Daniel Pryde estava em um ponto de Londres onde os moradores não iam. De noite, aquelas bandas eram cheias de criaturas da noite, que atacavam os bestas que se aventuravam naquela parte da cidade. As pessoas (e outras coisas) que andavam à noite chamavam o lugar de SubLondres.
Daniel estava lá por causa de um trabalho. Sua ocupação como investigador paranormal freqüentemente o levava até SubLondres. Desta vez, ele estava lá para fazer um exorcismo.
Ele andava calmamente pela rua, fumando o seu habitual cigarro e usando o seu habitual sobretudo preto. A fumaça do cigarro se misturava com os vapores fumacentos que saíam dos bueiros. Parou em frente ao prédio caindo aos pedaços e entrou pela porta de madeira que estava aberta.
Daniel subiu as escadas de madeira quase podre até o 3º andar. Percorreu o corredor até o apartamento que fora indicada. Seu cigarro estava quase no toco. Ele jogou fora e pegou outro. Uma chama pequena, como a de uma vela, apareceu na ponta do seu dedo indicador. Com essa chama ele acendeu o cigarro, e fechou a mão, apagando-a. Sorriu com desprezo sarcástico a si mesmo, por usar tal truque. Eram os benefícios de ser um mago.
Ele tragou antes de abrir a porta. E lá dentro do apartamento abandonado ele viu um garoto, jovem, flutuando no teto. Daniel desviou para o lado quando o garoto tentou pular em cima dele. Ele notou que os olhos dele estavam dourados, sinal de possessão demoníaca.
Ele pegou a corda que trazia consigo e esperou até o garoto pular para o chão novamente. Quando Daniel se abaixou para desviar, rapidamente agarrou o garoto, o virou de barriga pro chão e amarrou as suas mãos nas costas firmemente.
Agora que o possuído estava imobilizado, Daniel começou a aprontar o ritual. Com um pincel que trazia em um dos bolsos, pintou no chão um antigo símbolo, com sangue que porco que trazia num vidro.
Distribuiu as velas nos seus respectivos lugares, e aí botou o garoto no centro do símbolo. O pobre possuído se debatia, mas ele era apenas um garoto, então não foi muito difícil para Daniel controlá-lo.
A mãe do garoto tinha o chamado de tarde. A mulher gostava tanto do filho que quando o viu possuído, o jogou naquele prédio, se afastou de lá o mais rápido possível e chamou Daniel.
Ele entoou as palavras rituais, e o garoto se contorceu ainda mais. Continuou entoando, e uma fumaça ocre envolveu o garoto. Daniel levantou a mão direita à sua frente, sempre entoando as palavras. E então, o garoto gritou e a fumaça tomou forma, flutuando acima do círculo.
– Volte para a sua dimensão. – Daniel falou. – Pra quê pegar um corpo humano, de qualquer modo? Pensei que arquiduques do terceiro círculo do Inferno tivessem bom gosto.
– Talvez, Aethe. – uma voz sombria soou na sala. Daniel suspirou, impaciente.
– Volte pra casa, András. Se você não for do seu jeito, será do meu.
– Não precisa ser rude. – A voz falou. Um portal se abriu, e o vapor cor- de- poeira o atravessou, deixando a dimensão.
– Droga de demônio fedido. – Daniel resmungou, por causa do fedor de enxofre que András deixou na sala. Jogou a bituca do cigarro fora. – Droga de cigarros vagabundos que não duram nada.
Enquanto ele acendia (dessa vez com o isqueiro) outro, ouviu uma voz gemendo abaixo dele.
– Ah, você está aí. – falou ao garoto. Se ajoelhou e o desamarrou. – Você tá bem?
– Estou doído.
– Você lembra de alguma coisa? Qual a sua última lembrança?
– Eu só lembro de estar no meu quarto, vendo TV.
– E o seu nome?
– Maxwell. O que houve?
– Você não iria querer saber, garoto. Vem, vamos sair daqui.
No caminho para sair do prédio, Daniel ligou para a mãe de Maxwell, que o tinha contratado. Falou que tudo estava bem, e que ela podia vir buscá-lo.
– Então, quem é você? – Maxwell perguntou.
– Daniel Pryde.
