Leslie

Capítulo 15

Na semana seguinte, parecia que o Lennon estava tentando me evitar. Isso me lembrava de quando eu tentei evitar o Adam. Parecia que as coisas estavam se repetindo, só que com os papéis trocados. Mas o que me deixava mal, principalmente, era a imagem do Jake que me vinha na cabeça toda hora. Acho que estava gostando dele. E quando a gente trocava olhares na hora do intervalo, meu coração acelerava. Quanto ao Adam, eu queria esquecê-lo, mas, ao mesmo tempo, temia que isso acontecesse. Principalmente pelo fato de ele ter me pedido para isso não acontecer. Ele tinha me prometido que não se esqueceria de mim. Mas talvez ele tivesse com a Maggie agora e, pensar nessa possibilidade me deixava mal.
Na saída, o Jake veio falar comigo. Ele parecia meio tímido.
--- Leslie.
--- Oi!
--- Aa... Você já falou com o Lennon? Pediu desculpas?...
--- Sim! Ele disse que tava tudo bem!
--- Ah! Que bom...
--- É!
--- Me desculpa por aquele beijo... Eu... Não pensei no que poderia acontecer...
--- Não...Tudo bem! Não foi sua culpa...
Ele olhou para baixo, como se procurasse algo para falar.
--- Err... Aquilo... Significou algo pra você?
Eu fiquei surpresa e não sabia o que responder, embora houvesse sim significado algo pra mim.
--- Eu sou um idiota! É claro que não significou nada... Olha, esquece essa pergunta, ta? Eu... --- ele disse.
--- Não, na verdade... Eu acho que significou sim! Porque, pode ser idiota o que eu vou dizer, mas fiquei pensado em você no resto daquela noite.
Ele me olhou surpreso com a resposta.
--- É sério?
--- Sim!
Um carro preto parou perto de nós e alguém dentro dele nos interrompeu:
--- Jake, venha!
Ele voltou o olhar para o carro e, depois para mim de volta.
--- Ah, desculpe! Meu pai veio me buscar! Amanhã nos vemos, ta?
--- Claro!
--- Tchau! --- ele falou me dando um abraço confortável.
--- Tchau!

Talvez ele fosse dizer que também ficou pensando em mim naquela noite, uma pena que o carro houvesse chegado bem na hora. Voltei para casa, sem tirar o Jake da minha cabeça.
Passei a tarde toda ajudando minha mãe a colocar um papel de parede novo na sala. Depois fui para o meu quarto, ouvir um pouco de música e deixar os pensamentos tomarem conta de mim. Era como se cada música me dissesse algo. Olhando para aquele ambiente, vi o skate escorado na parede azul. Tinha que ser o skate do Adam. Tinha que ter algo azul. Meu coração estava dividido. Me sentia meio culpada por estar começando a gostar de outro cara, mas, se eu não ia mais ver o Adam, como eu não ia gostar de outro? Eu poderia me envolver com alguém sem esquecer do Adam, isso não era um problema. O Adam sempre ia ser o meu primeiro amor.

