Capítulo 3

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Na véspera de seu aniversário, Alice acordou assustada, ela sonhara novamente com o alçapão, a escada, a porta, as fotos, a árvore genealógica, a lareira, a caixa, o livro e o incêndio. Mas dessa vez, ela conseguira pegar o livro e o abrira, nele continha páginas e páginas com a mesma letra miúda, escritas à mão numa caligrafia caprichosa. A única frase que consegui guardar foi: "Seu sangue te mostrará sua origem, e te levará ao seu verdadeiro destino". Estava escrito na primeira página, com letras maiores as outras do resto do livro. Ao tentar sair da sala com o caderno, Alice acordara com uma dor alucinante em seu braço.
Da primeira vez, Alice ignorara e preferiu não contar para sua mãe, afinal, era apenas um sonho. Mas agora estava muito além de apenas um sonho, aquele "sonho" tinha até deixado uma queimadura em seu braço. Foi até o quarto de sua mãe, onde a encontrou deitada na cama lendo um livro.
-Bom dia, filha!
-Mãe, eu tenho que te contar uma coisa.
-Uma coisa mais importante que dar "bom dia" para sua mãe?
-Sim. Talvez você não considere... mas de qualquer forma, resolvi te contar.
-Você está me assustando, menina. Conta logo!
-Bom, o dia que eu dormi na casa do Michael, eu tive um sonho... na verdade um pesadelo.
-Até aí tudo bem... tem mais?
-Sim, e esse é o problema. Hoje eu sonhei novamente, o mesmo sonho...
-Isso é normal filha, são apenas sonhos!
-Sonhos fazem isso? -Alice disse, mostrando a queimadura no braço.
-Alice, me...me conta esse sonho, agora!
E ela contou o sonho, com todos os detalhes, exatamente como vira, e cada vez que contava mais, o rosto de sua mãe mudava para uma expressão aterrorizada.
-Eu sabia... sabia que isso ia acontecer.
-Isso o que, mãe?
Laura foi até a gaveta ao lado de sua cama e tirou de lá um colar, um colar dourado com um pingente com pedrinhas vermelhas dentro.
-Pegue isso. -ela disse, e deu o colar pra Alice.
-Presente adiantado?
-Exatamente. Isso vai evitar que aconteça de novo. -ela falou, apontado para a queimadura no braço de Alice.
-Mãe, o que é isso? Algum tipo de magia? É bruxaria? Como esse colar vai me proteger do fogo?
Laura abriu novamente a gaveta e pegou uma pomada.
-E pegue isso, vai melhorar essa queimadura.
-Mãe, me responde! Como isso vai evitar que eu me queime?
-Não conte a ninguém sobre isso, Alice.
-Mãe! -Alice gritou. -Dá pra me responder?
-Sim, esse colar vai te proteger do fogo, era de sua bisavó. Sem mais perguntas! Essa curiosidade sua um dia me mata, Alice!
-Ok mãe, sem mais perguntas.

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-Sério isso Lizy? -Michael perguntou
-Sim! Ela me falou que esse colarzinho vai me proteger do fogo.
-A tia Laura só pode estar louca!
-Olha, não comenta com ninguém sobre isso, nem com minha mãe.
-Tá bom, prometo que não vou falar pra ninguém.
-Valeu.
-Por que não foi em casa ontem?
-Minha mãe não deixou, por causa desse lance de sonho e tals...
-Entendi. Já são duas horas, vem comigo!
-Contigo pra onde?
-Você vai ver. -Michael disse, pegando na mão de Alice a a puxando pra fora da casa.
-Alice!
-Oi, mãe!
-Parabéns filha! -ela falou, erguendo um embrulho em direção à filha. -Abre o presente!
Alice pegou o embrulho, abriu e tirou de lá dentro um álbum de fotos. Ela abriu o álbum e a primeira foto que viu, era uma fotografia de sua mãe, e dela, que eatava no colo do pai.
-Mãe! Você nunca me mostrou essa foto! -ela disse, abraçando a mãe. -Muito obrigado! Te amo!
-Também te amo filha. Precisamos conversar.
-Ah mãe, hoje é meu aniversário, e Michael vai me mostrar uma coisa, depois você me fala, ok?
-Tá bom, tá bom. Mas vê se não demora tá? -ela disse, beijando a bochecha da filha. -E você, senhor Michael, toma conta da minha filha!
-Pode deixar, tia! -ele respondeu, batendo continência. -Vamos? -ele pegou a mão de Alice novamente e a puxou pra fora de casa.

