Um encontro com Calleb

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      Eu preciso me acalmar, é isso.        caramba é só um encontro e nada de tão esplendoroso assim. vai ser como aquela vez que você encontrou o idiota do Andrews naquela balada na casa do safado do Marcus, falei comigo mesma, mas à medida que as horas avançavam, mais meu estômago se virava contra mim.
     Minhas mãos suavam frias e eu passei a brigar mentalmente com meu relógio. Daniels chegou meia hora depois, pulando de alegria e querendo saber dos mínimos detalhes; Só que eu estava bêbada e nem nos meus melhores sonhos eu iria me lembrar que passei pra ele meu telefone. Então precisei que ele refrescasse a minha mente.
    Daniels nem sabia como nos dois voltamos para casa, estava muito pior do que eu, só o que ele podia afirmar é que quase aconteceu ali mesmo, na pista de dança. Fiquei completamente perplexa com esse meu comportamento.
     —Ratchel, ele apertou sua bunda!— Daniels disse arregalando os olhos.
     — Sério que eu deixei isso?— Meu rosto queimou. Com que cara vou olhar pra ele agora?
      — Você deixou. Você deixou e ainda pedia mais!
     Odiei ter bebido tanto.
     — Mas se ele quer te ver é um bom sinal, né, querida.
      Pode ser também.
     — Você acha melhor eu me desculpar?— Perguntei com o rosto em chama e uma culpa horrível pairando na minha cabeça.
     — Precisa não. Talvez ele nem se lembre.
     Ele abriu sua bolsa de carteiro enorme e tirou um vestido lindíssimo cor de avelã e jogou para mim. Incrivelmente me apaixonei por ele de imediato e o bom que é sob medida pra mim. Obrigada mundo por conspirar ao meu favor uma única vez nessa vida.
     — Se o Hugo sonhar que eu peguei esse vestido ele me mata, mas é por uma causa maior. Por favor, não cause nenhum dano a ele, esta bem?
     — Que tipo de dano eu posso causar em um vestido?
     Daniels estralou os lábios.
     — Você realmente quer que eu fale?
     Fiz que não com a cabeça e cai de costas no sofá.
      Calleb ligou de novo um pouco antes das 19 horas da noite, eu fui aos tropeços atender o telefone me sentindo uma sardinha dentro daquele vestido ultra apertado. Conversamos um pouco e eu lhe expliquei como chegar na minha casa, depois fui retocar pela quarta vez a maquiagem e olhar o meu rosto no espelho. Eu estava um pouco menos ousada que ontem, resolvi prender o cabelo em um coqui perfeito bem no alto da cabeça, deixando apenas uma mecha que insistia em ficar solta. Verifiquei o decode e me assustei com o tamanho dos meus seios, pareciam que eles finalmente estavam encontrando a liberdade. A campanhia tocou e no mesmo instante meu estômago começou a resmungar.
     — Calminha Ratchel é só um encontro.
     Consegui com muita dificuldade controlar a minha respiração, abaixei o vestido um pouco mais e ensaiei um sorriso. Abri a porta.
       — Você!— Exclamei.
      — Sim, eu.
     Andrews me olhava com cara de idiota ( não que ele já não fosse um idiota).
      — O que está fazendo aqui?
     Ele respondeu a minha pergunta com muita naturalidade.
      — Vim ver se estava falando a verdade e uau! Tudo isso é pra um encontro?!
     Revirei os olhos.
      — Por acaso é da sua conta?
     Nos encaramos severamente por um longo tempo.
     — Agora que já veio ver o que tanto queria, poderia por favor sumir daqui?— Ordenei sem me dar o trabalho de ter educação.
     — Tudo bem, tudo bem. Se divirta no seu encontro.— Disse, na defensiva.
    Assim que saiu, bati a porta com força. Enfurecida com ele. Quem Andrews pensa que é? Não tem nada que vir aqui, era pra estar lá na sua casinha de praia com sua amada e me deixar em paz. Idiota. Idiota. Mil vezes idiota!
     A campanhia tocou outra vez e eu levantei furiosa, jurando pra mim mesma quebrar todos os dentes dele. Abri a porta num rompante e disparei:
     — Vá à... Calleb!— Sorri, envergonhada.
