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– Eu nunca vi nada assim. – Rat falava. Daniel olhava sério para ele, com o cigarro meio solto nos lábios. – Venha cá ver.
Daniel foi olhar no microscópio e viu os glóbulos vermelhos. Como ele sabia que Rhaine era estranha, já esperava alguma anomalia. Mas só não esperava ver 3 tipos de hemácias ali.
– Ela é híbrida das três raças. – ele olhou para Rat.
– Sim, ela é. Agora, pode me explicar? – o químico perguntou.
Daniel se sentou numa cadeira e pôs-se a explicar tudo o que tinha acontecido na noite passada.
– Ela é problema, você sabe. – Rat concluiu.
– Talvez. Mas eu fiz uma promessa. Eu vou até o fim.
– E onde você pretendia deixá-la?
– No Kingdom Asylum.
– Você queria largar uma humana-anjo-demônia num hospício? Você que é o doido.
– Isso foi antes de eu saber. E ela quer que eu a leve. É bom que eu faço vigilância.
– Boa sorte.
– Você pode me passar os tipos do demônio e do anjo?
– Posso.
– E seja rápido, por favor. – Daniel apanhou outro cigarro no casaco e o acendeu. Ele sabia que teria que voltar àquele lugar, e ver de quem eram os corpos. Mas agora os anjos já sabiam que ele estava no caso, já deviam ter limpado o local. Bem, não custava nada ir até lá.
– Olha só: - Rat voltou segurando uns papéis. – o anjo dentro dela parece muito com Gabriel, embora não seja idêntico. E o demônio é um demônio normal, desses que andam por aí no metrô. Mas as maiores porcentagens são o humano e o angélico. 20 % do demoníaco, 40 % humano e 40 % angélico.
– Gabriel? Não me diga que eu vou ter que ir falar com aquele metido. Nenhum nome para o demônio?
– Não, o sangue é derivado de vários.
– Que merda. Isso é coisa dos anjos. Se eu for falar com eles, eles vão cortar a minha cabeça fora. Você sabe que essa gente odeia demônios.
– Bem, isso é problema seu.
Daniel olhou pra ele, sério.
– Hum... falando nisso, eu vou precisar daquele sangue... você sabe.
– Ah. Mas já?
– Está tudo agitado aqui dentro. Não quero que algo desagradável aconteça.
Rat afirmou com a cabeça, em compreensão. Foi até um armário, que era um frigobar disfarçado, e pegou algumas ampolas cheias de sangue. Também abriu uma gaveta, abriu um frasco, botou uns comprimidos na mão e os engoliu, junto com uma dose de uísque.
– Você vai precisar agora? – perguntou a Daniel.
– Não, eu faço em casa.
– Certo. – enquanto Daniel guardava as ampolas num bolso do casaco, Rat estava preparando uma injeção, com um líquido esbranquiçado.
– Ainda nisso? – Daniel falou enquanto Rat injetava o líquido no próprio braço.
– Você não me julga nisso, e eu não te julgo sobre você ser viciado em sangue humano.
– Cada um com os seus problemas, então.
– É isso aí.
***
Daniel levou Rhaine para o carro, e a acordou lá. Ela abriu os olhos e olhou pra ele.
– O que houve? – perguntou fracamente.
– Rhaine, nós descobrimos umas coisas. Hum, existem demônios nesse mundo. Nem todos são maus. E também existem anjos, e esses são chatos. Eu sou meio-demônio, mas você... tem sangue humano, demoníaco e angélico, e nunca ninguém viu nada assim. – ele jogou fora a bituca do cigarro fora.
– E... o que você vai fazer?
– Realmente não sei. Mas acho que vamos ter que voltar ao lugar onde te achei. E aí, se for preciso, ir falar com um amigo meu.
– Quem?
– Um certo anjo caído que governa o inferno. É melhor do que falar com Gabriel.
– Gabriel?
