– Abominação! – ela pulou em pé, os olhos azuis em chamas. – A concha...
– É, ela tem esse negócio de concha. Ignore. – Daniel falou a Eddie. – Rhaine, me escute agora. O corpo é seu, a mente é sua. Venha logo, esse anjo dentro de você já está me irritando.
Ela olhou pra ele com os olhos arregalados, e então mudou.
– Daniel... – falou com a voz fraca. – Ele falou coisas na minha cabeça... o anjo. Disse que eu não sou nada, que eu sou vazia, e logo eu iria ceder... O demônio também quer que eu desista... Eu não agüentei, eu...
– Calma. Este é Ed, um amigo. Ele vai te ajudar a manter o controle. Eu vou ter que fazer uma coisa, mas ele vai cuidar de você.
Rhaine concordou com a cabeça. Daniel falou com Ed discretamente.
– Pensando melhor, aprofunde-se na história da concha. Acho que é um caso de auto-estima. E... eu posso usar a sua Sala?
– O que você vai fazer?
– Jogar pedras em algumas janelas e ver quem abre.
– Tá, mas não fume lá dentro.
Daniel fingiu não ouvir enquanto entrava na Sala Ritual e fechava a porta.
***
Todo mago tinha uma Sala Ritual, para fazer as suas coisas. A de Ed era vasta, com algumas poucas estantes de livros, uma TV e um espaço no meio da sala para os rituais.
Daniel botou a maleta de couro no chão e a abriu. Desenhou o círculo e o pentagrama com o pincel embebido no sangue de 7 demônios, mais outros símbolos. Botou as 5 velas nos seus lugares e economizou nas palavras.
– Ei, vocês aí embaixo. Quem estiver ouvindo. Vocês sabem quem eu sou. Vamos conversar.
As chamas das velas tremeram, e uma voz soou.
– O que você quer, Pryde?
– Olá, Amaduscias. Eu quero informações. O que vocês sabem sobre Rhaine?
– Ah sim, você está tomando conta dela. Ela é preciosa.
– Não enrola. Eu quero saber porquê os anjos estão atrás dela, e que merda era aquela naquela sala.
– Um mago não reconhece um ritual quando o vê? Nós não sabemos muito a respeito dela, apenas que ela tem a ver com os anjos. Você sabe como é política.
– Ela é híbrida. 20% sangue demoníaco, 40% humano e 40% angélico. Algo me diz que os Esnobes estão aprontando.
Silêncio por uns momentos.
– A garota é um perigo para nós, demônios. Mate-a. – A voz retumbou.
– Primeiro, eu não trabalho pra vocês. E segundo, eu não posso.
– Porquê não?
– Ela é uma cliente.
– Não importa. Ela tem sangue demoníaco, contendo nossas fraquezas e segredos. Você não pode deixar os anjos tocarem nela.
– E o que tem dentro dela? Pela parte de vocês? Está querendo sair, e isso não é educado.
– Se ela liberasse o demônio interior, seria muito melhor pra ela. E o mesmo vale para você, Aethe.
– Eu não voltarei nessa discussão. Eu já fiz a minha decisão. – Daniel falou mal humorado. – Então, aquilo era um ritual... – divagou.
– Leve ela lá e veja o resultado.
– Certo.
***
Ele sempre saía desses rituais acabado. Saiu da Sala e foi para a sala de visitas acender um cigarro. Ed e Rhaine estavam lá.
– Você pode vencer os seus medos. Dentro de você há um coração, há uma alma. Você é apenas você, não deixe ser levada pelas vozes. Você é mais forte que eles.
– Você devia escrever um livro. – Daniel falou, encostado na parede, acendendo um cigarro. Ed e Rhaine olharam pra ele.
– Daniel! – ela sorriu. – Eu estou aprendendo. Eu sou mais forte que as vozes.
– E não é isso que eu tenho dito pra você todo esse tempo? Quando é um garoto da sua idade quem fala, aí você acredita. – ele gracejou.
– Isso soa como se você estivesse com ciúmes. – ela sorriu.
– Talvez eu esteja. – ele sorriu, deixando as presas à mostra.
– Você está horrível. – Eddie falou. – E eu tenho 20, não 15. Eu não sou da idade dela.
Rhaine também notou que apesar do sorriso, Daniel estava mais pálido e cansado do que quando tinha entrado naquela sala.
– Ossos do ofício. Ela já está pronta?
– Eu estou. – ela falou, de queixo erguido.
– Ótimo. Então vamos.
– Daniel, uma palavra. – Ed chamou, coçando a cabeça.
– Tá. Rhaine, vá para o carro. Eu não vou demorar.
– Tá. – ela saiu, toda sorridente. Daniel se virou para o amigo.
– Qualé o caso? – Ed perguntou. Segurava um copo de uísque.
– Que caso?
– Porquê você resolveu lembrar da sua humanidade por causa de uma menina de 15 anos?
– Eu devo isso a ela. E também, eu dependo dela. Aliás, todos nós, até você.
– Quê? Como assim? – Ed levantou uma sobrancelha.
– Nada. Apenas uns palpites meus.
– Daniel, você não é o pai dela. – Ed avisou quando Daniel estava indo embora. Este se virou.
– E daí? – falou antes de sair e entrar no carro.
***
Alguns minutos dirigindo por Londres, e eles estavam estacionando na frente do prédio abandonado caindo aos pedaços. Mesmo de dia o lugar ainda parecia demoníaco. Daniel pegou a sua arma e carregou com um pente de balas transparentes, preenchidas com um líquido escuro.
– Sangue de alguns Caídos originais. Letal contra anjos mais jovens e fracos. Faz um bom estrago contra os intermediários, e é um pé no saco dos mais velhos e fortes. Não me pergunte como eu consegui.
Eles saíram do carro e ficaram parados na rua, olhando para o prédio. A cauda de Daniel balançava impacientemente, e ele cutucava os caninos avantajados com a língua. Nem estava fumando, para não alertar qualquer anjo que estivesse por perto. Rhaine, ao seu lado, também estava tensa. Ela tinha as mãos escondidas pelo casaco de malha dentro dos bolsos da calça jeans. Daniel tinha emprestado as duas roupas.
– Tem alguém indesejado aí? – ele perguntou à garota.
– Eu não sinto nada. – ela respondeu olhando para o prédio.
– Então vamos.
Eles entraram e subiram as escadas podres até o segundo andar. Seguiram o fedor até a sala. O sangue estava seco, e os corpos já estavam se decompondo. Daniel suspirou, irritado.
– Bem, nós temos que tirar essa gente toda daqui, e procurar vestígios de qualquer ritual. Se eu souber qual foi usado, facilitará muito a investigação. E você vai me ajudar. Está se sentindo bem?
– A primeira imagem que eu vi na vida foi essa. Eu agüento qualquer coisa.
– Certo. Então me ajude a pegar aquele ali. – ele apontou para um humano. – Daremos mais atenção aos anjos e humanos. Você fica com os pés.
***
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Angelus Daemonicus
ParanormalDaniel Pryde, investigador paranormal, encontra em um prédio abandonado a pessoa que muda a sua vida faz com que ele seja forçado a fazer uma decisão que o mudará para sempre.