     Calleb olhou para mim com um sorriso enorme, fazendo covinhas em suas bochechas.
     — Esperava por outra pessoa?— Ele quis saber, com a voz calma e vibrante.
     Fiz que não.
     — Vamos indo?— Sugeriu, com toda a sutileza.
     — Vamos.
     Pegou em minha mão e me guiou até o carro estacionado ao meio fio.
     — E aliás, você está muito linda.
     Corei com aquele elogio, a tempos não sabia o que era ser elogiada por alguém que até tinha me esquecido.
     — Obrigada.
     Calleb foi super cavalheiro, abriu a porta do Mercedes preta e reluzente, ligou o som em uma música suave e conversamos o caminho inteiro sobre diversos assuntos. Nunca me senti tão confortável em ser eu mesma. Assim que se aproximamos, ele estacionou em frente a um barzinho antigo, todo revestido de madeira e com uma placa de aberto pregada na parede, segurou em minha mão para que eu descesse do carro e me conduziu para dentro.
     O lugar é bem mais sugestivo por dentro do que por fora, não é nada extravagante, mas ainda sim muito bem conservado e limpo, quebrando da minha mente o lugar que eu imaginava.
     Na nossa frente tem uma fileira imensa de mesas e um assoalho de lineoleo, nas paredes quadros de cantores famosos e um palco. Entramos totalmente e eu notei o quão lustroso é o balcão, aonde um velho barbudo e bem humorado sorria em nossa direção. Calleb acenou e sentamos em uma das mesas mais proxima ao palco. O lugar estava moderado, não havia muitas pessoas por ali, a maioria, estavam no deck do outro lado.
    —E ai?— Ele perguntou— O que achou?
     Sorri, me sentindo deslumbrada tanto com o lugar quanto com a beleza dele. Parece que ambos competiam para ver quem iria ganhar. E Calleb disparou na frente.
    — Superou a minha expectativa.
    — E qual era sua expectativa?
    —Tudo menos isso.
     Ele gargalhou e pediu duas cervejas geladas para começarmos à noite e tudo indica que certamente nem lembrara do que aconteceu ontem. Bebiamos enquanto uma banda maneira de rock anos 80 começara a tocar e um pouco mais tarde descobri que era seus amigos. Calleb sabia ser a medida certa de homem que a tempos eu procurava e o mais importante, não é nem de longe um idiota.
    — Gosta de frango?— Quis saber.
    — Gosto. Por quê?
     — Porque hoje você vai experimentar a especialidade da casa: Frango no pote.
     — Frango no pote?— Achei diferente.
     — Sim— Ele ergueu a mão e o velho atrás do balcão veio em passos jongoso até a nossa mesa.— É uma especialidade da casa. São iscas de frangos grelhados com cheddar e temperos levemente apimentados. Você vai amar!
     Os dois se conheciam pelo grau de intimidade entre eles. Calleb apertou sua mão e me apresentou.
    — Essa é a garota que te falei Ratchel Daivison, ela derrubou vodka em mim.— Disse, com muita familiaridade e em seu tom de voz, havia traços de muita alegria. — Quero à moda da casa.
     Apertei a mão do cara e ele se virou logo após indo preparar nossos pedidos. Estava tudo maravilhoso e até então não tinha feito nada de errado. Conversamos um pouco enquanto esperavamos, ele queria saber tudo sobre mim e eu respondi, mas na maioria do tempo, Calleb passou a falar mais dele, o que pra mim foi bom porquê sou uma ótima ouvinte.
     Sabia que ele gostava de rock, de sair, de namorar e trabalhava em um escritório no centro, também descobri que estava cursando advogacia e que já morava a três anos em Nova York. Sobre mim, eu apenas lhe poupei de alguns detalhes.
    Nossos pedidos chegaram só que uma moça bem bonita e sorridente que veio entregar. Colocou um pote enorme no meio da mesa e alguns molhos em um potinho menor, saiu desfilando e eu quase fiz careta. O cheiro está otimo.
    — Experimenta um e diz o que acha.— Ele falou, pegando uma coxinha de frango grelhada de dentro do pote, passou em um dos molhos e levou na minha boca.
    Mordi. Mastiguei um pouco e convenhamos que o negócio é delicioso!
     —Então?— Esperou, ansioso.