Passado algumas semanas, no sábado, lá estava eu, no meu quarto, com insônia, enquanto meus pais já dormiam. Já era umas 22:00h e eu ainda não tinha pegado no sono, tendo ido pra cama desde às 21:00h. Mil pensamentos iam e vinham, fazendo minha cabeça doer e afastar, ainda mais, o sono. Senti que algo se aproximava da janela, fazendo uma sombra. Arrepiei o corpo inteiro de medo e me enfiei de cabeça, debaixo do cobertor, implorando para ser só um galho de árvore.
--- Psiu!
Não era um galho. Era alguém. Eu não sabia se olhava, ou se apertava os olhos tentando dormir e fingir que era um pesadelo.
--- Psiu!
Quando chamou pela segunda vez, eu resolvi olhar. Não era uma assombração. Era o Jake. E eu acho que preferia que fosse uma assombração. Jake estava na minha janela, às 22:00h.
--- Desculpe se te acordei. --- ele disse baixinho para não acordar mais ninguém, embora minha porta estivesse fechada.
--- O que você ta fazendo aqui? --- eu perguntei assustada, me cobrindo com o cobertor para não mostrar meu pijama.
Ele pulou a janela e se sentou aos pés da minha cama.
--- Desculpa! Não consegui dormir. Tive um pesadelo com você e temi que não estivesse bem.
--- Aa... Eu estou bem!
--- Que bom!
--- Não podia ter esperado amanhecer?
--- Não deu! Eu te acordei, não é?
--- Não, eu... Estou com insônia.
--- Então somos dois. Eu costumo sair quando o sono não vem.
--- Pra onde?
--- Posso te mostrar se vir comigo!
--- Quê? Eu não posso... Você sabe que horas são?
--- Sei... Mas é só hoje! Não vai se arrepender!
Eu não podia sair aquela hora sem meus pais saberem. Mas algo em mim me pedia para ir. Uma aventura. Algo que fazia falta em minha vida. Não poderia recusar, embora para mim, fosse loucura.
--- Quer saber? Você tem razão!
--- Sério? Você vem? --- ele disse, animado.
--- Mas... Eu não posso ir assim... É...
--- Ta meio frio lá fora. Eu aconselho uma calça e um casaco.
--- Ah! Okay.
Ficamos olhando um para o outro sem falar nada. Eu fiz um gesto como que dizendo para ele sair.
--- O quê?
--- Eu não vou me trocar na sua frente, não é?
--- Pra mim não seria um problema!
Eu fiz uma cara feia pra ele e ele sorriu.
--- Estou brincando! Vou esperar ali fora.
Ele saiu e eu fechei a janela, por precaução. Vesti uma calça meio rasgada, uma blusinha branca e um casaco. Coloquei umas almofadas na cama e as cobri com o cobertor, para o caso de meus pais irem me ver. Pulei a janela e fui com o Jake. Nós andamos até um muro. Eu esperava que ele fosse me levar para algum lugar diferente e mais legal. Mas havia simplesmente um muro perto de uma árvore.
--- Chegamos? --- eu perguntei.
--- Sim!
Só então eu percebi que ele havia levado uma mochila, na qual a abriu e tirou dois spray's e dois papéis grandes. Me entregou um dos spray's e um dos papéis que estavam dobrados. Ele, então, abriu o papel que estava com ele e o posicionou no muro. Havia um desenho recortado. Tirou da mochila, uma fita que usou para colar o papel no muro. Pegou o spray e passou por cima do desenho. Quando tirou o papel, eu vi o grafite perfeito que ficou no muro.
--- Wau! --- eu falei.
--- Quer fazer?
--- Claro!
Então ele colou o papel que estava comigo, no muro. Eu peguei o spray e o imitei. Depois, ele tirou o papel. O meu desenho era um coração com uma flecha e, o dele era uma guitarra.
--- Espertinho, ficou com o melhor desenho.
--- Então, da próxima eu te deixo com o melhor!
--- Que próxima?
--- Não terá próxima? --- ele sorriu.
Eu sorri de volta e ficamos ali parados, sem dizer nada, só olhando um para o outro. Ele era lindo. Seus cabelos estavam bagunçados e um pouco suados. Ele vestia uma roupa preta, assim como a minha.
--- Não é proibido grafitar aqui?
--- Não sei. Mas aqui tem uma árvore que dá pra subir no muro por ela.
--- E daí?
--- Se a polícia aparecer.
--- E o que tem do outro lado?
Ele andou até a árvore e subiu nela até ficar sentado no muro.
--- Sua vez.
Eu resolvi fazer o mesmo. Depois, nós pulamos. Era um lugar lindo, com árvores por toda parte e um gramado.
--- Wau! Esse lugar é seu?
--- É o terreno que meu tio comprou quando eu era criança. Sempre brincava aqui.
Ele me mostrou uma árvore com um coração desenhado ao redor de duas letras:  J e M.
--- Fiz isso quando criança. Eu e Marie sempre brincamos aqui. Digamos que ela foi meu primeiro amor.
--- É a sua ex namorada?
--- Sim. --- ele disse meio triste. --- Mas nesta árvore aqui --- ele apontou para a árvore ao lado. --- eu gostaria de escrever as iniciais do meu segundo amor: J e L.
Senti meu coração disparar e minhas bochechas corarem ao ouvir aquilo. Jake, então, se aproximou ainda mais de mim e me beijou. Temi que aquilo fosse um sonho. Mas felizmente não era. E, naquele beijo, eu não senti o Adam. Eu senti o Jake. Era incrível estar com ele. Naquela noite, eu agradeci por não ter ficado em casa. Seus lábios se afastaram dos meus, enquanto seus olhos brilhavam. Eu não queria ir embora, mas o dia estava quase amanhecendo.
--- Jake, eu acho que... Tenho que ir embora.
--- Tudo bem! Eu te levo.
Ele me levou de volta até minha casa e, chegando na janela do meu quarto ele disse:
--- Desculpa por ter roubado sua noite.
--- Foi minha melhor noite!
Ele sorriu pra mim e me abraçou.
--- Então, quer dizer que terá próxima?
--- Talvez!
Eu pulei a janela e disse "Tchau", então ele foi embora. Eu troquei de roupa e deitei na cama, sem tirar aquele beijo da minha cabeça.