Preferi passar pelas trilhas da floresta pois eu sabia que Melanie pegaria o carro e iria pela estrada. Sim, ela sabia dirigir. Coraline estava começando a ficar pesada. Andávamos e andávamos e parecia que não chegavamos a lugar algum.
Coloquei Coraline no chão e me sentei em uma pedra.
- Sebastian! Por que estamos fugindo? Cadê a mamãe? - A sentei em meu colo.
- Ela já vai vir nos buscar. - Ficamos ali um tempo, eu estava quase adormecendo quando ouvi passos. Abri os olhos e não encontrei Coraline, foquei minha visão ao redor e avistei Melanie saindo rapidamente para o meio da floresta de mãos dadas com Coraline. E ao redor delas, me pareceu que muitas sombras as seguiam como as do corredor do sanatório. Corri até lá, joguei Melanie no chão e me coloquei na frente de Coraline.
- Melanie! Me escute, você foi enganada, essas coisas que falaram com você são más, elas querem destruir nossa familia, e estão conseguindo! Eu não sei o que você fez... - Tampei os ouvidos de Coraline. - ... Mas nossa mãe morreu! - Disse já com os olhos lacrimejados. - Morreu, Melanie! E ela não vai voltar assim como nosso pai também não! Pare com essa maluquice, vamos embora desse lugar e vamos tentar viver normalmente, se é que isso será possível depois de tudo isso! - Ela tapou ou ouvidos com as duas mãos e começou a balançar a cabeça, chorando.
- Não... Não! Pare, eles estão ficando bravos... Eles, eles vão me machucar! Pare... Pare... ! - Ela se jogou no chão e começou a se esbofetear. Me abaixei e tentei ajudá-la.
- Não... Não pode ser... Por que fizeram isso? Por que?! - Ela estava totalmente descontrolada. - E-eu vou acabar com isso... De uma vez por todas! Não aguento vocês, não aguento isso! Me deixem em paz, deixem meus irmãos! - Ela pegou sua faca.
- Melanie! Não! Solta isso! - Me levantei e me coloquei novamente como escudo para Coraline.Melanie se ergueu e segurou a faca com suas duas mãos, ela começou a murmurar coisas que eu não entendia e permanecia com a cabeça abaixada.
- Em um dos tópicos do livro... Diz que, quando uma pessoa permite-se chegar muito perto das sombras... - Ela me olhou, seus olhos antes castanhos, agora estavam totalmente negros, sombras emanavam de seu corpo. - Ela se torna a sombra. - Antes que eu pudesse reagir, minha irmã afundou a lâmina da faca em seu peito e seu corpo se dissolveu em sombras.
Gritei e ergui minhas mãos para frente, como se eu pudesse evitar que ela sumisse, mas minha irmã desapareceu. Porém, as sombras não, elas aumentaram e agora vinham em minha direção. Peguei Coraline e sai correndo o mais rápido que podia. Logo começou a nevar, coloquei o gorro em Coraline e fechei minha jaqueta. Chegamos na estrada, e seguimos em direção a cidade mais próxima.
* * *
O vento estava cada vez mais gélido. Apertei Coraline mais forte e acelerei o passo.- Quando mamãe vai vir nos buscar Sebastian? -Ela perguntou, pigareei ao tropeçar em um galho.
- Logo logo...
Não podeira dizer a verdade. Que nunca mais veríamos nossa mãe. Nem Melanie. Ela ficaria melhor assim, não queria que ela carregasse tudo o que eu estava carregando dos últimos dias. As imagens, os gritos, as vozes. Os sonhos. Os malditos sonhos. Minha mente estava a ponto de enlouquecer. Estava quase chegando a ponte que nos levaria de volta a civilização quando elas voltaram, as malditas sombras. Tentei ser forte e ignorá-las. Consegui por alguns minutos mais minha tolerância estava abalada. Coloquei Coraline atrás de uma moita e me virei para as sombras, com os punhos cerrados.
- Me deixem em paz! Já destruíram minha família, o que mais querem?! - Gritei enquanto as lágrimas enchiam meus olhos.
Os sussuros aumentaram. Coloquei as mãos nos ouvidos e cai de joelhos na grama molhada. Era insuportável a tortura que aquilo me causava. Fiquei naquela posição até as vozes pararem, me ergui e olhei ao redor, haviam ido embora.
Suspirei aliviado e voltei para pegar Coraline.
- Não...
Na moita estava apenas seu gorro. E nenhum sinal de minha irmã.
- Coraline! Coraline! - Gritei desesperado.
- Ei, calma garoto! Ela está aqui conosco! - Uma mão tocou meu ombro, me virei e dei um soco em cheio na pessoa, um homem vestido de policial cambaleou e caiu na grama. Olhei para a estrada e vi duas viaturas policiais e uma ambulância. Coraline estava no colo de uma das polícias brindando com Sammy, contei resumidamente tudo aos políciais, eles me olharam estranho, provavelmente achando que eu estava maluco, e talvez estivesse. Mas eles mandaram a ambulância e uma das viaturas para a casa, eu e Coraline fomos na outra.
Coloquei um braço em volta de Coraline, e observei a paisagem pela janela. A alguns dias, um eu um pouco mais equilibrado e órfão apenas de pai, estava dentro de um outro carro fazendo aquele mesmo trajeto. Suspirei. E então olhei para a policial que estava conosco no banco traseiro, e juro por tudo, vi uma sombra na frente dela. Uma sombra que tinha uma silhueta bem parecida com minha outra irmã...
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Imaginarium
ParanormaleTalvez a porta tivesse ficado trancada. Ele não sabia, e nem soube. O que soube, foi que sua imaginação lhe enganou. De novo, e de novo. Tudo se perdeu. Sebastian é o filho mais velho da família Western. Após uma triste tragédia que levara seu p...