     Uma explosão de sabores ocorreu na minha boca.
     — Muito bom!— Mordi mais um pedaço.
     — Sabia que ia gostar, ninguém resisti as especiarias do Donni.
     Tudo estava perfeito, parece um sonho. Mas... mas como sempre tinha que algo de ruim acontecer. Mordi mais um pedaço do frango e sorri ao olhar pra ele e pela fresta, sobre seu ombro eu vi bem a frente um babaca entrando de mãos dadas com uma loira, olhando para os lados e finalmente achando o que tanto procurava.
     O frango raspou minha garganta e meus olhos se arregalaram não acreditando no que eu via. Fechei minhas mãos em punho enquanto via Andrews vir em minha direção.
     — Ah, oi Ratchel.— Disse ele, sínico . Alice sorriu para mim.
     Sorri amarelo de volta. Calleb olhou sem entender.
     —Esse é o Andrews.— Quase rosnei, tentando disfarçar o quanto estava com raiva.— Um id... Meu irmão.
     Calleb se animou e cumprimentou os dois.
     — O que faz aqui, Andrews?— Perguntei, mantendo o sorriso para não explodir de ódio.
     — Acredita que Alice queria vir aqui.— Ele falou, com a cara de tapado de sempre.
     — Eu?— Ela indagou, olhando pra ele.
     Andrews fingiu que nem ouviu.
    — O lugar está cheio né...? Qual é o seu nome mesmo?
     Calleb sorriu.
     — Calleb Willians.
    — Belíssimo nome, viu Calleb.— Andrews está novamente usando de sua péssima irônia.— Não tem nenhuma mesa vaga.
    Eu já desconfiava do que Andrews está planejando. Fiz que não para ele, mas me ignorou com sucesso.
    — Se quiser, tem dois lugares vagos, pode se sentar conosco.— Falou Calleb, sendo simpático com quem não deveria.
    Andrews nem pensou duas vezes e arrastou a cadeira, se sentando do meu lado direito. Calleb fez outro pedido e a noite prometeu ser longa.
     Naquele momento, os dois começaram a falar de tudo, eu olhei para a Alice e notei o quanto fora do espaço ela estava, não consegui deixar de ser generosa, sorri de volta e peguei mais um frango assim que o pedido foi entregue.
    Até que o assunto naquela mesa mudou, Andrews resolveu que iria falar de mim.
    — Então Calleb, o que achou da minha irmãzinha?— Ele deu um tapa nas minhas costas e eu quase engasguei. De raiva, chutei sua canela debaixo da mesa.
     Calleb como sempre foi muito gentil.
     — Ela é uma mulher incrível!
     Andrews deu mais outro tapinha nas minhas costas.
     — Nem me fale, meu amigão! Ela é incrível mesmo! Mas acredite, que essa mulher incrível aqui tem seus defeitos, não é, irmãzinha.— Olhou para mim por um tempo, se divertindo da minha desgraça.
     Eu queria torce o pescoço dele até da um giro completo.
     — Dúvido muito disso.— Disse Calleb, um pouco desajeitado.
    O que quer que Andrews diga esta noite, ele será um homem morto!
    — Como irmão dela, eu preciso te alertar sobre algumas coisas. Ela fala dormindo.— E ele lentamente começou a assinar sua sentença de morte.— Mas não é aquilo fofo de se ouvir, ela começa a gritar como uma maluca.
    Dei uma risadinha nervosa.
    — É brincadeira do meu irmão, não é? Maninho?— Apertei, por debaixo da mesa, uma de suas pernas.
    Ele sussurrou um "ai", mas continuou destemido.
    — Ainda tem mais Calleb, essa menina aqui ronca igual um motor velho.
     Fiquei vermelha de imediato, sentindo um rubor queimar. Calleb gargalhou e Alice foi no embalo. Lancei um olhar mortal para ela, no mesmo instante parou.
    — Eu já disse que não ronco!
    — Ronca sim!— Andrews me encarava.— Ronca igual um motor velho! E tem mais Calleb— Voltou-se para ele.— Essa coisinha toda fofa e delicada é um ogro de vestido. Essa menina aqui é completamente porca!
