Leslie

Capítulo 11

Quando tocou a aula, fui direto para a lanchonete e o Adam já me esperava lá, em uma mesinha perto da porta. Me sentei, e ele já começou:
--- Qual parte de "Eu sou apaixonado por você" que eu falei aquele dia, você não entendeu?
--- É apaixonado por mim e gosta da Maggie? Muito conveniente da sua parte! --- eu disse com sarcasmo.
--- Leslie, o que eu sinto pela Maggie não chega nem perto do que sinto por você! Por que é tão difícil entender isso? --- ele pronunciava essas palavras com clareza e parecia ter certeza daquilo.
--- Então se imagine no meu lugar. Imagine o Josh. Pense que eu sou apaixonada por você, embora eu também goste do Josh. Será que isso seria fácil pra você?
Ele parou um instante, tentando disfarçar a minha razão.
--- Se você fosse realmente apaixonada por mim e apenas gostasse um pouco do Josh seria fácil esquecê-lo.
--- Vai ser fácil esquecer a Maggie?
Ele fez, então, uma pequena pausa, buscando uma resposta.
--- S-Sim!
--- Isso que sente pela Maggie teria a capacidade de me esquecer?
--- Não! Se tivesse, eu não estaria insistindo.
--- Adam, não da para esquecer a Maggie se somos todos amigos e sempre convivemos juntos!
--- Vai sim! Se você me ajudar.
--- Mas acontece que... Eu já disse pra ela. --- eu confessei com uma cara meio triste.
--- O que você disse pra ela?
--- Que você gosta dela. E que eu deixaria o caminho livre pra vocês dois.
O Adam fez uma cara de chateado e parece que dizia "Droga" mentalmente.
--- Então... Eu esclareço pra ela... Sei lá, a gente da um jeito! Mas Leslie, por favor! Não me deixa! --- ele me pediu com uma voz controladora que não dava para ignorar.
--- Tudo bem... --- eu disse com um sorriso triste no meu rosto.

Então, eu segui o caminho de volta para casa, pensando nas palavras do Adam e na Maggie. Não sabia se nossa amizade continuaria a mesma se eu contradizesse as minhas palavras e ficasse com o Adam. Quando cheguei em casa, a sala estava praticamente vazia e havia uma mala perto da porta. Meu pai, que estava na cozinha, veio em minha direção e começou a explicar:
--- Leslie, que bom que chegou! Arrume suas coisas, nós vamos para o Rio.
Eu não acreditei e pensei que fosse uma brincadeira.
--- Como assim?
--- Você sempre quis se mudar e... Agora chegou sua oportunidade! Eu perdi meu emprego e infelizmente não da mais para pagar o aluguel dessa casa. Você não conhece, mas tem um tio no Rio, o meu irmão, ele vai conseguir um emprego para mim. Agora se apresse, temos que sair antes das 14:00h. Sua mãe foi buscar uma mala emprestada, ela já vem.

