Capítulo 4

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Naquela noite, a garota tentou camuflar a permanente sensação de que não estava sozinha e foi se deitar - com a luz do corredor acesa e o som e a TV ligados.

Exausta, conseguiu adormecer cerca de duas horas depois, mas seu sono não durou muito: por volta das 3 da manhã, despertou. O som estava ligado, mas a TV não - ela tinha esquecido da programação automática do timer. Ficou deitada no escuro de olhos abertos, com a respiração ofegante e a pele arrepiada. Antes que aquela escuridão a invadisse de novo, resolveu fechar os olhos e tentar dormir novamente. Quando estava quase dormindo, uma imagem não solicitada se formou na sua cabeça: o banheiro. Mas, desta vez, não estava vazio. No meio dele, em frente ao buraco do espelho, tinha uma espécie de vulto. O que parecia ser a cabeça da coisa estava abaixada e foi levantando aos poucos, até se virar para a garota e encará-la com olhos totalmente negros.

Ana subitamente abriu os olhos para afastar a imagem e, com a respiração ofegante, levantou da cama, disposta a acreditar que foi tudo fruto da imaginação dela. Pegou um romance bobo para se distrair e foi para o quarto, agora também com a luz acesa. Tentando ignorar o persistente clima sombrio, leu até o dia amanhecer, quando se levantou para trabalhar.

Durante a tarde, já no escritório, a garota fez o que pôde para esquecer a noite anterior, mas parecia que estava completamente dominada por aquilo. Olhava as pessoas à sua volta e se sentia em uma bolha, como se estivesse em descompasso com o mundo, em uma realidade paralela. Sentiu inveja da relativa normalidade em que os outros viviam e de seus problemas comuns.

Convidou Mario para almoçar, a fim de mais uma vez tentar convencê-lo. O namorado finalmente ficou preocupado, principalmente com as ligações feitas para a mãe de Ana, mas ainda

não crente que aquilo fosse obra do além - era mais provável que um maníaco estivesse atrás de sua

namorada. Combinaram, então, que ele dormiria com Ana por uns tempos, tanto para comprovar a

situação por conta própria quanto para não deixá-la sozinha.

Apartamento 134Onde histórias criam vida. Descubra agora