Capítulo 8 - Encontrada

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Cai no vazio por poucos segundos, que pareceram uma eternidade, e bati em cheio num monte de sacos de areia.

Fiquei paralisado por um momento e me ergui dolorosamente. Olhei ao redor, estava no fundo do poço, do que provavelmente havia sido um elevador, a minha frente havia uma espécie de deposito, o porão do prédio eu imagino.

Andei para frente, e por algum motivo o lugar não estava tão escuro, vinha luz do fundo. Andei entre prateleiras de arquivos empoeiradas, nesse ponto eu já não sabia onde estava me metendo. O que aconteceu lá em cima, se foi mesmo minha imaginação, eu confesso que não me importaria se me internassem em um sanatório como aquele.

Havia um cheiro de fumaça e incenso no ar, era muito desagradável. Depois de passar por todas as prateleiras, me encontrei em mais um corredor, eu poderia continuar a segui-lo, ou poderia voltar nele e ir até a fonte da luz e do cheiro, que vinham lá de trás. E claro, fiz a escolha mais idiota. Andei até a luz, que vinha de uma abertura larga. Olhei lá dentro, e então, finalmente encontrei minha irmã... Mas não como eu esperava encontrar.

Ela estava com um vestido comprido e cheio, como os das mulheres que encontrei, só que preto. Seu cabelo estava preso em uma trança e ela usava joias por todo o corpo, em sua maioria crucifixos e rosários, ela estava de joelhos no meio de um circulo desenhado com giz branco no chão, e velas a rodeavam. Segurei um grito ao perceber que ela segurava uma faca e estava prestes a cortar seu pulso. Olhei com mais atenção e um arrepio subiu por meu corpo ao ver uma foto em tamanho real de nosso pai, que foi tirada pouco antes de ele morrer, colada a parede. O que eu mais temia que ela estivesse fazendo se concretizou. Não pensei duas vezes e corri até lá, a agarrei e a puxei para fora do circulo.

- Melanie! - A sacudi, seus olhos estavam abertos, porém paralisados, encarando o nada. - Melanie... por favor, fale algo. - Dei tapinhas em seu rosto e a sacudi várias vezes, mas sem reação. Ela parecia estar enfeitiçada. A abracei, e então todo o medo e desespero que vim acumulando desde que havia chegado a este lugar, se derramou em lágrimas. Fechei meus olhos e continuei ali, chorando de soluçar e a abraçando.

Abri os olhos não sei quanto tempo depois, me desesperei ao ver que Melanie havia sumido, e eu estava amarrado a uma poltrona, foquei-me no lugar em que estava, era como uma sala de cinema antiga. E um filme estava se iniciando na tela.

Naquela contagem antiga, a imagem em preto e branco e com chuviscos, como uma filmagem caseira. 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10.

Começou. Soltei um grito ao ver Melanie na filmagem. Ela estava sentada em uma cadeira de metal em uma sala totalmente branca. Ela estava usando as mesmas roupas da manhã anterior, só que totalmente sujas e um pouco rasgadas.

- Me diga... - Estremeci ao ouvir aquelas voz, rouca e esganiçada, porém masculina. - O que você quer mesmo? - Melanie encarou a câmera. - Meu pai... quero meu pai de volta. - Ela disse com melancolia e uma ponta de desespero. - Hum... sim. E o que você faria para tê-lo de volta? - Ela abaixou a cabeça, depois de um intervalo deu sua resposta. - Qualquer coisa. - Ela encarou a câmera com raiva, me senti como se o olhar tivesse sido para mim. A filmagem foi cortada. E depois reiniciou em um cenário diferente. A casa de campo. Melanie bateu na porta e mamãe e Coraline a receberam com visível alegria, a abraçaram e a levaram para dentro. E a tela ficou negra. De algum lugar um som se repetia. A voz de Melanie dizendo repetitivamente :  "Qualquer coisa... Qualquer coisa. " . Minha cabeça foi tomada por uma dor horrível, tampei meus ouvidos pois um chiado estrondoso e insuportável tomou o lugar. E então, cai em um sono pesado.

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