Era verdade! Mas não podia ser, aquilo não podia ser real! Eu ia para o Rio, ia sair daquele lugar que eu tanto queria sair antes do ano letivo começar, mas que agora não queria ir embora. Não podia ficar longe do Adam e da Maggie! Principalmente do Adam.
--- Mas pai! Eu não quero ir, agora eu tenho amigos aqui, algo que eu nunca tive antes!
--- Eu sei, Leslie! Mas as coisas nem sempre acontecem como queremos. Eu também não queria perder o emprego, mas perdi. Você não quer ficar longe dos seus amigos, mas lá você vai conhecer gente nova e vai ter amigos, não se preocupe!
--- Mas e se eu não me enturmar? Como todos os outros anos aqui. Além disso, mesmo se eu ter amigos lá, eles não vão ser os mesmos daqui!
--- Leslie, Leslie! Existem muitas coisas a aprender nessa vida. Não tenha medo das mudanças, tenha medo da ausência delas!
A frase que meu pai acabara de falar era interessante! E eu sempre achei que não, mas agora eu vi que eu realmente tinha medo de mudanças! Talvez eu fosse gostar do Rio, mas eu não podia ficar longe do Adam, eu precisava dele! Agora que eu estava finalmente feliz, aquilo tinha que acabar? Não podia ser.
Logo minha mãe chegou com uma mala, na qual deixou no meu quarto e me ajudou a colocar minhas roupas. Coube todas na mala, mas não cabia as minhas coisas. Lembrei de uma bolsa velha que eu tinha guardado no meu guarda-roupas e a usei para guardar tudo o que tinha na minha penteadeira. Por último, estava o meu velho batom rosa claro que me fez lembrar do primeiro encontro do nosso trio: eu, Adam e Maggie. Então, o coloquei na minha bolsa. Olhei no relógio da sala e ainda era 13:00h. Ainda dava tempo de me despedir do Adam e da Maggie. Fui correndo até a casa do Adam e, por sorte, ele estava no banquinho da calçada. Ficou surpreso ao me ver.
--- Adam, eu sinto muito, de verdade, mas você vai ter que me esquecer. --- eu disse com a voz cansada de tanto correr.
Ele me olhou assustado e sem entender, então eu prossegui:
--- Eu e meus pais vamos nos mudar para o Rio, pois meu pai perdeu o emprego e teremos que ir para lá. --- eu disse com a voz já embargada e começando a chorar.
--- O quê?
--- É isso mesmo!
--- M-mas... Como assim, você não pode ir!
--- Eu não quero ir, mas é o único jeito! --- eu já estava chorando ali na frente dele. Aquela foi a primeira vez que ele me viu chorar.
--- Mas Leslie! Eu não posso ficar longe de você!
Essas palavras me fizeram chorar ainda mais e, sem pensar, eu o beijei enquanto chorava. Aquele foi o meu segundo beijo. O melhor e mais triste beijo. Foi tão intenso que não podia acabar nunca! Mas o pior, é que era um beijo de despedida. E, embora eu jamais desejasse, era o meu último beijo com o Adam.
--- Adam, eu amo você!
--- Eu também te amo, Leslie! --- percebi que uma lágrima também saiu dos olhos dele. --- Me espere aqui! --- ele disse entrando em sua casa.
Não demorou, e quando voltou, trazia um embrulho em seus braços.
--- É um presente! Abra quando... Chegar lá, em sua nova casa.
--- Tudo bem! Obrigada.... Eu... Não trouxe nada, mas... --- tirei, então, meu colar do pescoço. Ele tinha um pingente de coração com as letras L e A. --- Isso quer dizer Los Angeles, mas finge que é Leslie e Adam. --- eu disse rindo com uma cara meio triste.
--- Perfeito. --- ele riu, também com a cara triste. --- Me liga quando chegar e... Sei lá, mantenha contato sempre!
--- Pode deixar! --- eu disse o abraçando. --- Agora eu vou me despedir da Maggie rapidinho, tenho que sair às 14:00h.
--- Boa viagem!
--- Obrigada!

Então eu saí dando uma última olhada naquele garoto de cabelos longos que tinha ganhado meu coração.
Já na casa da Maggie, eu expliquei tudo a ela e ela também ficou surpresa e muito triste.
--- Vou sentir sua falta!
--- Eu também!
Quando já eram 13:50h, voltei correndo para casa, trazendo o embrulho que o Adam me dera. Coloquei-o na minha bolsa, com uma tentação que me pedia para abrir. Mas não ia fazer isso, ia manter a promessa. E olhando para o meu quarto praticamente vazio, desta vez, literalmente, vi que ainda faltava pegar o violão. O olhando, percebi que as cordas cantavam notas que me pediam para tocar. Então, fui até a sacada e sentei-me, começando a melodia que enchiam a minha mente de pensamentos e meu coração de sentimentos.