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-Pra onde está me levando? -Alice perguntou.
-É surpresa!
-Me dá uma dica!
-É por aqui. -disse ele, puxando um galho pro lado e abrindo passagem para Alice entrar na floresta. Alice entrou e disse:
-Fazia tanto tempo que a gente não entrava aqui na floresta...
-Pois é. Lembra qual era o seu maior sonho, quando era criança? -Michael perguntou, enquanto entravam mais adentro da floresta.
-Ter um cachorro? Mike, minha mãe não vai deixar eu levar um cachorro pra casa!
-Relaxa, tampinha. Esse não era o seu sonho que me falava tanto.
Alice pensou, pensou e pensou, enquanto ele avançavam mais.
-Agora feche os olhos. -Michael tirou do bolso um pedaço de tecido, e vendou Alice. -Vou perguntar de novo, qual era seu maior sonho, quando era criança?
-Ah, não sei. Comer uma pizza inteira? Ter um esquilo?
-Não, não. Pense bem...
-Deixe me ver... começa com que letra?
-Não posso falar.
-Já sei, já sei! Uma casa... uma casa na árvore!
-Já não era sem tempo, baixinha... -Michael disse, e tirou a venda de Alice. Logo a frente dos dois, tinha uma casa na árvore, uma casa na árvore muito grande! Alice ficou tão feliz que lágrimas saíram de seus olhos.
-Não acredito! Muito, muito, muito obrigado Mike! -ela disse, enquanto beijava a bochecha de Michael seguidas vezes. -Como você fez isso?
-Com a ajuda do meu padrasto, mas isso não vem ao caso. Vai entrar ou não?
-Lógico que sim! -ela falou e foi logo subindo a escada pendurada, Michael logo atrás dela. Ela entrou, e seu rosto assumiu uma expressão de total fascínio, ela abraçou o amigo mais uma vez, tão repentinamente que quase o fez cair.
-Te amo, te amo. Muito obrigado!
-Tambem te amo Lizy, mas agora para de agradecer!
-Olha quantos livros! Eu vou demorar minha vida toda para ler todos eles!
Por mais que fosse exagero, haviam tantos livros lá, que a primeira vista, realmente te fazia pensar que uma vida toda seria pouco tempo para lê-los.
-Vem aqui. -Michael disse, puxando Alice pela mão enquanto abria uma porta com a outra, revelando um quarto, pequeno, mas com um colchão e dois puffs no canto.
-Como conseguiu tudo isso? A casa não vai cair, com esse tamanho todo?
-Relaxa, eu e meu pai fizemos ela bem fortificada.
-Vem, deita aqui! -Alice falou, enquanto se jogava no colchão. Michael se acomodou ao lado dela, e os dois amigos ficaram ali, conversando por horas e horas.
-Mike, eu tenho que te falar uma coisa.
-Sobre...?
-Sobre aquele dia...
-Seja mais específica.
-O dia... o dia do beijo.
-Esquece isso, Lizy. Eu já pedi desculpas...
-O fato é que... eu não quero esquecer.
E ao dizer isso, Alice o beijou. E não foi um beijo comum, foi um beijo cheio de sentimentos.
-Eu...eu não entendo Alice...
-Nem eu entendo, de um tempo pra cá, minha cabeça ficou muito confusa, eu não sei mais o que eu sinto por você. Mas se você não sentir o mesmo, eu vou entender...
-Mas é claro que eu sinto o mesmo por você, Lizy.
-Você fala sério?
E então, dessa vez, Michael a beijou, um, beijo longo e demorado.
-Isso responde sua pergunta?
Alice sorriu.
-Eu te amo.
E dessa vez, não foi um "Eu te amo" de amigos, era diferente.
-Eu também te amo, Lizy. E eles ficaram ali, abraçados. Aproveitando todo o tempo que tinham perdido.

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