– E, você é tipo, um mago?
– É, tipo um mago.
– E o que é isso no seu cabelo?
Daniel esperava que ele não tivesse notado.
– Hum... o negócio é que... existem demônios nesse mundo. E...
– Tá, isso eu sei. Eu vejo Angel.
– Certo. Bem, você foi possuído por um demônio. Um bem chato, András.
– Tá, mas eu quero saber porque você tem chifres.
– Não esqueça da cauda. – Daniel resmungou.
– Han?
Daniel levantou a franja com a mão, expondo os pequenos chifres cinzentos que ficavam no alto de sua testa. E por debaixo do sobretudo preto, havia uma cauda comprida até o chão, cor de pele, levemente acinzentada.
– Você tem uma cauda. – Maxwell falou, pasmado.
– Eu sou meio-demônio. – Na fraca luz das lâmpadas e da lua, o garoto viu o seu salvador claramente. Daniel tinha cabelo curto, escuro, liso, e a franja rala caía até o meio da sua testa, para esconder os chifres. Era alto, o rosto levemente pontudo, olhos castanhos-avermelhados, e no momento fumava um cigarro. Ás vezes a cauda era visível, balançando, meio escondida pelo sobretudo preto, e quando ele sorriu, os caninos avantajados ficavam visíveis. Presas.
– Por isso que ele te chamou de Aethe?
– Você estava acordado? É, é o meu outro nome.
– E o quê você faz da vida ale de exorcismos?
– Você pergunta demais, sabia? Bom, acho que se pode dizer que eu sou um... investigador paranormal. Acho que esta é a sua carona. – Daniel falou ao ver o carro estacionado.
– Quantos anos você tem? Ouvi falar que demônios vivem muito.
– Eu sou só meio demônio, garoto. Eu tenho e aparento 35 anos. Você vai ficar me entrevistando ou vai pra casa com a sua mãe?
Maxwell foi embora e Daniel entrou no prédio, para voltar à sala e pegar as suas coisas que ele tinha deixado lá. Enquanto ele apanhava as velas, o chão de madeira podre finalmente cedeu, e ele caiu espetacularmente no andar de baixo, pelo buraco.
Xingando até a 15ª geração do carpinteiro, ele conseguiu se levantar no meio da madeira quebrada e poeira que estava voando. Saiu do quarto em que estava, e foi para o corredor, acendendo outro cigarro, que o outro tinha se perdido na queda.
Daniel iria embora facilmente, se ele não tivesse olhado rapidamente por uma das portas do corredor e voltado para ter certeza que seus olhos não o enganavam. Ele sacou a arma que carregava, enquanto entrava no quarto.
O chão estava coberto por cadáveres. O sangue tinha banhado aquele lugar. E os corpos não eram só de humanos, mas também de demônios, e até mesmo anjos.
Daniel odiava anjos. Eram esnobes, chatos, metidos e burocratas. Mas lá estavam, uns 20 ou mais corpos de anjos. Na verdade, haviam mais anjos e humanos do que demônios. Não dava para ver as causas das mortes, estava muito escuro. Mas dava pra ver o sangue. Os sangues, na verdade. Tudo era vermelho, mas os tons variavam para cada raça. O sangue angélico era vermelho mais claro, o demoníaco era mais escuro e o humano era intermediário.
E aí, enquanto Daniel fitava a cena, ele notou dois olhos brilhantes olhando pra ele. E então, viu um rosto. Com alguma dificuldade, ele conseguiu discernir aquele rosto dos demais. Era uma garota, com menos de 20 anos de idade, de cabelos vermelho-sangue (se bem que ele não sabia se estavam manchados), pele branca como papel, e olhos... brancos, talvez? Eram realmente muito claros, e não dava pra ver direito na penumbra. Ela usava um vestido que já tinha sido branco, mas agora era vermelho. Ela ainda olhava para Daniel, agachada no chão, espremida entre os corpos.
– Me ajude. – foi tudo que ela falou.
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Angelus Daemonicus
ParanormalDaniel Pryde, investigador paranormal, encontra em um prédio abandonado a pessoa que muda a sua vida faz com que ele seja forçado a fazer uma decisão que o mudará para sempre.