Leslie

Capítulo 5

A primeira semana de aula se passou e eu estava finalmente me enturmando. Eu sentava perto de Maggie, que na verdade, era a garota ruiva, e Cloe, uma menina de cabelos pretos e lisos que morava na minha cidade, mas nunca tinha estudado com ela antes. As duas eram legais, o que me deixou feliz. Eu não conversei com o tal garoto nenhuma vez, mas tinha descoberto seu nome: Adam. Foi Maggie quem me disse, não sabia se ela ouviu na chamada ou já sabia.
--- Maggie, você e o Adam se conhecem?
--- Na verdade não, mas uma amiga me disse seu nome. Ele é um gato, não acha?
--- Aa... Sim!
Então Maggie também achava o Adam bonito. Isso me deu um ciuminho bobo por dentro, e me perguntei se ele preferia cabelos ruivos ou castanhos. Desejei que fosse castanhos. Esses pensamentos me fez rir de mim mesma.

Passei a tarde inteira tentando tocar uma música nova no meu violão. Algo que me fizesse tirar o Adam da cabeça por uns minutos, mas era inútil, até por quê música só fazia me lembrar ainda mais do que eu queria esquecer. Não que eu quisesse esquecer o Adam. Pelo contrário, eu gostava de pensar nele, eu gostava de ter alguém para pensar, embora o Adam fosse o primeiro cara que eu gostava.
A porta do meu quarto se abriu e minha mãe entrou trazendo duas xícaras de chocolate quente. Ela sempre fazia isso quando queria conversar comigo. Minha mãe sempre sabia se eu estava triste, se eu estava me sentindo sozinha e até, se eu estava gostando de alguém.

--- Oi, filhinha. Não adianta negar, vai ter que contar. Quem é o gato?

Eu dei um sorrisinho surpresa e meio sem entender.
--- Quê?
--- Qual é? Vai se fazer de desentendida? Você não está se arrumando mais para a escola e tocando violão a tarde toda a toa. Você está gostando de alguém, não é?
--- Ta bom, ta bom! Tem um garoto novo na escola que...
--- Eu sabia! --- ela me interrompeu.
--- Mãe! Não é bem assim... Ele é bonito e só isso... Eu não estou gostando de ninguém.
--- Não precisa esconder, querida! Quando eu tinha a sua idade eu também gostava de um menino e...
--- Mãe! Eu não estou gostando dele... Achar bonito não é gostar.
--- Tudo bem, quando você se convencer, me conte. Até mais. --- Ela disse sorrindo e saindo do quarto, me deixando sozinha com meu violão.

Na semana seguinte, a professora de português formou duplas para o trabalho, ela sorteava os nomes das duplas em vez de nós escolhermos. Eu torci para ser sorteada com a Maggie.
Pegando os papéis recortados da mesa e abrindo, ela ditava os nomes das duplas:
--- Alex e Mary... Cloe e Ellie... Maggie e... --- Na minha mente eu falava "eu, por favor, eu" --- ... E Julie...
"Droga", eu pensei.
--- Leslie e... Adam...
Adam. ADAM! Eu e o Adam! Eu fui sorteada com o Adam. Meu coração quase parou e eu olhei para ele. Ele estava me olhando e sorriu. Fiquei gelada, mas retribuí o sorriso.

--- Formem as duplas sorteadas. Vocês vão sair e procurar um lugar aqui no colégio, pode ser o pátio, a cantina, o jardim, enfim. E vão descrever o lugar da melhor forma possível.

O Adam veio em minha direção, o que me fez ficar paralisada, e sentou na cadeira que a Maggie estava sentada antes de se sentar com Julie.
--- E então, pra onde vamos?
A voz dele era suavemente grave e bonita.
--- Não sei... Que tal pro jardim?
--- Ótima escolha! --- ele disse com um sorriso.
Fomos para o jardim da escola e nos sentamos em um banquinho. Ele levou o caderno e eu levei uma caneta para descrevermos o lugar e, sem me consultar, começou a escrever. Depois de umas cinco linhas, me entregou seu caderno e perguntou se eu queria terminar. Eu disse que sim e comecei a escrever. O jardim tinha dois bancos, um gramado meio falhado com várias flores e um caminho de cimento até o portão do pátio.

--- Você sempre morou aqui?
--- Aa... Sim. Quer dizer, desde os meus 8 anos... E você?
--- Não, eu vim no começo do ano.
--- Ah!

Voltamos pra sala e o sinal tocou.
Depois daquele dia fiquei agradecida pela professora ter sorteado as duplas em vez da gente ter escolhido.