
-E onde estou?
-Você está desmaiada, e nos estamos no seu pensamento.
-E como vocês fazem isso? Entram no meu pensamento?
-Essa é uma das nossas... digamos, habilidades.
-Habilidades? Vocês podem fazer mais que invadir meu pensamento?
-Logicamente, Alice.
-O que vocês são?
-Nós somos bruxas, Alice. -a mulher que se apresentou como Daísy falou.
-E não apenas nós, sua mãe também. -Kendra completou.
-O quê? Minha mãe bruxa?
-Sim, Alice. E você também.
-Não pode ser. Que nada a ver. -Alice falou, enquanto relembrava os sonhos estranhos que tivera.
-Você realmente acha que eram apenas sonhos, Alice? -Kendra falou.
-Sim, eram apenas sonhos. E como sabe o que tenho sonhado ultimamente?
-Porque eu sou bruxa, Alice. E essa é uma das minhas habilidades, ler mentes.
-Vocês só podem estar brincando comigo. Se não eram sonhos, eram o que então?
-É uma habilidade sua, Alice. Assim como a maioria das outras bruxas, você pode fazer coisas enquanto dorme. É como se fosse sonambulismo.
-Isso explica a queimadura. Mas não deixa de ser um sonho, assim como qualquer outros. -Alice falou, irritada.
Daísy estava inquieta ao lado de Kendra.
-Hora de ir embora Kendra.
-Ok, já terminei por aqui.
Alice as observava sem entender nada.
-Pra tirar prova de tudo isso querida, vá até o alçapão que tem visitado enquanto dorme.
E num segundo, elas desapareceram da sala, e tudo ficou escuro. E em outro, Alice acordou no sofá com sua mãe ao seu lado e Michael no telefone.
-Alice! Michael, ela acordou! -e no mesmo momento, Michael desligou o celular e foi pra perto de Alice.
-O que aconteceu, Alice? -ele perguntou.
-Eu que pergunto... tive um sonho tão estranho.
-Que sonho? -Laura perguntou.
-Um sonho nada a ver. Com duas mulheres estranhas que diziam ser minha tia e a outra, minha tia avó.
O rosto de Laura assumiu uma expressão de surpresa.
-Como elas eram?
-Uma era ruiva e aparentava sua idade, e a outra tinha o cabelo curto e preto com mechas brancas. Mas o que isso importa?
Laura ficou mais surpresa ainda.
-Michael, eu e Alice temos que conversar, podia nos dar licença?
-Claro, eu volto mais tarde. -ele respondeu e foi em direção à porta.
Assim que ele saiu, Laura começou a falar.
-Me conta o que elas te disseram, Alice.
-Por que você tá dando tanta importância pro meu sonho?
-Me conta logo filha, isso é importante.
-Elas não falaram nada demais mãe. Falaram que você não tinha mencionado elas pra mim, que os meus sonhos eram reais e...
-"E" o que filha?
-Falaram que elas são bruxas, e você também. E eu também.
-Preciso te contar uma coisa, Alice. -a mãe falou, séria.
-Pode falar, mãe.
-O que elas disseram é a verdade.
-Oi?
-Isso mesmo que ouviu.
-Me explique.
-Ok.
-Mãe, isso é sério?
-É filha. Agora preciso que ouça com atenção.
-Ta bom. -Alice concordou, sem entender nada.
-Kendra é realmente minha irmã, e Daísy é minha tia. Minha família é composta por gerações de bruxas. Sua avó também era bruxas, mas ela não gostava muito da ideia, assim como eu. Eu sempre soube minhas origens, e no começo achava fascinante a ideia de ser bruxa. Mas isso tudo mudou quando eu completei dezoito anos, assim como você. Depois do meu aniversário, compromissos surgiram pra mim no clã.
-Que tipo de compromisso? -Alice perguntou, curiosa.
-Missões e lições, geralmente. E com isso, vi todos os meus planos indo água a baixo. Minha faculdade e meu emprego, eu já não podia mais ter uma vida normal, não podia ser uma adolescente normal. Mas eu tinha um compromisso com meu clã, e não podia abandoná-lo. E então, eu conheci seu pai. Todos que eu me relacionava, me tratavam de uma forma estranha, me evitavam, menos o seu pai. Ele sempre fora tão gentil comigo, e acabamos nos apaixonando. Infelizmente, seu pai era original de um clã também. E nós do clã Ruby, só podíamos nos relacionar com humanos. Foi aí que eu descobri que tinha um jeito de acabar com tudo isso, poderia viver uma vida normal. E então eu o fiz. Miguel e eu viemos morar aqui, a casa que era de uma bisavó minha, que minha própria mãe tinha nos oferecido. Achamos que morando aqui, estaríamos livres de tudo, e então engravidei de você, como tínhamos rompido nossos laços com nossas famílias, seu pai e eu achamos que sairia imune aos nossos sangues, mas isso não aconteceu.
-Calma. É verdade, eu sou bruxa? -Alice perguntou.
-Sim, infelizmente.
-Tá louca? Isso é irado!
-Não Alice, não é. Futuramente terá muitas missões e muitas coisas a aprender.
-E qual o problema disso, mãe? Eu quero saber mais sobre tudo isso!
-Essa sua curiosidade Alice...
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Tudo a seu preço
FantasyAlice foi criada pela sua mãe desde sempre, sem irmãos nem nenhum parente próximo. Sempre mantém distância de tudo e de todos e vive no mundo dos livros. Sua mãe sempre disse a ela que tudo tem um preço, ela só não imaginava que sua curiosidade tive...