Capítulo 8- Amigos

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É claro que quando se pensa em morar com garotos vem logo aquela preocupação sobre o assento da privada, garotas seminuas no sofá, meias fedorentas, pratos sujos, não poder mais andar de calcinha e sutiã pela casa... Mas até que tem lá suas vantagens.

Para mim, Alejandro ainda era o cara irritante, que quando criança quebrava minhas bonecas e que dentro de quase três meses estaria dando o fora da minha maravilhosa casa.

Para ele, eu era a Sara de uma década atrás, com quem ele arrumava confusão e conversava, de quem era inimigo e amigo ao mesmo tempo, e para quem ele levava canecas com sopa no meio da noite quando estava doente dizendo que se eu melhorasse ele me deixaria brincar com os carrinhos que meu próprio pai havia lhe dado. É claro que era tudo mentira.

Embora eu já fosse basicamente uma adulta, e lá no fundo preferisse que o irmãozinho da Bliss mantivesse distância, era bom ter alguém para me mimar enquanto estava mal.

Com Trey de porre e incapaz de cuidar da minha tão frágil pessoa, e com papai ligando para avisar que não poderia vir nesse fim de semana, ter Alex por perto não foi assim tão ruim.

Mais ou menos. Eu ainda queria socá-lo as vezes.

- Isso está muito ruim- empurro a tijela com caldo de galinha industrial para longe e ele a empurra para mim novamente.

- Coma- retruca entre uma colherada e outra de cereal.

- Mas isso fede!- torço o nariz.

Alex bufa.

- Não é pra cheirar, Coisinha, é pra engolir.

Reviro os olhos e apoio os cotovelos na bancada ao lado da pia.

Depois de me sentir enjoada, Alex me fez levantar da sala e vir comer em pé ao lado da pia para casos de eventuais emergências. Mais higiênico que me fazer comer no banheiro, segundo ele.

- Por que eu não posso comer isso ai?- olho para a tigela em sua mão.

- Você quer?- ele a entende pra mim, apoiado na bancada com um dos cotovelos.

Afasto o rosto para longe do cheiro de leite.

- Não.

É a vez dele de revirar os olhos.

- É mais fácil cuidar de uma criança de de sete anos do que de você.

- O que você sabe sobre uma criança de sete anos?

Ele franze o cenho, abocanhando a colher.

- Meio que fui babá de uma garotinha no México- responde com a boca cheia.

Sorrio, imaginando o grandalhão Alejandro brincando de boneca.

- Será que dá pra você comer?

Respiro fundo e engulo uma colherada do caldo, apenas para tê-lo voltando num nanosegundo.

E tudo o que Alex havia me feito ingerir vai parar dentro da pia numa sessão nojenta e constrangedora de vômito e calafrios.

Seguro na borda da pia quando me sinto sufocada e Alex pousa sua mão quente em minhas costas, a esfregando lentamente, para cima e para baixo, me confortando com sua irritante presença.

A ânsia continua mesmo quando meu estômago já está totalmente vazio, meu corpo arrepiado e coberto de um suor gelado.

- Tudo bem?- seu tom é tão suave e compreensivo que me faz rir quando meneio a cabeça em positivo- Vá lá em cima escovar os dentes.

O Irmão Da Minha Melhor AmigaOnde histórias criam vida. Descubra agora