    Aquilo foi demais. Fiquei de pé e o peguei pelo colarinho, pedindo licença e me levantando, puxando ele comigo. Trombei em algumas pessoas pelo caminho até à porta e não me desculpei com nenhuma delas, estava furiosa demais para ver qualquer coisa que fosse na minha frente.
     — Você pirou Andrews? Foi isso?— Gritei, empurrando ele pelo peito.
    Andrews tropeçou e caiu sentando no jardim. Ficou de pé e eu fui atrás dele.
    — O que pensa que está fazendo?
    — Você tem um acordo comigo, se lembra?
     — Eu vou te esfolar vivo, isso sim!
     Segurou minhas mãos antes que pudesse chegar em seu rosto.
     —Nem vem Ratchel, nem vem. Você tem um trato comigo, não pode me trocar por aquilo lá dentro.
     — Ele. Se. Chama. CALLEB!— Falei, pausadamente com tanta raiva que poderia grunhi igual um animal selvagem.
     Andrews ainda me segurava.
     — Se não parar com essas frescuras Andrews, eu juro que conto tudo pra Alice, entendeu? Conto pra ela que você só quer usa-la e depois jogar fora porque você não passa de um mulherengo!
     — Eu já te disse que mudei, Ratchel! E eu amo a Alice!
     — Ama tanto ela que é incapaz de conquista-la sozinho! Que grande homem é você Manglover!
     Ele me largou. Eu toquei em alguma de suas feridas e ele iria retribuir isso. Andrews colocou umas das mãos na cintura e com a outra ajeitou a sua gravata azul marinho de um lado para o outro.
     Ficou de costa para mim e proferiu as palavras mais crueis do mundo.
     — E quanto a você, heim, Ratchel Deivison? A mulher de quase meia idade que nunca teve nada sério com ninguém? Acha que com esse cara vai ser diferente? Acha que ele vai querer alguma coisa com você? É só mais um que vai te comer e jogar fora!
     Meu mundo desabou. Fiquei sem nenhuma reação e todo meu passado passou diante dos meus olhos. Realmente Andrews sabia humilhar e muito bem. Quando se virou de novo, com aqueles olhos verdes em brasas, senti um impulso de chorar e desabar ali mesmo como uma ótima perdedora que sou, mas não iria dar esse gostinho a ele.
     Apenas virei as costas e subi os degraus de volta para dentro. Ele me deteve, vendo a gravidade de suas palavras.
     — Desculpa, Ratchel, eu... Ratchel eu não queria.... Desculpa.
    Não estava mais com ódio dele e sim com pena de mim mesma. Eu sou uma idiota, sei bem e mesmo eu negando que Calleb não iria fazer isso comigo, uma voz gritava lá no fundo o contrário. Andrews está certo, eu nunca vou ter um relacionamento que preste, porquê nunca vou passar de um aperitivo.
     — Droga Ratchel, me desculpe!
     Levantei os olhos para ele outra vez e segurei firmemente as lágrimas, o empurrei para o lado e caminhei até a nossa mesa. Calleb notou a sútil mudança no meu humor.
     — Você está bem?— Perguntou.
     Alice também notou.
     — Quer beber uma água? O que você fez com ela, Andrews?
     Notei que ele estava atrás de mim e me esquivei para o outro lado.
     —Preciso ir embora.— Peguei a minha bolsa, sem ânimo nenhum para continuar ali com ele ao meu lado. — Você pode me levar?— Pedi, segurando o choro.
     Calleb de imediato se levantou e me conduziu outra vez para o carro, com o braço sobre o meu ombro. Andrews conseguiu estragar o único restinho de dignidade que eu tinha. Agora eu só quero a minha cama.
     Calleb dirigiu sem dizer nada ou perguntar mais nada, respeitou o meu silêncio. Estacionou em frente de casa e abriu a porta para mim.
     — Eu realmente não me importo pelas coisas que seu irmão disse, Ratchel.
    Queria dizer que ele não é nada meu. Segurou meu rosto com a mão e eu fiz biquinho implorando para mim mesma que não desabasse em lágrimas na frente de Calleb.
     — Eu ainda te acho a mulher mais incrível que já conheci na vida.
     Forcei um sorriso e ele selou um beijo na minha testa. Por um instante eu só queria desaparecer.

UM AMOR, POR FAVOR.Onde histórias criam vida. Descubra agora