Em qualquer outra história, seria o contrário. Os anjos seriam os heróis, e Daniel seria o demônio vilão. Como as pessoas são cegas!
Para esclarecer, ele não estava fazendo aquilo para salvar os demônios do mundo. Ele ficaria é muito feliz se alguns deles sumissem. Ele estava fazendo aquilo, primeiro, porque não queria morrer, e segundo, por causa de uma menina que tinha conhecido há apenas alguns dias atrás.
Ele sabia que os Esnobes poderiam fazer outra como Rhaine. Uma outra híbrida. Mas demoraria, e até que eles conseguissem passar pela burocracia, Daniel já estaria bem longe. Não seria ele. Algum outro demônio acharia a nova concha, e seria problema dele. Não de Daniel.
Mas agora, era problema dele. Daniel olhava para Rhaine, ou o que ainda restava dela, que estava deitada na maca de pedra. Nesse momento, ela já estava completamente subjugada, e estava horrível. O cabelo vermelho molhado de suor, assim como o rosto. Os olhos estavam praticamente brancos de tão claros, ela já estava verde de pálida, a maioria das veias aparecendo pela pele quase transparente. Ela falava coisas sem sentido, palavras em angélico misturadas com gemidos de dor.
Daniel se abaixou e olhou nos olhos dela.
– Rhaine, eu sei que você ainda está lutando. Lembre-se de quem você é... – ele falou palavras que vinham do centro da sua humanidade. Palavras que ele nunca pensou que diria a nenhum demônio, humano, mulher, homem, velho ou criança. Ele botou todos os seus sentimentos pra fora, chamando Rhaine de volta. Quando ele terminou de falar, ela tremeu violentamente, mas ele a agarrou pelos braços e a forçou a olhar nos seus olhos. – Rhaine, eu te amo como um pai ama uma filha. Agora venha aqui e fale comigo direito.
E então ela piscou e se levantou um pouco.
– Daniel...
– Pensei que você nunca viria. – ele sorriu largamente, deixando as presas à mostra.
– Eles estão... saindo. Eu não...
– Calma, eu sei. Você tem que ser forte.
– Eu sei, não tem outro jeito. Faça o que você tem que fazer.
Ele a fitou brevemente antes de desviar o olhar. Não poderia fazer aquilo com ela, não naquele momento, não daquele jeito. Se forçou a falar:
– Não sem antes me despedir.
– Daniel, não vai demorar muito até eu morrer. O anjo já subjugou o demônio, agora é só uma questão de tempo. Se você demorar demais, não poderá fazer mais nada, as coisas só vão piorar e tudo terá sido em vão.
– Você tem certeza que nunca leu nenhuma história épica? Que coisa mais lírica.
Ela riu brevemente. Daniel pegou uma faca e fez um corte no seu braço. Banhou um machado que estava dando sopa no chão com o seu próprio sangue. Rhaine olhou para os braços marcados dele.
– Daniel, porquê você se machuca?
– Às vezes, para apagar a dor que vem de dentro, é preciso sentir a que vem de fora. E acredite, a dor interior é pior.
Ela sorriu fracamente.
– Você foi um pai legal.
– Me desculpe. – ele falou. Suas feições pareciam feitas de pedra.
– Corta o papo furado. – ela falou com a voz firme. – Vamos logo com isso.
Daniel riu. Rhaine se deitou novamente na maca de pedra, e ele a beijou na testa.
– É melhor assim, indolor, do que como seria se eu deixasse o anjo me destruir. – ela o assegurou.
– Eu sei.
Ela olhou para ele, que havia erguido o machado, mirando no pescoço dela.
– Adeus, Daniel.
– Adeus. – e abaixou o machado.
***
O corpo dela se transformou em fumaça no momento em que a ação foi feita. Daniel tirou o maço de cigarros do bolso da calça e acendeu com o seu truque da chama no dedo. Sua mente estava sob um torpor, cabeça estava dormente. Abriu a porta, tragou, e não se surpreendeu ao ver que os corredores estavam vazios. Todos deviam estar paparicando Gabriel. Perto da porta da mansão, ele encontrou um sobretudo preto muito parecido com o seu num armário perto da porta da frente. Tinha que pegar o seu de volta, pensou. Mas mesmo assim pegou aquele "emprestado", e saiu andando pelas ruas sombrias de Londres, fumando o seu habitual cigarro e usando o seu habitual sobretudo preto, como o verdadeiro demônio que agora tinha assumido ser.
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Angelus Daemonicus
ParanormalDaniel Pryde, investigador paranormal, encontra em um prédio abandonado a pessoa que muda a sua vida faz com que ele seja forçado a fazer uma decisão que o mudará para sempre.