– O seu sangue angélico é derivado do dele. Ou parece com o dele. Não sei.
Eles dirigiram por Londres até Daniel parar na frente de um prédio velho. Entraram, e Rhaine o seguiu até um apartamento no 3º andar. Ele abriu a porta sem bater, e os dois entraram em uma sala ricamente decorada.
Havia um homem lá, meditando. Era moreno, tinha a idade de Daniel, de cabelo raspado.
– Quem é esse? – Rhaine perguntou baixinho. Ela notou que Daniel já estava fumando outro cigarro.
– Rithe. O desalmado. – ele olhou sério para o homem à sua frente. – Ele tem pactos com todo tipo de criatura que você possa imaginar.
Rhaine olhou para Rithe, imaginando porquê Daniel ainda não o tinha tirado do seu transe. Até que ela ouviu uma voz forte retumbar:
– Você não pode fumar aqui, Daniel. – Mas o homem à sua frente não tinha movido os lábios. Agora ele estava de olhos abertos, olhando para eles.
– Sério? Pensei que não fizesse diferença, com todos esses incensos.
– O que você quer?
– Algumas informações. O que os esnobes têm aprontado? Algum pacto novo com humanos? Ou um plano secreto... o que você está sabendo?
– Os Anjos estão quietos há anos. Eles nunca mais se intrometeram com humanos.
– Você está enganado. Eles estão tramando alguma coisa e você sabe o que é.
– Daniel, você se mete demais onde não é chamado. E quem é essa? Está dando uma de babá agora?
– Eu vou voltar, Rithe. E vou querer respostas.
Daniel se virou e saiu, seguido por Rhaine.
– Eu não gostei dele. – ela disse. – Ele ficou me olhando.
– É, ele tende a fazer isso. Mas ele é o nosso único contato com os esnobes, e de vez em quando é útil.
– E pra onde vamos agora?
– Bem, o contato angélico já foi. Agora é o outro lado.
Quando eles saíram do prédio, ela olhou para o céu, parando de andar. Daniel também parou.
– Que...
– Eles estão vindo. – ela falou num tom que não era da Rhaine normal, e não era o anjo dentro dela que havia se manifestado antes. Devia ser o demônio.
– E quem são eles? – ele perguntou, só pra ter certeza. Ela olhou para o céu, com olhos vagos, e apontou.
– Os outros.
– Ah, que merda. – Daniel falou ao ver os anjos vestidos de preto, em pé no alto dos prédios. E alguns já estavam no chão, andando na direção dos dois.
– Acho que eles te querem de volta. – ele falou antes de entrar no carro com Rhaine e acelerar. Alguns anjos tentaram atacar o carro, mas ele foi mais rápido e conseguiu fugir.
– O quanto mais cedo eu descobrir o que há com você – ele falou a Rhaine. – será melhor para mim.
Ela olhou assustada pra ele. Tinha voltado a ser ela mesma.
– Você vai continuar? – perguntou.
– Claro. – ele olhou pra ela e deu um meio sorriso, com cigarro novo nos lábios. Ela se sentiu segura. As vozes estavam ficando mais altas, e agora até conseguiam sair, quando ela enfraquecia. Mas o que elas falavam na sua cabeça é que a deixavam fraca.
"Você não é nada além de uma concha. Apenas isso. Vazia, oca. Uma concha. Você não é nada, é apenas o meu transporte. Logo você cairá, e eu retomarei o meu posto." – o anjo dizia.
"Não adianta resistir. Não negue a sua natureza demoníaca, apenas se libere. Nós seremos tão fortes juntos quanto o Caído. Poderemos nos livrar dessa doença mesquinha que nos infecta, que nos impede de sermos o que fomos destinados. – o demônio falava".
"Vocês são fracos" o anjo dizia. "A concha não poderá ser violada. Você é apenas uma concha, oca".
Vazia.
Nada. Você não é nada.
***  

Angelus DaemonicusWhere stories live. Discover now