Capítulo 1- Hospede Indesejado

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- Por que eu tenho que fazer isso mesmo?

- Por que eu sou sua melhor amiga e estou indo pra Alemanha?

- E no que sua faculdade me afeta?

Bliss empurra meu ombro:

- Por favor, Sara, é por apenas três meses!

Não quero o irmão dela morando comigo nem por um dia.

- Por que ele não aluga um apartamento? Ou fica no dormitório da faculdade?

- O dormitório da faculdade está cheio e não é o melhor lugar do mundo. E ele não tem um emprego, o dinheiro que tem é para pagar a faculdade. Se deixar ele ficar com você, ele pode arrumar um trabalho e juntar dinheiro o bastante para dois meses de aluguel adiantado.

- E então ele se muda?

- Sim. É por apenas três meses, mais ou menos.

Minha melhor amiga junta as mãos abaixo do queixo e bate os cílios, naquela expressão de cachorrinho que caiu da mudança que ela sabia que me fazia ceder.

Eu não via Alejandro há treze anos. E da última vez que o vi, ele tinha cabelo de tigelinha, um curativo na testa, que ganhara após se machucar andando de bicicleta, e uma das minhas bonecas preferidas nas mãos. Ele era o meu pesadelo. Sua maior diversão era comer meus gizes de cera, tirar a cabeça das minhas bonecas e esconder meus sapatos.

Quando a mãe dele o levou para o México, dei graças a Deus.

Embora ele certamente tivesse crescido e eu não brincasse mais de bonecas, ainda tinha minhas reservas sobre ele.

Mas, como sempre, minha melhor amiga conseguiu me convencer:

- Tudo bem. Três meses e nada mais.

- Obrigado!

Bliss se joga em meu pescoço, quase me derrubando do banco de madeira na varanda de casa.

- Não fique tão alegre. Ele vai dormir no sofá e cortar a grama do quintal.

Ela ri, finalmente se afastando e colocando algumas mexas de seu cabelo louro, que herdara do pai, atrás da orelha.

- Sem problemas. Mais alguma coisa?

- Diga a ele para não esconder meus sapatos.

Bliss sorri e é impossível não espelhar seu sorriso de menina:

- Ele cresceu. Não é mais o menininho de que se lembra.

- Nem tão chato, espero.

- Isso eu não posso garantir- da de ombros- Mas ele está um gato, reconheço.

Torço o nariz.

- Eu ainda me lembro dele coberto de terra querendo me forçar a comer aqueles bichinhos nojentos que ele achava em coquinhos no quintal. Nada supera minhas lembranças do menino travesso que ele era. Seria como... Sei lá, vivemos juntos por tempo demais.

- Ele está seguro com você, até mexer nas suas coisas.

Ficamos em silêncio por um momento.

Bliss não queria ter que deixar o irmão, mas precisava voltar para a Alemanha e terminar a faculdade que a mãe pagara.

Depois da morte do pai, há um mês, seu irmão não tinha onde ficar, pois a casa onde morava, ainda no México, tivera que ser vendida para pagar as dívidas que Leroy deixara espalhadas por Washington. O valor não fora suficiente, mas meu pai ajudara com o que faltou.

O Irmão Da Minha Melhor AmigaOnde histórias criam vida. Descubra agora